Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Almeida, «a estrela judaica de doze pontas» Voltar

O Jornal Fórum Covilhã foi, de «mochila às costas», conhecer Almeida, uma das localidades históricas da nossa região. Um autêntico mundo por descobrir, tão perto de nós e mesmo assim carregado de segredos ao virar da esquina, aliás, de todas elas

Um porto de abrigo para os que vieram

A vila de Almeida é um dos pontos mais místicos do nosso país, sendo que o principal motivo prende-se mesmo com a sua forma em estrela de doze pontas, mostrando a importância e força da influência judaica neste nosso território e ainda um dos melhores exemplares na Europa do sistema defensivo abaluartado, já a datar do século XVII. Vista de cima, Almeida é um verdadeiro palco de sonhos, a fazer sempre lembrar outros tempos e a parecer que acabou de sair de um filme ou série internacional em que se os espaços se moldam ao imaginário das histórias que se querem contar. É ainda, uma das últimas aldeias/vilas em Portugal que ainda consegue manter toda a sua fortaleza intacta e a circundar-se na totalidade, o que ainda aumenta mais o seu misticismo.

Existe ainda em Almeida, um pouco da história do mundo e dos seus momentos mais importantes, já que Almeida foi desde sempre uma porta de Portugal para o mundo, mantendo-se ainda hoje com esse papel principal, mesmo depois da chegada das viagens aéreas, com a fronteira de Vilar Formoso, parte deste concelho. É aliás o município que recebeu mais refugiados internacionais em alturas de conflito, nomeadamente na II Guerra Mundial. Estima-se que tenham sido salvas mais de duzentas mil vidas por estes lados.

 

Tanto património para conhecer

Entrar nas portas da fortaleza à chegada, tem sempre um peso especial, em que sentimos que nos transportamos para outros tempos assim que colocamos ambos os pés no seu interior. Imaginamos poeiras a levantar do chão da calçada, cavalos a relinchar no transporte de carroças, pólvora no ar das armas disparadas em frenesim. Almeida foi mesmo palco de algumas das mais épicas batalhas do nosso país, principalmente por altura das invasões francesas, tendo ficado aliás perpetuado até hoje o famoso “Cerco de Almeida”, ocorrido em 1810, evento que é recriado todos os anos no Verão.

Passear pelas ruas de Almeida dá ainda uma estranha sensação de que nunca nos perdemos e de que encontramos sempre o local onde queremos passar. Dotado de grandes praças centrais, existe uma harmonia perfeita na forma como a vila cresceu e se expandiu em redor destas, e tantos são os pontos para visitar, que uma tarde inteira vale bem a pena e é gasta na sua totalidade. Para além da fortaleza, que pode percorrer a pé no cimo das muralhas e ter a sensação do que as tropas que defendiam Almeida viam e como se podiam organizar para reagir às investidas inimigas, existem muitos outros pontos que merecem atenção: Museu Histórico-Militar, as ruínas do castelo, a Igreja Matriz, o Picadeiro d’el Rei, a Casa dos Governadores, o Solar de S. João… Pode ainda passar pela Casa da Roda dos Expostos, onde se abandonavam crianças quando não existia capacidade de as criar, situada de forma estratégica para que ninguém pudesse ver quem deixava as crianças, entregues num pequeno postigo junto à porta principal do edifício.

 

- 05 mai, 2021
- Fernando Gil Teixeira