Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XII
Nº: 626

Notáveis Covilhanenses: Ernesto Cruz, uma das figuras mais dinâmicas da Covilhã Voltar

 

NOTAVÉIS COVILHANENSES. Foi uma das figuras em destaque na sociedade covilhanense, com um grande carisma, tanto a nível empresarial, associativo e social

 

Ernesto Cruz nasceu a 11 de novembro de 1906, na freguesia de São Pedro, na Covilhã. Era filho do industrial Júlio Nunes da Cruz e Mariana Bola, que tinham uma empresa fabril conhecida pela «Fábrica das Cruzes».  

Foi casado com Ilda Cândida Mac-Bride Casaleiro Torres Cruz e deste matrimónio resultaram cinco filhos: Olga Cândida Casaleiro Torres Cruz Pontífice de Sousa, Júlio Henrique Casaleiro Torres Cruz, Carlos Alberto Casaleiro Torres Cruz e Maria Leonor Casaleiro Torres Cruz.

A sua vida de comercial teve início na sua juventude, com deslocações ao Alentejo para visitar leilões de lãs, acompanhado do amigo António Cunha que mais tarde, viria a ser seu sócio.

Em dezembro de 1929, Ernesto Cruz partiu rumo ao Brasil a fim de arranjar dinheiro e regressa a Portugal cerca de um ano e meio depois.

 

O amor pelo desporto

Ernesto Cruz adorava praticar desporto, mas foi no futebol que se evidenciou, aos 17 anos, integrando a primeira equipa do Sporting Clube da Covilhã (SCC) e, anteriormente, constituía a equipa de outra coletividade covilhanense já inexistente, o Vitória Luso-Sporting.

Apelidado por «cordiguita» jogou com o SCC nos antigos campos da Várzea e da Palmatória, conhecidos na altura por “campo amarelo”, por serem de terra batida.

A 28 de janeiro de 1936 passou a fazer parte da direção dos «Leões da Serra», integrando a equipa num momento em que esta avançava para o futebol profissional. Foi vogal da direção cuja assembleia-geral era presidida pelo seu cunhado José Ranito Baltazar e pelo Aprígio da Cunha Tarouca.

A partir de 1938/1939 passou para a liderança da direção dos «Leões da Serra» e conseguiu desenvolver a sustentabilidade do clube a vários níveis, com elementos nas suas direções ligados à indústria e lanifícios.

Ernesto Cruz deixou a presidência do clube serrano a partir de 1947/1948, quando o emblema ingressou na Primeira Divisão Nacional que, atualmente, corresponde à Primeira Liga. Contudo, nunca deixou de integrar os corpos diretivos e voltou a colocar o clube na Primeira Divisão até 1961/1962, anos em que deixou a liderança do clube.

O covilhanense acabou por se retirar, mas jamais deixou de acompanhar o clube, sendo que os seus bisnetos Samuel Cruz e David Cruz jogaram nas camadas jovens do SCC.

 

DESTAQUE: «Quer na vida social, onde foi sempre extremamente considerado, quer na vida industrial de lanifícios, ou ainda no campo desportivo, onde sempre ocupou posição de muito mérito, a verdade é que ele viria a ser uma das figuras mais destacadas e estimadas de sempre»

 

O mundo industrial

Ernesto Cruz começou por ser comerciante e tornou-se uma das pessoas mais dinâmicas da cidade da Covilhã da sua geração.

Como industrial era visionário, ambicioso, mas humilde, conhecido como um membro valioso no desenvolvimento das empresas em que se envolvia.

O seu escritório comercial de uma sociedade de representações começou por ser num primeiro andar, antes do antigo Café Central, na Rua Capitão Alves Roçadas e, mais tarde, mudou as instalações para o Largo 5 de Outubro onde foi constituída a sociedade comercial “Ernesto Cruz & Companhia”, no dia 8 de agosto de 1939.

Com 33 anos, o seu objeto de venda eram os fios e lãs, comissões e consignações, juntando-se ao grupo o Dr. Aníbal Mousaco Alçada, médico de profissão, Fernando Lopes da Costa Alçada, industrial, e António da Cunha Taborda, comerciante.

A empresa passou a ser uma sociedade por quotas – ERNESTO CRUZ & Cª.LDA – a 26 de agosto de 1964, com o objetivo de vingar no mundo da industria têxtil ou qualquer outro ramo da industria ou comercio tendo como sócios Fernando Lopes da Costa Alçada, Dr. António dos Santos Taborda, Engenheiro José dos Santos Taborda, Fernando dos Santos Taborda (herdeiros de António da Cunha Taborda), Júlio Henriques Casaleiro Torres Cruz, Francisco Manuel Pinheiro Alçada e Paulo Pontífice de Sousa.

A empresa situou-se na Estrada do Sineiro, cujas instalações fabris começaram a ser construídas em 1963.

As instalações da empresa ERNESTO CRUZ & C.ª LDA foram adquiridas pela Universidade da Beira Interior (UBI), onde se situa o Pólo de Ciências Sociais e Humanas passando, em sua homenagem, a ser designado como Pólo Ernesto Cruz.

 

DESTAQUE: «Dizem os seus antigos colaboradores, amigos e colegas do meio empresarial covilhanense que Ernesto Cruz, desde jovem, tinha uma grande capacidade de convivência, honestidade, espírito de luta e iniciativa»

 

O empresário ajudou muitos operários e colaboradores da sua empresa e deu uma contribuição para a expansão do clube SCC. Sabe-se também que alguns dos seus empregados e operários quando precisavam, solicitavam-lhe empréstimos sendo descontados mais tarde em prestações nos seus salários.

Com o início da laboração da firma no Sineiro e a constituição das sociedades com pessoas de todas as idades, proporcionou que a empresa pagasse um complemento de reforma para os mais velhos, situação que acabou com a Revolução do 25 de Abril, por imposição da Comissão de Trabalhadores.

Ernesto Cruz faleceu no ano de 1969 mas o grupo de empresas ERNESTO CRUZ & Cª LDA encerrou em 1990 com o corte de energia elétrica da EDP. 

 

 

Cronologia

  • 1906: Nascimento de Ernesto Cruz
  • 1923: Integrou a primeira equipa do Sporting Clube da Covilhã (SCC)
  • 1929: Foi para o Brasil a fim de arranjar dinheiro
  • 1936: Começou a fazer parte do dirigismo dos “Leões da Serra”
  • 1938/1939: Lidera a Direção do SCC
  • 1939: Constituição da sociedade comercial “Ernesto Cruz & Companhia”
  • 1961: Deixa definitivamente a liderança do clube leonino
  • 1963: Instalações fabris da sociedade ERNESTO CRUZ & Cª LDA começa a ser construída
  • 1969: Falecimento de Ernesto Cruz
  • 1990: Grupo de empresas ERNESTO CRUZ & Cª LDA encerra
- 04 ago, 2020
- Bruna Martins e Helena Esteves