Niksen – a arte de fazer nada
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Está aí à porta o mês de agosto, mês de férias por excelência. Quer seja em junho, julho ou agosto, o certo é que o verão traz aquele período em que a maior parte de nós goza de um período de férias mais ou menos longo que nos permite retemperar forças para mais um ano de trabalho que surgirá, mais coisa menos coisa, pelos inícios de setembro.
É neste período de férias que decidimos que iremos fazer tudo aquilo para o qual não tivemos tempo durante todo aquele interminável ano: ler, atualizar filmes e séries que se encontram pendentes há tantos meses, levantar cedo e praticar aquela corridinha, aquela voltinha de bicicleta, aquela caminhada. Iremos, como é suposto num país em que o verão é tão soalheiro e quente, passar dias nas praias e nas piscinas. E, tal como todos os anos, iremos chegar ao final das férias a sentirmo-nos mais cansados do que estávamos no início das mesmas e a pensar – só para nós mesmos porque não temos coragem de o admitir aos outros – que precisamos de férias das próprias férias. A verdade é que acabamos por ter ainda mais atividade durante os dias de férias do que durante os longos meses de trabalho. Não recuperamos fisicamente até porque não se podem recuperar 11 meses de desgaste físico e/ ou mental em pouco mais de três semanas (na melhor das hipóteses) e porque, sobretudo, não nos permitimos parar um pouco e, efetivamente, nada fazer.
Deste modo, e tal como em todos os outros anos, iremos pensar que necessitamos mudar de vida e que setembro vai ser, mais uma vez, o mês das decisões e da mudança (Iremos aprender a levar a nossa vida com mais calma, a não nos deixarmos levar pelo stress, aprender a controlar a ansiedade, aprender a dormir com qualidade e as horas que é suposto, viver ao máximo cada momento, cuidar mais da nossa saúde física e mental, praticar mais exercício, conseguir encontrar tempo para nós próprios e para o nosso bem-estar e, claro, focar-nos em reforçar e melhorar os nossos níveis de motivação ou até a nossa autoestima. No fundo, iremos ser mais felizes.
E tal não será difícil uma vez que, nunca como agora, existiram as ferramentas para nos ajudar a alcançar todos estes propósitos. Por um lado, proliferam como cogumelos os livros de autoajuda nas livrarias. Por outro, e com um smartphone sempre ao nosso alcance, estão também à nossa disposição as suas apps de saúde, fitness, promoção de resiliência e de bem-estar. As escolhas são muitas e variadas e os preços também. Contudo, a questão que se me coloca é: “necessitaremos mesmo de todas essas “apps” e destes livros de autoajuda?”
Parece-me que não. Aquilo que, quanto a mim, necessitamos é de parar, estar quietos e respirar profundamente, sem pensar nem fazer nada. No fundo, o que estou a defender é que todos precisamos de pôr em prática a tendência holandesa a que deram o nome de Niksen. E o que é isso do Niksen?
Poderia resumir numa só frase o que se entende por Niksen: é a capacidade de não fazer nada e ser feliz. É não ter qualquer objetivo a ser atingido naquele momento. Praticar o niksen é ter a capacidade de desligar completamente do mundo que nos rodeia e até de nós próprios, estando em completa inatividade.
Dito assim, com essa simplicidade, torna-se quase risível. Todos temos uma pequena voz neste momento a dizer-nos: “é para não fazer nada?! Nisso eu sou bom! Vamos lá!”.
Mas a verdade é que num mundo que gira tão depressa e em que estamos sempre ligados, será assim tão fácil desligarmos? Provavelmente não! E é por isso que praticar o niksen é algo que tem de ser aprendido. Sugere-se iniciar esta prática por 10 ou 15 minutos diários, alargando esses minutos até aos 60 minutos quando tal for confortável para o praticante. E o que se fará durante esses minutos? Reforço, uma vez mais: nada! A ideia é apenas estar sentado e observar, a uma janela (por exemplo) o mundo. Sentar-se afastado de tudo o que seja computador, smartphone, televisão. Fazer-se acompanhar de alguma bebida que nos seja agradável e limitarmo-nos a estar, observar. Dar um passeio também poderá considerar-se praticar o niksen. Mas, volto a repetir, longe de qualquer objeto tecnológico. Passear só porque sim e não numa caminhada onde estaremos a contar os passos, o tempo em que caminhámos, as calorias que queimámos. Apenas caminhar, observando o que nos rodeia, limitando-nos a praticar o ato mecânico de caminhar.
Dizem os praticantes de niksen que tal atividade (ou seria melhor dizer, inatividade?) permite reduzir a ansiedade e o stress, ao mesmo tempo que fortalece o sistema imunitário. É referido que este “sonhar acordado” (efeito inevitável destes momentos de não fazer nada) poderá aumentar a criatividade dos seus praticantes, ajudar a encontrar soluções para vários problemas, tonando as pessoas mais decididas e com raciocínio mais rápido.
E é esta a minha proposta: comecem a praticar o niksen desde já nas vossas férias, preparando o vosso regresso ao trabalho, e iniciem a uma nova forma de estar na vida pessoal e profissional menos ansiosa, com mais bem-estar e mais feliz! Boas férias!