Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XII
Nº: 626

Reserva Natural da Faia Brava, onde a natureza pode ser ela própria Voltar

REPORTAGEM. A Reserva da Faia Brava, no distrito da Guarda, é um verdadeiro museu natural a céu aberto. Mais de 800 hectares dedicados a conservação de natureza que estão à espera da sua visita

A Reserva da Faia Brava é ainda um paraíso escondido que olha para a natureza de igual para igual e é assim que se dá a conhecer ao público em geral também. Uma reserva de mais de 800 hectares, que vão desde o concelho de Figueira Castelo Rodrigo até ao concelho de Pinhel, sendo um fundamental espaço natural e protegido do Vale do Côa, onde o rio Côa e as suas margens é dono e senhor do espaço que corre à sua volta.

Gerida pela ATNatureza, é desde 2010 a primeira Área Protegida Privada de todo o país e é uma área-piloto em Portugal para a filosofia de rewilding que está a nascer em Portugal, agora pela mão da Rewilding Portugal em conjunto com vários parceiros locais (ATNatureza, Universidade de Aveiro e Zoo Logical), inseridos num projeto europeu que já se estende a vários países e que é coordenado pela Rewilding Europe. Esta filosofia de rewilding defende uma forma inovadora de conservação da natureza e da biodiversidade, em que o papel do ser humano é promover que estas possam atingir o seu máximo potencial, tendo todas as espécies nativas das regiões presentes a desempenhar as suas funções nos ecossistemas. Defende, portanto, que a natureza deve voltar a uma posição em que se consiga gerir e cuidar a si própria, sem precisar da nossa intervenção constante.

A Reserva da Faia Brava tem um papel importantíssimo neste trabalho de conservação em Portugal já que é uma área protegida em que a natureza já está a ser dotada dessa liberdade e dessa capacidade de conseguir gerir o seu próprio futuro, e em que tem sido criada uma oferta turística sustentável que permite que todos possam usufruir das paisagens e da experiência de conhecer de perto esta nova forma de fazer conservação sem colocar em causa a fauna e a flora presente no local e sempre com o máximo respeito pelas mesmas. Um conjunto de habitats importantes para aves rupícolas, sobreirais, azinhais, habitats ribeirinhos e charcos temporários mediterrânicos, que se erguem na reserva e que devem ser preservados e potenciados. É por isso um verdadeiro polo de demonstração, educação ambiental e ecoturismo que tem crescido ao longo dos últimos anos e que se assume cada vez mais como um exemplo para projetos futuros que repliquem este modelo.

E há mesmo muito que visitar e conhecer na reserva. Gravuras rupestres (a proximidade e até coincidência em certas zonas com o Parque Arqueológico do Vale do Côa justifica a sua existência); pombais tradicionais; manadas de vacas maronesas e cavalos garranos em estado semisselvagem (que podem ser vistos novamente em liberdade como é pouco comum nos dias de hoje a desempenharem o seu papel importantíssimo de herbívoros nos ecossistemas); trilhos pedestres; hortas; viveiros florestais; campos de alimentação e abrigo fotográfico para aves necrófagas; cercados de repovoamento de coelho-bravo etc. Tantos são os motivos para uma visita atenta!

As visitas guiadas à reserva devem ser feitas por reserva e têm uma forte componente pedagógica, explorando temas como gestão de habitats, espécies em risco de extinção, conservação da natureza e podem ser realizadas adaptando a visita aos temas de interesse do grupo. A visita é acompanhada por guias certificados e inclui ainda a utilização de binóculos e telescópio para observar a natureza. O Trilho dos Biólogos é feito a pé, em caminhada, sendo de nível médio e de 2 quilómetros e demora cerca de 2:30h, sendo aconselhado sempre que levem água e vestuário/calçado adequado à situação. Utilizando este trilho, outrora utilizado por pastores e cabreiros, consegue ter-se uma observação de flora e fauna única. A nível de flora, destaque para os matos de giesta e rosmaninho, azinhal, cornalheiras, pilriteiro e zelhas, e ainda parcelas de olival tradicional delimitadas por muros de pedra. Já na fauna, a reserva é o local ideal para observar aves planadoras rupícolas como são o grifo, o britango e a águia-real, assim como para ver e ouvir os cantos e piares de aves mais pequenas como o melro-azul, as andorinhas das rochas, as toutinegras, escrevedeiras e felosas. É ainda muito comum conseguir ver-se as manadas de cavalos e vacas semisselvagens a pastarem livremente pelo enorme terreno que se tornou novamente o seu habitat de raiz e onde podem viver livremente e sem controlo humano constante. Passará ainda pelo
Miradouro da Milhoteira, um dos miradouros mais bonitos e emblemáticos de toda esta região e o ponto mais importante do percurso, com uma paisagem estonteante das encostas do Côa, onde o rio corre encaixado entre escarpas rochosas.

Marcando com antecedência, a reserva faz ainda safaris em veículos todo-o-terreno, onde pode conhecer de forma mais cómoda e vasta toda a reserva e o que é feito nela a nível de conservação de natureza, para além de ter na mesma uma experiência de contacto direto com a natureza que ali vive e respira em liberdade. E ver cavalos e vacas a viver livremente nesta área acaba por ser sempre recuar 20.000 anos até ao tempo em que estes dominavam de forma livre o Vale do Côa e onde ficaram eternamente gravados através das gravuras rupestres, onde se eternizou essa presença que hoje em dia se procura retomar.

A natureza está à sua espera novamente, na forma em que deveria ser sempre admirada e observada.

- 11 ago, 2020
- Fernando Gil Teixeira