Poesia a bordo do Saramugo (2010-2013)
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Dizem que a OBSESSÃO DO ESCRITOR é escrever, sobre isto ou aquilo! E o que escreve é autobiografia? É como um purgar, sublimar, desenraizar? Revelar recalcamentos?
Bem, isto tudo apenas fica como apontamento e ponto de discussão, mas alguém dizia ainda que “a escrita é algo que nos mantém focados numa dificuldade ou num insulto” e que “bons sentimentos são péssima literatura”, e isto em referência aos escritores.
Seja como for e porque escrever é comunicar, relatar, imaginar… Escrever é tanta coisa…
Aqui deixo um relato de um passeio a bordo do Saramugo, organizado pela escritora Lurdes Breda, de Montemor-o-Velho.
Saramugo, um nome estranho, mas que não esqueço porque me lembro do nome do escritor Saramago.
E aí vou eu integrada nessa viagem com poesia, no rio Mondego, aproveitando a maré que nos leva da Figueira da Foz a Montemor.
A poesia correu, espalhou a sua voz ao Mondego e o eco doce, gritado ou suave, mas vivo, mágico e enamorado dos poetas, fez-se ouvir …para além da margem, espalhando-se pelos campos de arroz, deixando encantadas pelas estranhas visitas, as garças que vemos em grandes bandos, poisando suavemente nas margens românticas do rio.
A meio da viagem o barco amarou…
Meu Deus - diziam uns; ora bolas - diziam outros. E o verde água revela-nos a serenidade de muitas garças, descontraídas e felizes, talvez estranhando as nossas vozes e, porque não dizer, a nossa algazarra. Considerei curioso, como sempre, e “nada de estranho vai acontecer”, pensei!
No facebook apareciam já publicações: Poesia com Camões, Poesia com Portugal… o Mondego com poesia no Saramugo…
As emoções… Como me emocionei cantando ao Mondego, até que subisse a maré…. Cantámos, cantámos…
E lancei ao Mondego o poema feito com esse fim:
SALinas (homenagem ao Mondego)
Também com sal se saboreia a vida
Deixando p’ra trás lágrimas perder
Na caminhada de anseios vivida
Doce afago quero então receber.
Na frescura d’águas que o mar abraça
D’esperanças vivo em ânsias de ternura
Doces caminhos que o lindo rio traça
Levam no vento auroras de ventura.
Ai, mas que belo é o vosso dançar das águas
Nos cuidados que esta minha alma sente
Como correr a vida em frescos leitos
Esquecer, desejo, pois as minhas mágoas
E se a corrente meu devaneio consente
Me liberte em desejos satisfeitos.
Aos poucos, a maré começou a subir e, ao de leve, magicamente, o Saramugo rodou para inverter a sua marcha, a caminho da Figueira da Foz, que nos esperava, no seu imenso areal brilhando ao sol.