Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Estudo da Federação Portuguesa de Futebol, obriga Castelo Branco a refletir! Voltar

A Federação Portuguesa de Futebol através do seu Observatório, publicou recentemente um interessante estudo com a temática “Como identificar um jogador de topo através do percurso nas seleções jovens nacionais”.

Neste documento despertou-me atenção os dados sobre o número de jogadores que chegaram às seleções nacionais jovens (entre 2011 e 2021), tendo como principal referência o distrito onde esses atletas realizaram as suas primeiras inscrições como praticantes da modalidade.

Como seria de prever, a incidência de jogadores que chegam às seleções nacionais provenientes de distritos do litoral é significativamente elevada, comparativamente com distritos do interior do país. Este é um facto que não torna o interior inferior, mas sim uma região com características demográficas distintas, que merecem um tratamento diferenciado, apelando à criatividade dos agentes decisores dos distritos mais afastados do Atlântico. É fundamental manter a referência dos melhores, sem nunca cometer o erro de replicar as regiões com características diferenciadas, nomeadamente por terem uma base de recrutamento de jogadores maior e onde se posicionam clubes com uma capacidade de atração e retenção de jovens talentos muito elevada.

Por outro lado, na análise que fiz ao documento, tive a curiosidade de comparar o número de jogadores que chegam às seleções nacionais, tendo como referência o seu distrito de proveniência, com a percentagem de população desses mesmos distritos, numa faixa etária compreendida entre os 5 e os 19 anos.

Dos distritos do interior do país, curiosamente e infelizmente, o distrito de Castelo Branco tem a mais elevada população entre os 5 e os 19 anos, mas o menor número de jogadores que chegaram às seleções nacionais na última década, tendo chegado apenas 1 jogador. Para que o leitor fique com a referência do que está a acontecer nesta faixa geográfica, que contacta diretamente com a fronteira do nosso país vizinho, o distrito de Évora fez chegar 9 jogadores às seleções nacionais, Bragança 5 jogadores, Guarda e Beja 3 jogadores e só Portalegre tem um registo igual ao distrito de Castelo Branco, apesar de ter uma densidade populacional, na faixa etária em análise, muito inferior.

Concluo assim, que estes dados devem servir para tomar sérias decisões com impacto a médio e longo prazo, pois é evidente que o distrito de Castelo Branco se encontra muito abaixo do seu potencial natural. Este estudo deve fazer os agentes desportivos refletirem que ganhar os campeonatos é importante, formar em cima das vitórias também é relevante, mas é um objetivo deficitário caso estes resultados classificativos não estejam assentes num sério e ajustado plano estratégico de crescimento, pensado no sucesso individual e coletivo a longo prazo. Tal como acontece nas empresas, a missão, visão e os valores devem nortear a dinâmica de clubes e associações, evitando pensamentos únicos a curtíssimo prazo, pois está patente que isso é um nítido desperdício de recursos humanos e financeiros.

Muitas vezes incorremos no erro de dizer que a nossa base de recrutamento é pequena, justificando, desta forma, o insucesso formativo no desporto. De facto, é significativamente mais pequena se compararmos com o litoral, contudo, é maior comparativamente com outros distritos do interior. No entanto, parece-me que os resultados alcançados tendo em conta este nível de análise, é notoriamente inferior.

Não querendo ser negativo, mas friamente factual questiono: não estaremos a desperdiçar talentos no nosso distrito? Os clubes têm os recursos necessários para potenciar o talento? Os clubes têm a organização necessária para que os jogadores mais talentosos tenham condições para evoluir com sucesso? Estamos a proporcionar condições de treino competitivas para que os jovens talentos possam atingir patamares superiores?

Tal como na medicina, o diagnóstico está feito. Cabe a nós, agentes desportivos, prescrever as medidas certas para que o nosso distrito não passe mais 10 anos com o mesmo estado de “saúde”.

Posto isto, concluo que um clube com foco na formação desportiva pode ganhar todos os campeonatos, mas isso, por si só, não é necessariamente sinónimo de sucesso.

 

 

João Sá Pinho, Professor

 

- 02 abr, 2022