Mulheres de existências confinadas ganharam voz no palco da Moagem
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«Confinamento de Mulheres», peça da CIA ATMA DE ARTES, esteve em cena na Moagem, no Fundão, nos dias 20 e 21 de Abril à noite. Neste regresso da cultura depois de três longos meses de confinamento, assinalou-se assim o regresso do teatro ao concelho fundanense. E que melhor regresso se poderia pedir do que com uma mensagem intemporal, gritada a alto e bom som, por quem não tem medo de se mostrar à sua dimensão.
Esta peça de teatro é, para começar e não só, um hino à mulher, aqui representada em vários fragmentos seus por Silvia Lucarini, Ana Leonor Santos, Liliana Passos e Luísa Nunes, que todos juntos são definitivamente mais do que o todo da soma das suas partes. Uma calamidade que as confinou e que ao mesmo tempo as libertou, já que a mulher tem sido confinada e privada de si mesma e daquilo que a faz feliz ao longo dos séculos de tantas formas diferentes, sendo-lhe negada a voz, a existência e a descoberta de si mesma. Há por isso um enorme espectro de libertação que percorre toda a peça, fazendo sombra às personagens. Sentimos as amarras presas ao pescoço a evitar que a voz saia, tanto quanto sentimos a liberdade sôfrega a querer soltar-se para poder ser e existir. De uma estética sublime, de um bom gosto enorme e de uma musicalidade destinada, o guião consegue a maior proeza que poderia ambicionar: com poucas palavras e muita expressividade, passar uma mensagem que se deve sentir e compreender mais do que apenas pelo mero ouvir. As interpretações essas, cruas e despidas, são também elas de uma enorme perfeição e elegância, abrindo com chave de ouro o regresso da cultura a palco. E a acompanhar, um enorme trabalho de luz e som, que dá mais força e dinâmica à peça, tornando-a mais palpável, juntando na plateia aquilo que nem a pandemia e o distanciamento conseguem afastar.
E ouviram-se as palmas, fizeram-se as vénias e baixaram as cortinas. Fez-se teatro.
- 27 abr, 2021
- Fernando Gil Teixeira