Contra o populismo, falar verdade!
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A extrema-direita populista, para desviar as tenções do seu plano inconstitucional e ilegal, tem usado e abusado de um discurso de ódio, xenófobo, racista, elitista e classista que, por ser simplista e mentiroso, colhe ouvintes e até apoios entre pessoas que se sentem frustradas e desiludidas com a forma trapaceira, cínica e subserviente ao poder económico e financeiro como os partidos do chamado arco da governação têm (des)governado o nosso país.
Uma das linhas desse discurso é a estigmatização das pessoas que recebem o Rendimento Social de Inserção, com especial destaque para as pessoas de etnia cigana, procurando fazer deles e do que recebem o problema central para o atraso económico e social do nosso país.
Como não há nada mais real que o realmente, vejamos os números da Segurança Social sobre o Rendimento Social de Inserção, em Março de 2022: Beneficiários Individuais. Total do país: 198.758: 1,92% da população (10.347.892); Distrito de Castelo Branco: 3.313 = 1,86% da população (177 912); Distrito da Guarda: 2.551 = 1,78% da população (143 019).
Valor médio pago por beneficiário: Média do País: 119,98€; Distrito de Castelo Branco: 123,71€; Distrito da Guarda: 123,86€.
Famílias beneficiárias: Total do país: 94.196; Distrito de Castelo Branco: 1.557 = 2 pessoas por agregado; Distrito da Guarda: 1.236 = 2 pessoas por agregado.
Valor médio pago por família: Média do País: 260,91€; Distrito de Castelo Branco: 274,10€; Distrito da Guarda: 262,25€
Pessoas de etnia cigana a receber: No país: 7.550 (3,8%); Distrito de Castelo Branco: 127 em 3313 (3,8% por extrapolação, devem ser menos); Distrito da Guarda: 95 em 2551 (3,7% por extrapolação, devem ser menos)
Estes números desmentem com muita clareza a propaganda da extrema-direita e provam que o esbulho das contribuições da Segurança Social Pública e dos impostos que pagamos ao Estado não se situam nestes casos.
Quem consegue viver com 120Euros/mês se for sozinho ou com 260 euros/mês se tiver família? Desafio os populistas demagogos da extrema-direita a ser despedidos, acabar o período de concessão do subsídio de desemprego e depois serem velhos para trabalhar e novos para irem para a reforma e viverem com este dinheiro. O que é isto comparado com os ladrões que levaram a Banca e em especial o BES, o Banif, o BPP, BPN e outras importantes empresas à insolvência, cujos custos foram e estão a ser pagos por todos nós e que causaram danos irreparáveis à economia portuguesa?
Aliás, comparar os números e valores do RSI com aquilo que se passou com os milhares de milhões que foram concedidos no âmbito das Medidas Excecionais e Temporárias – Covid 19, onde os micro, pequenos e médios empresários se viram aflitos para aceder e com que os “galifões” do costume se apoderaram, é comparar a água com o azeite (até agora já foram 5mil milhões de euros no país, a maioria dos quais para as grandes empresas). É isto que o poder político, incluindo os grandes meios de comunicação social dominados pelo poder económico e financeiro, procuram esconder, lançando anátemas, suspeições e mentiras sobre pessoas profundamente fragilizadas.
É que, centrando nestas pessoas o ónus de todos os problemas, a extrema-direita procura desviar a atenção daqueles que neste país concreto são corruptos (pequenos, médios e grandes), dos que fogem aos impostos, dos que levam o dinheiro de Portugal para os paraísos fiscais e dos subsídio-dependentes que recebem milhares e milhões do Estado e pagam salários miseráveis e especulam com preços, ganhando em dois carrinhos. Estes é que são o “cancro” que mina a economia e coloca em causa o Estado Social e impede o crescimento dos salários e das pensões e por consequência, a modernização e a competitividade do país e a melhoria das condições de vida da maioria do povo português.
Quero com isto dizer que no RSI não há abusos? Claro que há e devem se combatidos! Que as políticas de integração e de cultura do trabalho e do seu valor não devem ser incentivadas? Claro que devem! Que não há necessidade de uma maior fiscalização, de uma maior moralização e de um maior rigor na concessão destes e outros apoios? Claro que há necessidade! Há necessidade de muito mais fiscalização e por maioria de razão muito mais e mais pesada fiscalização daqueles “tubarões gordos” que “engordam” à custa do erário público.
Sejamos exigentes, exijamos o controlo todo e toda a moralização na concessão dos apoios sociais, condição para a sobrevivência e sustentabilidade do Estado Social, mas nunca esqueçamos que atirar aos que menos podem e têm, é aliviar as costas aos verdadeiros prevaricadores, porque estes é que são os responsáveis pelo atraso económico e social de Portugal e da nossa região.
Luís Garra, Sindicalista