Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Um Mundo inseguro e perigoso Voltar

Sobre o ano que agora começa, nem temos necessidade de recorrer a exercícios – sempre falíveis e especulativos – de profecias ou previsões, uma vez que a realidade presente, aquela com que terminámos 2021, quer no plano nacional quer internacional, fala por si só e se nos apresenta tão evidente e clara nos seus diversos riscos, ameaças e perigos, que não precisamos de recorrer a tais exercícios de previsão e muito menos de adivinhação. Basta que olhemos essa realidade com a clareza e a lucidez que ela exige. E – muito importante – que nos preparemos e nos disponhamos a enfrentá-la, de acordo com as nossas disponibilidades, em vista da construção de um Mundo bastante melhor do que aquele que ora temos e que almejamos legar aos nossos descendentes. A História, o Futuro, como insensatamente alguns pretendem, não estão pré-determinados nem escritos, e não caminham, necessariamente, rumo a uma qualquer finalidade pré-estabelecida por autoproclamados profetas que reivindicam para si a posse da Ciência da História. São os homens e as mulheres de carne e osso, agindo em conjunto, que pelo seu pensamento e pela sua ação, em liberdade, constroem o mundo que querem e que anseiam legar aos vindouros. Desiludam-se os apologetas dos amanhãs que cantam ou das promessas messiânicas que, como a História se encarregou de mostrar num passado recente, não só faliram como se fizeram acompanhar, na sua execução dramática, de rastos de miséria, de exploração, de opressão e de crimes hediondos. Este é o legado horripilante de todos os regimes ditatoriais e totalitários, nazi-fascistas ou comunistas. Que os Povos de todo o Mundo não querem ver regressar. O nosso futuro, um futuro possível e viável, só será realizável no quadro da Democracia e da Liberdade.

Olhemos, por conseguinte, agora que um novo ano começou, com olhos de ver, os sinais dos tempos que se perfilam perante nós e tenhamos a lucidez de ler e interpretar esses sinais, a fim de melhor podermos agir sobre eles. Vários são os riscos que ameaçam a Humanidade e a Casa Comum: uma Guerra Nuclear entre as potências detentoras de vastos arsenais atómicos, a maioria dos quais vieram do século passado, dos Estados Unidos da América e da ex-União Soviética, aos quais se acrescentaram entretanto outras potências e países. Uma tal guerra, a desencadear-se, não pouparia nem a humanidade nem as condições de vida viável no Planeta. Nos nossos dias, este risco está longe de poder ser descartado, atentas as manobras que envolvem a China Comunista, a Rússia de Putin que, fiel ao seu “Euroasianismo” orientalista e eslavófilo, sonha em reconfigurar o Mapa da Europa, destruindo a União Europeia, o maior Bloco Democrático do Mundo, tornando-se assim no terceiro protagonista deste xadrez geopolítico. E, por fim, os Estados Unidos da América, talvez os detentores do maior arsenal atómico do Mundo. Para evitar este Apocalipse, a via não é militar, antes pelo contrário, é o recurso ao Multilateralismo entre os países, a que devem somar-se os movimentos pela Paz, em todo o Mundo. Devemos sonhar e lutar pelo desarmamento, como horizonte possível da Esperança.

As Alterações Climáticas constituem o outro risco que impende sobre todos nós e, também elas, se não as combatermos, a todos os níveis e não apenas no plano tecnológico mas também alterando profundamente as nossas prioridades e os nossos estilos de vida, irão desaguar na destruição do Planeta e da Biosfera – a única Zona da Terra onde a Vida é possível. Aqui, a par com as mudanças individuais indispensáveis, impõe-se a criação e o desenvolvimento de poderosos movimentos populares que forcem os Governos a tomar as medidas que são necessárias.

E o que dizer dos riscos de novas Pandemias? Será que poderemos esperar que, vencendo esta, outras não se lhe seguirão? Cientistas reunidos em Institutos e Centros de Pesquisa de Riscos (como o CSER de Oxford) têm vindo a alertar contra este otimismo e preferem dar relevância a políticas de prevenção, pesquisa e desenvolvimento dos Serviços de Saúde, acompanhadas de inovações sistémicas, como novos conceitos de Urbanismo e de Cidade, proliferação de espaços verdes, de lazer e de convivialidade, inovação na Mobilidade.

Sim, queremos a Paz e não a Guerra. Queremos salvar o Planeta. Queremos, enfim – e estes riscos estão interligados – evitar que novas Pandemias nos paralisem a Vida e a Esperança. E tudo isto com Democracia e com a Liberdade – ou as Liberdades!

 

António Assunção, Professor

- 14 jan, 2022