Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Notáveis Covilhanenses: Família Campos Melo e o seu legado na indústria têxtil e no ensino na Covilhã Voltar

Família Campos Melo: o seu legado na indústria têxtil e no ensino na Covilhã

HISTÓRIA. A família Campos Melo é uma das mais marcantes da história da Covilhã, da sua indústria têxtil e dos lanifícios. Uma família de homens visionários, não só na indústria, como na educação, que deixaram um legado notável e essencial ao desenvolvimento desta cidade

 

Primeiros passos na Indústria

José Maria da Silva Campos Melo pertencia a uma família que se destacou durante as guerras civis, pelo apoio dado à causa liberal. Tornou-se num dos mais importantes industriais da região da Covilhã, ao fundar a Fábrica Campos Melo, juntamente com o seu irmão, Visconde da Coriscada, e do sócio Gregório Nunes Geraldes. Esta Fábrica foi a sede de um grupo empresarial, que marcou profundamente a história dos lanifícios, tanto a nível regional, como a nível nacional, sendo das poucas com mais de 100 operários.

A partir de 1845, os irmãos José Maria da Silva Campos Melo e Francisco Joaquim da Silva Campos Melo instalam a empresa que detinham desde 1835, na Rua Direita. Em 1851, adquirem o complexo industrial denominado «Fábrica Velha», após um incêndio destruir as instalações desta empresa. O complexo, situado nas margens da Ribeira da Carpinteira, é submetido a uma reconstrução total. A Fábrica Velha era na época, um espaço arqueológico-industrial significativo, local onde em 1677, sob intervenção do Terceiro Conde da Ericeira, se instalou a Fábrica Nacional de Sarjas e Baetas.

Em 1864, encontravam-se já criadas as firmas «Mello Geraldes & Cª.», com uma fábrica completa, na Ribeira da Carpinteira, e onde laboravam 244 trabalhadores e a «Campos Mello & Irmão», especializada em acabamentos, com 57 trabalhadores.

A 28 de março de 1864, José Maria de Campos Melo é condecorado pelo Governo de sua Majestade D. Luís I, com o grau de Comendador de Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Morre a 3 de março de 1866, deixando em testamento 1.500$000 Reis à Misericórdia da Cidade da Covilhã. O seu trabalho será continuado pelo filho José Maria Veiga da Silva Campos Melo que consegue conferir várias distinções à Fábrica, acabando por se tornar, também ele, um industrial de destaque.

 

 

 

 

De geração em geração

Nascido em julho de 1840 na Covilhã, José Maria Veiga da Silva Campos Melo concluiu o ensino secundário em Lisboa. Depois disso, continuou a sua formação no estrangeiro, nomeadamente, em Inglaterra e na Bélgica. Era um homem viajado, percorreu o Mundo e teve a oportunidade de conhecer as principais cidades industriais e as grandes fábricas. Contactou com as mais recentes inovações técnicas daquela época, o que contribuiu para que se tornasse, como já foi referido, num dos maiores industriais do seu tempo, sendo responsável por introduzir novos mecanismos e aperfeiçoar a indústria têxtil na sua terra natal, à frente da Fábrica «Campos Mello & Irmão». Também conhecido como José Maria da Silva Campos e Melo Júnior, sempre se preocupou com questões sociais e procurou dar auxílio aos funcionários da sua fábrica, construindo habitações e oferecendo assistência médica aos operários.

Evolução no ensino pelas mãos de Campos Melo

A campos Melo deveu-se desenvolvimento do ensino primário e do ensino técnico na Covilhã. Criou a Associação Protetora da Infância Desvalida, em 1870, que se viria a transformar na escola onde estudaram várias gerações covilhanenses. No que diz respeito ao ensino técnico, fundou a Escola Industrial, em 1884, que, mais tarde, recebeu o seu nome. Em 1882, fundou a Biblioteca Heitor Pinto, com o apoio do Visconde da Coriscada e de Francisco Joaquim da Silva Campos Melo, seu tio e sogro, uma vez que José Maria Veiga da Silva Campos Melo casou com a sua prima Maria da Luz da Silva Campos Melo.

Consta ainda, da sua breve passagem pela política, o cargo de vereador no município da Covilhã e ainda a presidência da Câmara Municipal da Covilhã. Faleceu em setembro de 1890.

 

Cronologia

1808

Nascimento de José Maria da Silva Campos Melo.

1840

Nascimento de José Maria da Veiga da Silva Campos Melo.

1845

Instalou e restaurou a empresa «Gregório Nunes Geraldes & Sócios»

1851

Incêndio da empresa «Gregório Nunes Geraldes & Sócios» e aquisição das instalações da “Fábrica Velha”.

1864

Firmas «Mello Geraldes & Cª», «Campos Mello & Irmão» são criadas.

1866

Falecimento de José Maria da Silva Campos Melo.

1884

Criação da Escola Industrial Campos Melo

1890

Falecimento de José Maria Veiga da Silva Campos Melo.

 

 

Fábrica «Campos Mello & Irmão»

A fábrica «Campos Mello & Irmão» foi distinguida, em 1889, com a medalha de prata, na Exposição Internacional de Paris. Os irmãos Campos Mello difundiram a empresa, a nível nacional, criando casas filiais e depósitos em várias cidades, tais como Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Santarém.

No ano de 1891, a comitiva real visitou a fábrica no decorrer da inauguração do caminho-de-ferro, fazendo dela uma das quatro fábricas visitadas na Covilhã.

Uma última atualização aos tempos modernos da década de 40 do século XX, transformou-a numa empresa modelo, a nível nacional, tendo sido reconhecido o mais moderno lavadouro de lãs do país, cuja capacidade para lavar lã era de 2 mil quilos por hora.

Atualmente, a importância da empresa consiste no contexto arqueológico e do complexo fabril, tal como a nível patrimonial preservando o lavadouro mecânico lá instalado. O Campos Mello marcou a história economicamente, socialmente, politicamente e culturalmente da cidade da Covilhã. Ele e o irmão foram reconhecidos como expoentes da modernidade e do progresso.

 

Homenagens e conquistas

Escola Secundária Campos Melo

A 3 de janeiro de 1884, foi criada a Escola Industrial Campos Melo, na Covilhã. José Maria da Veiga da Silva Campos e Melo, filho de José Maria da Silva Campos e Melo, era o patrono da instituição. As primeiras aulas oficiais tiveram início a 16 de dezembro de 1884. Em 1885, a instituição foi transferida para o edifício disponibilizado pela autarquia, instalando-se, em 1912, no seu espaço atual.

Com o tempo, foram criados cursos e disciplinas ligados à industrial têxtil, como áreas de Desenho, Química, Flação, Tecelagem, Tinturaria, Debuxo, para além de outras como a Eletricidade, Mecânica ou Contabilidade.

Em 1948, a instituição passou a designar-se Escola Industrial e Comercial Campos Melo. Mais tarde, em 1970, passa a denominar-se Escola Técnica Campos Melo, por ter integrado a Quinta da Lageosa como sua secção agrícola. Finalmente, em 1975, com a unificação do ensino, recebe o nome de Escola Secundária Campos Melo, designação que, com ligeiras variantes, mantém até hoje.

Atualmente, a instituição mantém-se atenta aos desafios que se colocam à educação do público jovem e adulto e ao contexto em que se insere, procurando diversificar a sua oferta educativa e afirmando-se cada vez mais nas vertentes científico-humanística, tecnológica e artística.

 

Estátua em memória de Campos Melo

Erguida em 1970, a Estátua de José Maria Veiga da Silva Campos Melo, tratou-se de uma homenagem a um “notável filho da terra”. Está situada na Rua Cidade do Fundão, precisamente, nas imediações da Escola Secundária Campos Melo. No pedestal está presente a seguinte inscrição “José Maria Veiga da Silva Campos Melo; 1840-1890; Fundou na Covilhã a Primeira Escola Técnica do País, em 1884; Impulsionou Decisivamente o Desenvolvimento Económico da Nação”. Trata-se de uma estátua moldada em bronze, de arte contemporânea e cariz modernista.

 

 

 

 

 

 

 

 

- 05 mai, 2020
- Ângelo Oliveira, Inês Brás e Micaela Silva