Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Mulheres de existências confinadas ganharam voz no palco da Moagem Voltar

«Confinamento de Mulheres», peça da CIA ATMA DE ARTES, esteve em cena na Moagem, no Fundão, nos dias 20 e 21 de Abril à noite. Neste regresso da cultura depois de três longos meses de confinamento, assinalou-se assim o regresso do teatro ao concelho fundanense. E que melhor regresso se poderia pedir do que com uma mensagem intemporal, gritada a alto e bom som, por quem não tem medo de se mostrar à sua dimensão.

Esta peça de teatro é, para começar e não só, um hino à mulher, aqui representada em vários fragmentos seus por Silvia Lucarini, Ana Leonor Santos, Liliana Passos e Luísa Nunes, que todos juntos são definitivamente mais do que o todo da soma das suas partes. Uma calamidade que as confinou e que ao mesmo tempo as libertou, já que a mulher tem sido confinada e privada de si mesma e daquilo que a faz feliz ao longo dos séculos de tantas formas diferentes, sendo-lhe negada a voz, a existência e a descoberta de si mesma. Há por isso um enorme espectro de libertação que percorre toda a peça, fazendo sombra às personagens. Sentimos as amarras presas ao pescoço a evitar que a voz saia, tanto quanto sentimos a liberdade sôfrega a querer soltar-se para poder ser e existir. De uma estética sublime, de um bom gosto enorme e de uma musicalidade destinada, o guião consegue a maior proeza que poderia ambicionar: com poucas palavras e muita expressividade, passar uma mensagem que se deve sentir e compreender mais do que apenas pelo mero ouvir. As interpretações essas, cruas e despidas, são também elas de uma enorme perfeição e elegância, abrindo com chave de ouro o regresso da cultura a palco. E a acompanhar, um enorme trabalho de luz e som, que dá mais força e dinâmica à peça, tornando-a mais palpável, juntando na plateia aquilo que nem a pandemia e o distanciamento conseguem afastar.

E ouviram-se as palmas, fizeram-se as vénias e baixaram as cortinas. Fez-se teatro.

- 27 abr, 2021
- Fernando Gil Teixeira