Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Campo experimental para pêssego e cereja projetado na região Voltar

Uma parceria de várias entidades quer que seja criado um centro experimental na Beira Interior, com campos de ensaio destinados ao estudo das culturas do pêssego e da cereja face às alterações climáticas.

Em declarações à Lusa, Maria Paula Simões, professora e investigadora da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB), defendeu a importância de concretizar este projeto naquela região, onde está concentrada grande parte da produção nacional de pêssego e de cereja.

Lembrando que um dos efeitos das alterações climáticas passa pelo aumento médio da temperatura e pela consequente redução do número de horas de frio (que são necessárias a estas culturas), Maria Paula Simões também vincou o contributo que um campo experimental podia dar na recolha de conhecimento, designadamente no que concerne às horas de frio que as diferentes variedades de pessegueiros e de cerejeiras necessitam.

“O que nós defendemos para a região é a existência de um centro experimental que teste as cultivares e que mostre como é que elas se adaptam à região e ao futuro das alterações climáticas. Como é que elas se desenvolvem, quais os tempos entre as diferentes fases de produção”, referiu.

Esta responsável vincou ainda que no caso dos pessegueiros e das cerejeiras há características comuns que poderiam ser estudadas conjuntamente e especificidades que teriam de ser analisadas individualmente, sendo que o conhecimento produzido seria relevante para auxiliar técnicos e produtores a tomarem as opções que melhor se adequassem aos seus objetivos.

Tal acabaria também por contribuir para se evitarem os impactos significativos que as condições climatéricas têm cada vez mais nas produções e que, por exemplo, na campanha do pêssego de 2022 naquela região se traduziram numa quebra entre os 40 a 60%, em comparação com um ano normal.

Nas vantagens que enumerou, a docente também referiu a possibilidade de este se afirmar como um instrumento de atração de conhecimento, de inovação e de empresas ligadas ao setor, que ali encontrariam um espaço para testarem o seu trabalho e soluções de produção.

“Sempre que temos um local de experimentação, ele afirma-se como um elemento de atração de pessoas do setor empresarial e do setor científico”, fundamentou, frisando que isso também contribuiria para captar investimento e fixar quadros técnicos.

Maria Paula Simões referiu ainda que, numa segunda fase, o centro também deveria abarcar a cultura da amêndoa, que tem vindo a ganhar relevância na região.

Quanto a eventuais localizações, Maria Paula Simões apontou os terrenos que o Estado já tem na Quinta dos Lamaçais, que abarca os concelhos de Belmonte e Covilhã e que, no passado, já acolheu outros campos de experimentação.

A docente disse ainda que se está no bom caminho, dado que as entidades parceiras viram aprovada, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), uma candidatura para a criação de um Polo de Inovação da Quinta dos Lamaçais.

Este polo ainda não é o referido campo experimental – que teria um âmbito mais alargado – mas poderia ser um “primeiro passo” para a dinamização e desenvolvimento daquele.

Com a denominação “P2 - Resilis – “Resiliência na Produção Integrada e Sustentável das Prunóideas”, o projeto em causa é liderado pelo IPCB e tem como objetivo o estudo de práticas frutícolas de produção mais sustentáveis, nomeadamente a redução da utilização de herbicidas.

- 24 jan, 2023