Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

António Correia, o prodígio beirão do automobilismo Voltar

Em 2008, com apenas seis anos, teve a primeira experiência no mundo do automobilismo e em 2011 disputou o troféu Rotax (campeonato nacional com motores Rotax). No ano seguinte sagrou-se campeão no mundo do karting, feito que repetiu após três anos. Em 2019, o piloto fundanense conseguiu a afirmação absoluta ao vencer nos monolugares, título que revalidou em 2021. No mundo do automobilismo, António Correia é sinónimo de vitória, e tem os olhos postos nas 24 horas de Le Mans

 

Há quantos anos fez a estreia no mundo do automobilismo e qual o balanço que faz deste trajeto?

A estreia foi em 2008 com apenas seis anos, no kartódromo do Tortosendo, foi lá que comecei a dar as minhas primeiras pisadas no mundo do automobilismo. Alguns anos depois, em 2010, participei na iniciativa «Onde está o às» e consegui garantir um kart para realizar o troféu Rotax do ano seguinte (campeonato nacional com motores Rotax). Conseguimos sagrar-nos campeões em 2012 e 2015 no mundo do karting e, no ano de 2019, iniciámos a nossa competição no mundo dos monolugares, sagrando-nos campeões em 2019 e 2021. Foi sem dúvida um trajeto muito positivo. Sinto que tínhamos potencial para, no mínimo, vencer mais um campeonato no karting, mas sempre nos foi difícil treinar e preparar melhor as corridas. O que é certo, é que todo esse potencial foi demonstrado na minha primeira corrida de fórmulas (em 2019) em que conseguimos vencer na minha classe (PT) e ficar em 2º lugar da geral numa corrida que se disputou à chuva. Também é notável este mesmo potencial nos dois anos seguintes: Fomos segundos classificados e vencedores da categoria PT em 2020 e 2021, respetivamente. No entanto, só posso ficar grato por todas as conquistas. São muito importantes para mim e para a equipa e só posso agradecer à equipa, aos meus patrocinadores, à minha família e amigos e em especial ao meu pai. Foi ele que me levou ao Tortosendo nesse ano.

 

No início de 2019, com apenas 16 anos, fez a ambicionada transição para as corridas de monolugares. E foi chegar, ver e vencer. Qual o segredo para esta rápida adaptação à velocidade?

O segredo está na dedicação, no trabalho e no foco. Esta transição exigiu de mim uma rápida adaptação, realizámos apenas um dia de testes no Estoril, mas a minha primeira corrida em 2019, feita à chuva, foi a junção de todo o trabalho que tivemos nos anos anteriores. Todo o trabalho e dedicação dos anos anteriores veio ao de cima, mais uma vez, e mostrou que vale a pena focarmo-nos nos nossos objetivos. Todos os anos de karting foram importantes para o meu crescimento no mundo automóvel, e mesmo por ser considerada uma escola, esta modalidade preparou-me para naquele dia de chuva, conseguir escapar a todas as adversidades.

 

Quais são os objetivos para a próxima época que inicia em abril?

Esta época, os monolugares vão ganhar «asas». O Fórmula da FunSpeed vai ter uma asa à frente e atrás para podermos ser mais rápidos em curva. Para além disso, o motor vai ser evoluído e, juntando estes dois fatores, vamos ser mais rápidos no geral. Os objetivos passam por aprender ao máximo como o fórmula se vai comportar e como poderei desenvolver a sua afinação para lutarmos pela vitória durante toda a época. Nunca pilotei nenhum monolugar com asas, pelo que será mais uma prova de trabalho com o objetivo de conseguirmos o melhor resultado possível.

 

O sonho de chegar à Fórmula 1 continua a ser um objetivo?

Neste momento vejo a fórmula 1 como algo que prefiro apreciar do lado de fora, sinceramente. É um espetáculo que vejo religiosamente todos os fins de semana de Grande Prémio e penso que prefiro assistir do lado de fora. Passados alguns anos, desde que me iniciei no mundo do automobilismo, tenho os meus sonhos mudados. Neste momento vejo as 24 horas de Le Mans, como algo que me faz sonhar muito mais e também algo bastante mais possível que a Fórmula 1. Por outro lado, tenho um sonho que gosto mascarar de objetivo: Poder continuar no mundo da competição por muitos anos, como algo que anda de mãos dadas com o meu dia a dia, tal como o meu trabalho pessoal. Seria para mim um sonho, daqui a 30 anos continuar a praticar este desporto que é a minha paixão, é aquilo que tenho prazer em aprender e fazer mais. Para mim é um sonho porque não é fácil arranjar novos apoios para competir época após época e porque olho sempre para as mesmas uma de cada vez. Nunca demos o passo maior que a perna no que toca a orçamentos e tentamos sempre pensar em cada etapa de uma forma dedicada, para não comprometermos anos posteriores.

 

Quais os principais títulos que destaca ao longo destes dez anos no mundo do desporto automóvel?

Todos. Todos eles foram um espelho do nosso esforço, trabalho e dedicação. Foram dez anos repletos de vitórias. Mesmo quando não trouxe o maior troféu para casa, ganhei experiência e vontade de melhorar. Claro que há títulos mais saborosos que outros. Para mim, o campeonato de 2015 é aquele que recordo como mais saboroso porque conseguimos dominar a concorrência num ano em que a mesma estava presente em quantidade e qualidade. O ano de 2019 deu-nos também um grande título, é sempre bom vencer na nossa época de estreia nos monolugares, principalmente quando conseguimos ultrapassar algumas adversidades que se atravessam pelo meio do caminho.

 

O automobilismo é um desporto que exige um investimento elevado e o facto de estar no Fundão inflaciona ainda mais o orçamento de uma época. Que mensagem quer deixar a quem o tem apoiado?

É verdade, felizmente a construção do excelente kartódromo de Castelo Branco é uma mais-valia para mim e para a região porque permite-me treinar mais vezes num kartódromo. No entanto, o autódromo que tenho mais perto é o do Estoril e apenas em pistas como essa posso treinar com o monolugar. Para nós, é imensamente dispendioso alugar o autódromo pelo que tentamos sempre aproveitar «Track Days» que apareçam pelo ano. Sem dúvida, todos os meus patrocinadores são um grande pilar da minha carreira no automobilismo, tenho comigo empresas e pessoas que me apoiam desde o meu primeiro ano de karting e sinto-me bastante agradecido por poder contar com eles. Do meu lado, tento sempre dar-lhes os melhores resultados possíveis e o máximo de visibilidade possível, é um orgulho transportá-los pelo mundo fora e espero continuar a fazê-lo, por muitos anos.

- 21 jan, 2022