Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XII
Nº: 626

A importância das subculturas na composição das sociedades Voltar

A origem das subculturas tem a sua primeira abordagem na Escola de Chicago na década de 60 do século vinte, que identificava as subculturas como grupos de comportamentos desviantes, compostos por uma mistura de etnias, culturas e conflitos que acompanhavam o crescimento populacional nos EUA, num clima de pós-guerra, contexto caraterizado por fenómenos como baby boom e forte “onda” de imigração, que contribuíram para uma significativa mescla racial e étnica nos Estados Unidos da América.

A Escola de Chicago elaborou mapas etnográficos dos territórios da cidade com objetivo de explicar os contextos sociais e culturais dos desvios comportamentais dos jovens. O autor Robert Merton (1938) defendia que as subculturas faziam parte de grandes narrativas da vida quotidiana do individuo, isto é, de interações e experiência vivida. A definição da subcultura, está relacionada com a agência e ação pertencente a um grupo social distinto, mas relacionado com o de cultura dominante.

Tal como é referido por Blackman (2005), a palavra distinto ou diferente de, é a chave para perceber o curso do conceito de subcultura, porque sugere algo separado e oposto, daquilo que a maioria defende ou representa. Neste contexto, Merton (2015) aborda as subculturas como anomia[1], isto é, formações distintas dos padrões sociais e estruturais existentes. As subculturas são assim formações disfuncionais segundo o autor. As subculturas podiam ser encaradas como desadaptadas na sociedade. Este caminho permite identificar de forma objetiva a composição da sociedade, bem como analisar de forma detalhada os desvios existentes, e procurar explicá-los à luz dos valores sociais existentes.

Até à década de 60 do século XX, as subculturas são associadas aos comportamentos desviantes e de carácter pejorativo, mas com a organização de British National Deviance Conference, são questionadas associações entre subculturas - desvio e subculturas – delinquência. As subculturas passam a ser vistas como uma linguagem ou expressões próprias, com fenómeno de pertença. Esta linguagem própria e partilha de símbolos/caraterísticas não são desviantes. Isto permitiu a sociedade olhar para as subculturas como construções sociais, retirando carácter que até esta conferência tinham as subculturas como algo excluído/desviante/pejorativo. Foi um marco importante não só para a maneira como se olhava para as subculturas, mas também para os estudos posteriores das subculturas.

Após a publicação do livro Le Temps des tribus (1988) de Michel Maffesoli, as subculturas ganharam a nova expressão e começaram a ser associadas a uma espécie de “tribos”. A mesma discussão pode ser encontrada em Dohnal (2007: 4), onde o autor refere o impacto que a obra de Maffesoli veio a trazer para a sociedade “repensar” as subculturas que influenciou os estudos posteriores. O autor refere que estas tribos tinham determinadas caraterísticas, próprias da sua organização, da forma de vida, da identificação com o contexto e os valores associados. Este processo de construção de identidade é fundamental para compreender o funcionamento da sociedade.

Numa altura em que crescem os ódios e a divisão da sociedade parece a norma, importa compreender, estudar, analisar as diferentes formas de vida, num contexto onde a ciência tem o seu lugar cimeiro.

 

Eduard Plesha

Estudante do Mestrado em Relações Internacionais - UBI

 

 

 

[1] A falta de normas que vinculem as pessoas num contexto social. Merton segue a linha teórica do funcionalismo. Afirma que em toda sociedade desenvolvem-se metas culturais que expressam os valores que guiam a vida dos indivíduos em sociedade. O insucesso em atingir as metas culturais devido à insuficiência dos meios institucionalizados pode produzir, o que Merton denomina de anomia, isto é, um abandono das regras. O indivíduo não respeita as regras de comportamento que indicam os meios de ação socialmente aceitos. Surge então o desvio, ou seja, o comportamento desviante. 

- 23 jun, 2020
- Eduard Plesha