Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Notáveis Covilhanenses: Frei Heitor Pinto, teólogo, filósofo e escritor Voltar

HISTÓRIA. Frei Heitor Pinto ou Frei Heitor da Covilhã foi uma Personalidade que marcou a História de Portugal, o que lhe conferiu várias homenagens, nomeadamente na sua terra natal. Foi um verdadeiro intelectual, investiu na sua formação e nos estudos eclesiásticos. O seu patriotismo valeu-lhe um exílio em Toledo, ordenado por D. Filipe I de Portugal

Frei Heitor Pinto é considerado um dos grandes nomes da literatura portuguesa. 
Natural da Covilhã, onde nasceu talvez no ano de 1528 (a data do seu nascimento é incerta), acabou por falecer em terras de «nuestros hermanos», em Toledo, no ano de 1584.

Foi um frade da Ordem de São Jerónimo e Doutor em Teologia. Sendo já Doutor pela Universidade de Siguença, doutorou-se em Teologia, em 9 de maio de 1576, pela Universidade de Coimbra. O próprio Rei D. Sebastião, mandou que se criasse a cadeira de Sagrada Escritura, para a qual foi nomeado responsável o frade covilhanense.

Revelando, desde cedo, extraordinários dotes intelectuais, Frei Heitor Pinto fez os seus estudos eclesiásticos no Convento da Costa em Coimbra, onde foi colega de D. António Prior do Crato, filho do Infante D. Luís, que teve o Senhorio da Covilhã.

 Em 1559, assistiu à coroação do Papa Pio IV, em Roma, onde se encontrava em negócios da sua Ordem. Foi Reitor do Colégio da Ordem em 1565, e mais tarde, em 1571, seria eleito Provincial em Portugal. Na mesma data publicou a sua obra «In Isaiam Prophetarum Commentaria».

 

Expulso da Pátria

O último Conselho a que assistiu, na Universidade de Coimbra, foi em 19 de agosto de 1579, reunido para deliberar sobre a receção a D. António Prior do Crato. Aproximavam-se dias negros para a Pátria. Sabe-se que defendeu a causa do seu desaventurado amigo, como pertencente à Coroa, e como por isso foi perseguido por Filipe I de Portugal (II de Espanha), que o mandou exilar num mosteiro da sua Ordem, em Toledo, por defender as pretensões de D. António à Coroa Portuguesa. Consta que o grande covilhanense então exclamou: "Pode El-Rei Filipe meter-me em Castela, mas meter Castela em mim é impossível".

 

 

Obras publicadas

Foi o autor do livro «Imagem da Vida Cristã», a sua obra mais conhecida, e publicou-a numa altura em que o controlo da leitura e a censura sobre as obras impressas se acentuavam, na sequência das decisões tomadas pelo Concílio de Trento. Esta obra, muito conceituada como excelente modelo de linguagem, exprime horror à observação sensorial e crê na grandeza de Deus, “Ninguém é bom senão Deus (…) Deus é uma unidade simplicíssima, um ato puríssimo, que está em todas as coisas (…) Ele está dentro de nós, e é fonte de todo o ser sendo mesmo nosso ser, mais íntimo a nós que nós”.

É de referir que, para além da Imagem da Vida Cristã, o autor publicou também uma série de comentários sobre o texto bíblico, editados em diversas cidades da Europa. Contudo, a «Imagem da Vida Cristã» é, sem dúvida, a sua obra fundamental, tendo sido editada mais de 20 vezes durante o século XVI. O prolongado contacto com a cultura espanhola, as repetidas viagens a França e a Itália e o permanente amor pelos livros permitiram-lhe uma abertura de horizontes e uma parceria ideológica com as correntes "escolásticas esclarecidas".

 

Amor à pátria

Nos «Autos e Provas de Cursos» da Universidade de Coimbra, Heitor Pinto assina-se Frei Heitor da Covilhã, nome com que professou no Mosteiro de Santa Maria de Belém, a 8 de abril de 1543. Mais tarde, assina-se Heitor Pinto, indo buscar tal apelido aos antepassados. 
Em um dos seus «Diálogos», suspira por Portugal, e admite preferir na sua Pátria ter uma “pobreza contente”, do que que lá fora "quaisquer delícias ou riquezas". Conseguimos perceber a mágoa que lhe causou a perda de independência nacional, e a grande vontade com que defendia a causa nacional. 
O que lhe aconteceu até à sua morte, ocorrida no ano de 1584, não está definitivamente apurado. Diz-se que foi recluso, com outros religiosos, no Mosteiro de Sisla, fora dos muros de Toledo, onde terá morrido. D. António Prior do Crato escreveu uma carta ao Papa Gregório XII, onde insinuava que Filipe II mandara envenenar Heitor Pinto.

Além do acentuado uso de citações, há outra caraterística na obra de Heitor da Covilhã, que é a abundância de comparações. Quase sempre felizes, por vezes eram bastante arrojadas, tais como, "Assim como o piloto depois de cansado de longa navegação, achando lugar oportuno lança âncora para descansar, assim eu, cansado de longa prática, quero lançar âncora à língua e amainar as velas às minhas palavras". 

 

Cronologia

 

1528

Nascimento de Frei Heitor Pinto na Covilhã.

1565

Foi Reitor do Colégio da Ordem

1571

Escreveu a obra «Diálogos da Imagem».

1571-1573

Triénio do provincialato de Frei Heitor Pinto.

1574

Começou a exercer a função de provincial no governo de Fr. João de Penamacor.

1576

Doutorou-se em Teologia

1577

Escreveu a obra «Comentários a Daniel, a Nahum e às Lamentações de Jeremias».

1584

Morte de Frei Heitor Pinto.

 

 

Homenagens

 

 

Frei Heitor Pinto foi homenageado na Câmara Municipal da Covilhã, numa sessão no Salão Nobre. Esta sessão a preto e branco foi registada pelo canal televisivo RTP1, apresentada na série “Noticiário Nacional de 1968”.

O teólogo, filósofo e escritor do século XVI foi reconhecido ao darem o seu nome a uma escola secundária em 1974, um estabelecimento de ensino secundário público na cidade da Covilhã, a Escola Secundária Frei Heitor Pinto. Liceu Nacional da Covilhã era esse o seu nome antigo, que foi inaugurado em 1934.

Existe, ainda, um Largo com o seu nome, na capital portuguesa, o Largo Frei Heitor Pinto.

- 24 mar, 2020
- Ângelo Oliveira, Inês Brás e Micaela Silva