Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

A rua de “São” Félix Rabasquinho Voltar

Poucas atividades no mundo são avaliadas como a de árbitro de futebol. Um lance analisado de forma distinta pelos olhos de uma das partes interessada transforma o indivíduo responsável pela decisão final no pior criminoso do mundo.

Mas porque será que a sociedade é tão exigente com quem tem de decidir em frações de segundos sob um esforço físico inerente a quem percorre 12 km por jogo com sprints a cerca de 20/25 km/h? Porque a paixão cega a pessoa mais racional levando-a a cometer as maiores atrocidades. Infelizmente são poucos os que têm a consciência de que cada vez que o árbitro se vê envolvido num jogo de grande projeção sofre represálias na sua vida privada. Ainda recentemente foi noticiado que um deles recebe ameaças de morte com referências aos seus pais, esposa e filhos. O mais grave é a sociedade civil encara esta realidade como algo inerente ao futebol… a violência, física ou verbal, o ódio e as ameaças são inadmissíveis num estado de direito.

Um árbitro é, antes de mais, um ser humano como qualquer outro indivíduo. É neste contexto que se envolve na sociedade e aí estabelece relações, cria laços e amizades. Manifesta as suas preocupações e tem sentido crítico, tanto a nível particular como coletivo. É aqui que se insere a última ação da APAF. Num período em que se debate a fiabilidade das decisões dos árbitros e a formação dos mesmos, a maior associação de classe da arbitragem portuguesa aproveitou o Dia internacional da Criança com Cancro para promover uma campanha de consciencialização para esta causa. De facto, nada é mais oportuno do que lembrar que há mais vida(s) para além do futebol.

A nível particular são inúmeros os rostos que atestam que também existe, no seio da arbitragem, indivíduos com uma dimensão humana acima da média. José Félix Rabasquinho foi um deles. Infelizmente partiu muito cedo, no dia 23 de fevereiro de 2013, com pouco mais de 60 anos…Mais do que árbitro era um ser humano extraordinário, que se dedicava como ninguém à causa comum. Foi jogador, árbitro, membro ativo do GIR do Rodrigo… andou pelo atletismo, futebol, futsal, cinema e a ginástica. Tudo isto é a ponta do iceberg de tudo o que foi a vida grande Félix a qual, na minha modesta opinião, não foi devidamente reconhecida. No meu entender, e no entender de muitos que o conheceram, era tempo de atribuir o nome de uma rua do concelho da Covilhã a esta figura ímpar que tanto fez sem pedir nada em troca. De preferência uma rua com muitos moradores… tantos quantos aqueles a quem fez feliz… que bela metáfora seria este reconhecimento do que é o seu legado imaterial.

- 02 mar, 2021
- Sérgio Mendes