Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

As elites portuguesas são medianas Voltar

Um estudo recente realizado em 151 países, entre os quais Portugal, e que teve a participação de dois investigadores da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, intitulado «ÍNDICE DE QUALIDADE DAS ELITES», veio revelar, acerca das elites, políticas e económicas, portuguesas aquilo de que, intuitivamente, já se suspeitava há muito tempo: ocupam, no «Ranking» elaborado pelo Relatório, uma posição mediana. O mesmo é dizer, de forma nua e crua, que as elites portuguesas são medíocres. Facto que por todos os motivos e mais um, mas todos evidentes, não deixa de ser preocupante, pois isso tem reflexos nos mais diversos sectores de atividade, desde a economia e a criação de valor, à distribuição social da riqueza, a cultura, a educação, a administração pública, e a transparência que é suposto existir e que é expectável pelos cidadãos.

O Índice é anual e vem sendo construído sucessivamente desde 2019. A sua estrutura assenta em 134 «Indicadores», que se agrupam, por sua vez, em quatro Áreas: “PODER ECONÓMICO”; VALOR ECONÕMICO”; “PODER POLÍTICO” e “VALOR POLÍTICO”. É interessante olharmos para as elites portuguesas, políticas e económicas como se disse, sob os diversos ângulos deste estudo. Lê-se, com efeito, no Relatório sobre o nosso País o seguinte: «Os dados revelam que em Portugal as Elites continuam a revelar uma tendência crescentemente “extrativa” que importa corrigir, mantendo-se Portugal um País pouco competitivo, muito dependente do exterior, muito dependente da situação económica dos seus principais parceiros, um País endividado  e centralista, fortemente dependente do Turismo». Até aqui, nada que surpreenda o cidadão atento e preocupado. Quanto à tendência crescentemente “extrativa” das nossas elites, isto significa que estas tendem cada vez mais a chamar a si fatias crescentes da riqueza nacional, como se pode verificar com os montantes cada vez mais elevados na distribuição de dividendos das grandes empresas pelos “CEO”, “CHAIRMAN”, Acionistas e Empresários, uma preocupação que não é acompanhada com uma mais justa distribuição social da mesma riqueza. Basta que se diga que ainda há dias chegou-nos a notícia segundo a qual essas «elites extrativas” passaram a auferir aumentos da ordem dos 20% nas suas remunerações, enquanto os respetivos trabalhadores e funcionários se ficaram por …5%! Ou seja, as nossas “elites” autoremuneram-se muito bem, “extraindo” grossas fatias da riqueza nacional, mas «esquecem-se dos trabalhadores ou, como agora ridiculamente se diz, dos «colaboradores»…

Mas, será que, ao menos, as nossas “elites”, políticas e económicas, são criadoras de Valor? O suposto é que sim, mas o Índice assevera que não é bem assim: o país que governam ou as empresas que dirigem mantêm-se «pouco competitivas», «muito dependentes do exterior» ( sobretudo dos Fundos e ajudas da União Europeia que têm jorrado abundantemente de Bruxelas desde dois anos antes do início da década de 1990 com paupérrimos resultados), «muito dependentes da situação económica dos seus principais parceiros», ( uma desculpa de rotina para os nossos insucessos e dificuldades…, «um País endividado e fortemente dependente do turismo», ou seja de uma atividade económica de fraco valor acrescentado…

Na área do Poder Político, as elites portuguesas mantêm uma posição crescentemente descendente, ocupando a 19ª posição obtida em 2022, mas caracterizam-se pelo baixo nível de Valor Político criado. Ou seja, mais do que criarem valor, as elites políticas portuguesas destroem valor, como se viu recentemente na destruição das janelas de um gabinete de um Ministério governamental, na situação calamitosa da TAP, na entrega da EDP a acionistas maioritariamente estrangeiros, da Seguradora Fidelidade aos chineses, e bem assim da REN…nos «buracos» dos bancos que tivemos de pagar e ainda estamos a pagar, no desaparecimento da floresta, na destruição dos solos  e na erosão das costas marítimas…  «Destruição de valor», sim! Não é por acaso que na «Criação de valor» as nossas elites desceram de 2022 para 2023 para a 37.ª posição!

Em suma, passando à classificação qualitativa das elites portuguesas constante deste Índice, estas situam-se no escalão das “Elites de Qualidade” que contempla as posições do “ranking” entre a 26.ª e a 75.ª. Se considerarmos que o 1.º Escalão agrupa os países com elites com “Muito Alta Qualidade”, que o 2.º Escalão agrupa as elites de “Alta Qualidade” e que o 3.º Escalão do “ranking” engloba as “Elites de Qualidade”, sendo que abaixo destes três escalões apenas existem mais dois, que são os últimos, pode concluir-se que as nossas elites ocupam uma posição mediana! São medíocres. Como nos admirarmos assim que no próprio Relatório do estudo se escreva isto, reportando-se a Portugal: «Um Trambolhão de 8 lugares em 2023 em relação a 2022»?

Agora só faltava virem alguns plumitivos de serviço, armados em doutores, virem dizer que as causas do «atraso nacional» residem «em o Povo», ou seja, nos trabalhadores ou, como é moda, nos «colaboradores»! Mas, primeiro, olhem para os nossos emigrantes, que trabalham em países com as melhores elites deste Índice.

- 25 mai, 2023