Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Foi uma Honra, lutar pelo Distrito e por Portugal Voltar

Ao fim de 16 anos de exercício do mandato de deputada pelo círculo de Castelo Branco, estou grata por ter tido a oportunidade de lutar afincadamente pelo desenvolvimento e por mais coesão social e territorial para Portugal, para o interior e para o nosso Distrito.

Fui reeleita diversas vezes desde 2005, assumindo progressivamente cada vez mais responsabilidades. Nas últimas duas eleições fui, por escolha do Secretário-geral António Costa convidada a encabeçar a lista do PS às eleições legislativas pelo círculo eleitoral de Castelo Branco, com votações excelentes, as segundas maiores do país, e há dois anos elegemos mesmo 3 deputados em 4 mandatos. Foi extraordinário, até tendo em conta o contributo “negativo de alguns”.

Nesta legislatura assumi a Vice-presidência da área da Saúde em nome do Grupo Parlamentar do PS e em termos internacionais a Vice-presidência da União Interparlamentar, onde fui aí eleita para a Comissão do Médio Oriente. Tive o gosto de intervir em vários fóruns internacionais, na ONU, fui convidada para intervir na OCDE (sobre políticas de Habitação), na Organização Mundial de Comércio, e mais recentemente na Health Summit - Saúde, mas também no Fórum Internacional das Mulheres em Nova Iorque e na COP 24 em Katowice e COP26 em Glasgow, sobre o clima, ambiente e sustentabilidade, para dar apenas alguns exemplos. Participei também a convite, numa visita à NATO e em reuniões no seu comando em Bruxelas e em Nápoles.

Durante este percurso, pertenci e fui eleita para várias direções do Grupo Parlamentar tendo sido vice-presidente, do Alberto Martins, Carlos Zorrinho, Eduardo Ferro Rodrigues e Ana Catarina Mendes, a todos agradeço a confiança e oportunidade de trabalho. Mas também a outros líderes parlamentares com quem trabalhei como o Francisco Assis, a Maria de Belém e o Carlos César.

Fui Vice-presidente da Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas e exerci por diversas vezes a coordenação do Grupo Trabalho do Turismo, também tendo sido coordenadora do PS na Comissão de Economia e porta-voz, para a Energia e para o Turismo.

Integrei ainda como efetiva a Comissão de Orçamento e Finanças, onde tive a área da Modernização Administrativa e pertenci à Comissão de Trabalho e Segurança Social. Trabalhei ainda nas áreas do Desenvolvimento Regional e nos Grupos de Trabalho dedicados à indústria do sector têxtil.

Em termos do trabalho político partidário fui seis anos presidente da Federação Distrital do Partido Socialista de Castelo Branco, tendo sido reeleita por três vezes consecutivas e tendo decidido não me recandidatar na passada eleição, por considerar ser tempo.

Já tinha assumido a vice-presidência da Federação, e todos saberão que estive sempre muito presente em todos os concelhos e sobretudo apoiando onde tínhamos mais dificuldades, numa atitude e trabalho de grande proximidade, que foi sempre a minha prática. E o PS tinha na altura a presidência de 5 das 7 autarquias, com trabalho de relevo feito, enquanto maior partido do poder local do Distrito. Há quase dois anos, deixei uma Federação forte, unida e com influência. Pautei a minha atuação sempre pelo respeito pelas funções acima de qualquer questão pessoal. Integrei os órgãos nacionais, tendo lutado pela maior representação Distrital nesses órgãos, tendo deixado para mim, apenas o lugar de inerente, enquanto Presidente da Federação Distrital.

Termino esta missão, com a consciência do dever cumprido e com a tranquilidade de quem teve várias batalhas, sempre em nome da defesa do nosso distrito, das pessoas que mais necessitam e do interesse publico. Muito foi feito, mas muito fica ainda por fazer, porque há lutas que levam anos, infelizmente, mesmo com combate consistente e coerente. Dia 6 será a última reunião da Comissão Permanente na Assembleia da República, antes das próximas eleições.

Muitas dessas lutas foram travadas dentro do meu partido pela exigência e afirmação da necessidade de mais medidas, com mais impacto nos territórios, porque não são suficientes meros paliativos. Algumas das grandes bandeiras, que coletivamente defendemos como a redução e abolição das portagens nas vias do interior, a construção do IC31, com perfil de autoestrada, a melhoria da ligação da Covilhã a Coimbra por via do IC6, a construção da Barragem do Alvito, a vigilância e segurança da Central de Almaraz foram uma constante das minhas intervenções ao longo deste tempo em que exerci as funções de deputada.

Mas registaram-se importantes compromissos e avanços, em resultado de muita persistência, para que o IC31 fosse incluído no PNI- Plano Nacional de Infraestruturas aprovado na AR e no PRR- Plano de Recuperação e Resiliência. Depois veio um recuo, quando foi retirado do PRR, mas com o compromisso de ser realizado através do Orçamento do Estado. E sim, o IC31 com perfil de autoestrada porque esta é a ligação necessária da região Centro a Madrid através de Monfortinho, e esta é a ligação que o interior e o país merece. A desilusão chegou, com o anúncio de um outro perfil para o IC31, que não cumpre os objetivos. É preciso mais. E as vozes têm de ser audíveis.

No PNI discutido na AR 2019, foram ainda incluídos por minha proposta, muitas destas bandeiras aqui referidas, para além do IC31, como o IC6 ligação da Covilhã a Coimbra e a requalificação da estrada EN 238 no concelho da Sertã, e o Regadio na Beira Baixa, a Barragem do Alvito, o abastecimento de água à Covilhã e a conclusão da Linha da Beira Baixa. 

A ligação da Covilhã à Guarda através da eletrificação da Linha da Beira Baixa foi uma ambição realizada finalmente, e pela qual lutámos também interruptamente.

Na saúde, o reforço de investimentos para as unidades de saúde CHCB, ULS de Castelo Branco, e sempre nos batemos pelo seu reforço, atendendo à dimensão do nosso território e às suas necessidades específicas, como a fixação de profissionais de saúde no interior, o aumento de camas para os cuidados continuados e paliativos, a saúde mental e relembro a luta pela reabilitação do centro de saúde da Sertã que tivemos durante anos, que veio depois a ser concretizado.

Recordo ainda o empenho pelo reforço da UBI e do Instituo Politécnico de Castelo Branco, mas também na requalificação do parque escolar do distrito.

Mas tenho de recordar a luta pela reabertura do Centro de Contacto da Segurança Social, sobre o qual elaborei mesmo um Projeto de Resolução aprovado na AR. A concretização da reabertura deste serviço nacional da segurança social, com a criação de postos de trabalho, que aqui tinha sido instalado pelo governo do PS e depois encerrado pelo governo de direita PSD/CDS, foi muito importante.

Mas não esqueço também as intervenções constantes, pela implementação da tarifa social de energia (eletricidade e gás) ainda durante a governação de direita e que mais tarde veio a ser implementada pelo governo do PS.

Assim, como as dezenas de intervenções pela reposição do IVA da restauração em 13 por cento, que tinha sido aumentado para 23 por cento por esses mesmo governo liderado pelo PSD. E sim, foi também o governo do PS que repôs esta justiça para fomentar uma atividade económica que estava em crise.

O primeiro governo de António Costa criou em Castelo Branco a Secretaria de Estado de Valorização do Interior, que estava no Ministério de Economia, que no segundo governo, foi transferida para Bragança, tendo mudado de titular, com a criação do Ministério da Coesão Territorial. Em Castelo Branco foi instalada a Secretaria de Estado das Florestas…Não pude compreender o alcance desta mudança. Mas veremos o que irá acontecer.

O Partido Socialista foi sempre quem melhor soube pôr em prática, medidas que contribuem para um país mais coeso social e territorialmente, mas mesmo no Partido Socialista é necessário ter voz, para afirmar e lutar por mais e melhor. E foi sempre isso que procurei fazer ao longo deste tempo, nos órgãos próprios e também nos cargos que fui assumindo e para os quais fui eleita, culminando com a Presidência da Federação Distrital de Castelo Branco.

Não admito, que agora alguns queiram menorizá-la e reescrever a história, por protagonismos de egos, argumentando, que agora é um tempo novo, e que a sua voz será mais forte e audível, do que a dos que lhes antecederam.

Em cada intervenção por Portugal nunca me esqueci, que fui eleita pelo Distrito de Castelo Branco, e sempre pretendi ser uma voz ativa, mesmo que por vezes incomoda, para alguns. A defesa do Distrito e das suas gentes, sempre esteve e estará em primeiro lugar.

Sinto que cumpri com determinação as funções pelas quais fui eleita quer pelos eleitores, quer internamente no meu partido, sempre lutando pela missão e propósito de maior desenvolvimento, coesão e bem-estar para os nossos concidadãos.

Agradeço a todos os líderes do meu partido pela confiança depositada, na pessoa do António Costa. Assim como a tantos camaradas que comigo lutaram neste percurso, mas sobretudo agradeço aos nossos concidadãos pelo forte apoio ao qual sempre tentei corresponder com trabalho árduo, e sentido de urgência para encontrarmos as melhores soluções. Peço que me relevem as minhas falhas, talvez por nem sempre conseguir lutar contra certas "manigâncias". Mas para mim, foi sempre mais importante a substância do que a forma e a honestidade e integridade são valores absolutos.

Lamento a forma, como soube da lista do PS, que iria candidatar-se pelo Partido Socialista no círculo de Castelo Branco, e foi pela comunicação social, antes mesmo da apresentação nos órgãos próprios. Não é digno de um grande Partido como é o Partido Socialista. Mas, a todos desejo sinceramente as maiores felicidades e sucessos, para bem do Distrito de Castelo Branco.

No exercício da política nunca devemos estar dependentes, como me disse Jorge Sampaio. E foi sempre de maneira integra e livre que exerci os meus mandatos. Mas também de forma convicta, determinada e sem medos.

E como disse Mário Soares, só é vencido quem desiste de lutar. Por isso, de volta a minha profissão de gestora e economista, não abdicarei como cidadã do exercício da luta pela minha região e país. Só assim sei estar, porque para ser inteiro temos de ser sempre nós mesmos, de forma autêntica.

Por último agradeço a todos, mas também às associações, entidades, autarcas, sindicatos e cidadãos que contribuíram para a qualidade do trabalho parlamentar. À comunicação social, em especial a este órgão onde mensalmente escrevo, os meus agradecimentos pela divulgação do trabalho parlamentar e do seu escrutínio pelo cidadão.

Um agradecimento à minha família e em especial aos meus pais, que sei orgulhosos, mas que verdadeiramente nunca “me quiseram ceder” à política.

Há algo que asseguro, a todos os que acreditaram em mim e me deram a sua confiança, coloquei sempre os interesses, do meu distrito e de Portugal em primeiro lugar, porque só assim faz sentido estar na política e para mim, exercer estas funções.

 

 

 

Hortense Martins, Deputada AR

- 06 jan, 2022