Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XII
Nº: 626

Vilar Maior, o coração selvagem de Portugal no Grande Vale do Côa Voltar

A aldeia de Vilar Maior, pertencente à rede das cinco Vilas Medievais do Sabugal, localizada no concelho do Sabugal, tem um enorme património histórico e que vem atraindo alguns visitantes, principalmente aqueles que percorrem a Grande Rota do Vale do Côa. Atualmente União de Freguesias de Aldeia da Ribeira, Vilar Maior e Badamalos, é no entanto, é ainda um destino improvável e desconhecido, com muitas potencialidades a explorar. Fundada no século XII, tem ainda muita simbologia e elementos do controlo espanhol, sendo que se pode ver e passear por tudo num pequeno passeio a pé, sendo um local ótimo para visitar numa tarde de verão, ou num fim-de-semana de Primavera para escapar à rotina diária e urbana. Com um castelo em bom estado de conservação, elevado e onde se consegue ver toda à aldeia, existe em Vilar Maior uma magia muito especial, mais não seja porque ali se respira um ar puro que hoje em dia é tão raro de sentir. Desde 2016, existe ainda um novo museu da aldeia, que dá a conhecer a sua história, tendo presentes vários elementos de arqueologia, arte sacra, livros antigos etc., que compõem um espólio muito interessante e digno de visita. Na base do museu encontra-se uma gravura rupestre que embora abstrata tem todo um peso histórico e de antiguidade que a suporta e a torna muito especial. Outro ponto de paragem obrigatória é ainda a Igreja Matriz, inspirada em São Pedro e edificada no século XIII.

Em Vilar Maior passa o rio Cesarão, afluente do rio Côa e onde se pode estar em contacto com a natureza no seu estado mais puro e intocável. Atualmente vivem apenas cerca de 100 habitantes na aldeia.

 

Património potenciado por uma associação dinâmica

Surgiu há dois anos, fruto da vontade de dinamizar a aldeia e de atrair mais visitantes, a Associação Muralhas de Vilar Maior, presidida por Joaquim Simões. Esta nova associação tem como objetivo promover contactos intergeracionais na aldeia, desenvolvendo atividades para todas as faixas etárias; preservar e divulgar o património cultural, material e imaterial da aldeia; realizar parcerias com entidades que ajudem a promover Vilar Maior e desenvolver novas atividades na aldeia; e ainda, divulgar Vilar Maior e o seu património para o exterior. É exatamente nestes dois últimos pontos que a associação se encontra a trabalhar com a Rewilding Portugal, a dinamizar atividades de promoção de Vilar Maior e do seu riquíssimo património cultural e natural, nomeadamente através de visitações e maratonas fotográficas, assim como ações promocionais de redes sociais e de divulgação através de influencers digitais. A primeira atividade a ser desenvolvida em conjunto pelas duas entidades acontece já no dia 22 de Maio, com uma maratona fotográfica muito especial e que vai levar os participantes a conhecer o lado mais selvagem desta região.

 

Vale Carapito, nova área de rewilding

O Vale Carapito, uma propriedade adquirida pela da Rewilding Portugal para executar ações de conservação que reforçam o corredor ecológico do Grande Vale do Côa, é a nova área de aplicação prática de rewilding em Portugal. Localizada perto de Vilar Maior, promete ser o novo mostruário dos benefícios que o rewilding tem para a natureza e quais os resultados que pode atingir em escalas cada vez maiores. Além disso, para além da renaturalização da paisagem e dos ecossistemas, terá ainda uma importante função de turismo baseado na natureza e sustentável, com o objetivo de ser um verdadeiro showcase de aplicação de rewilding e dos seus efeitos.

Com uma paisagem heterogénea, boa diversidade de habitats e espécies associadas, o terreno desta propriedade tem condições muito favoráveis à renaturalização do mesmo, que já está a ser levada a cabo. O Vale Carapito integra a Rede Natural 2000 e faz parte do SIC Serra da Malcata e beneficia ainda da sua proximidade à aldeia de Vilar Maior e às suas comodidades e serviços, assim como do património histórico e cultural presente na região (Grandes Rotas do Vale do Côa e das Aldeias Históricas, pequenas rotas, etc.)

Várias ações de conservação já ocorreram nos últimos meses, nomeadamente a monitorização de flora e fauna, para estudar a biodiversidade vegetal e animal da propriedade, assim como da paisagem e dos solos, algumas delas com o apoio da Terra Prima. O objetivo destas ações de monitorização é conhecer o território em que nos encontramos a trabalhar e poder comparar níveis atuais com os níveis após aplicação de medidas de rewilding (passivo ou de gestão ativa em casos específicos). Estão ainda planeadas ações de promoção de pastoreio natural, através da utilização de herbívoros em estado semisselvagem; ações de remoção de estruturas obsoletas, que funcionam como barreiras para a fauna selvagem da região; ações de controlo de espécies invasoras; ações de gestão ativa de combustível e ainda ações de vigilância do território.

De acordo com Pedro Prata, Líder de Equipa da Rewilding Portugal, “este trabalho em Vilar Maior é o primeiro passo concreto no terreno de uma estratégia de conectividade do corredor ecológico do Grande Vale do Côa. O nosso trabalho aqui vai permitir afinar a estratégia de renaturalização a nível da paisagem.” 

A aposta de realizar turismo baseado na natureza através do Vale Carapito vai gerar novas oportunidades económicas para a comunidade, já que é possível desenvolver um novo modelo de negócio para trazer a natureza de volta a zonas marcadas pelo declínio económico, perda de população e abandono agrícola. Ajudar a natureza a recuperar, restaurar ecossistemas funcionais, com uma grande abundância e diversidade de vida selvagem pode trazer benefícios para as populações locais. Por esse mesmo motivo, já foram criados pacotes turísticos, assim como ofertas turísticas com experiências mais individuais junto dos operadores da Rede Côa Selvagem, que incluem atividades nesta reserva.

- 27 abr, 2021
- Fernando Gil Teixeira
- Rewilding Portugal