Entre 4 e 6 de novembro decorreram as XXII Jornadas da Sociedade Portuguesa de Psicologia do Desporto na cidade de Leiria. Deste a sua primeira edição, em 1978, que este evento científico e profissional tem promovido o desenvolvimento de uma comunidade científica e profissional interessada pelas áreas da Psicologia do Desporto, do Exercício e da Performance.
Na senda do que tinha ocorrido em edições anteriores, este ano contou com diversos estudos da autoria de investigadores com ligação à região, os quais estavam relacionados com aspetos técnico-táticos de futebol e de futsal, a transição de carreiras dos jogadores ou o desenvolvimento da carreira dos árbitros portugueses.
Um dos temas mais debatidos incidiu sobre aspetos de cariz psicológico. Explorou-se a saúde mental e a importância do prazer na prática desportiva. Este assunto ganha maior relevância quando nos deparamos com os testemunhos de atletas de alta competição como o campeão do mundo João Matos ou a atleta olímpica Vanessa Fernandes, os quais relataram como vivenciaram momentos de desequilíbrio mental durante as grandes provas em que estiveram envolvidos.
Um dos estudos mais peculiares - “A escrita também vai ao ginásio” - foi apresentado pela investigadora Paula Cristina Ferreira. Através da aplicação de vários questionários a alunos de três turmas do sétimo ano de escolaridade que participaram numa sessão de escrita semanal foi possível verificar que a determinação e o esforço durante a produção textual aumentaram significativamente, principalmente nos alunos que praticavam uma atividade desportiva e/ou artística (música ou dança). Este facto levou a investigadora a concluir que a “determinação e a consciência do esforço são habilidades que se revelam transversais, potenciadoras de desempenho”.
Numa época em que as atividades não curriculares retomam a sua normalidade, este estudo vem reforçar a sua importância, demonstrando como as mesmas contribuem para o desenvolvimento de competências fundamentais para o sucesso do indivíduo em qualquer atividade.
Infelizmente nem todos têm a plena consciência do papel do desporto na educação dos seus filhos. Há quem o veja como uma perda de tempo que condiciona a prossecução dos estudos. Muitos encaram-no como um brinquedo que pode ser privado aos seus educandos quando estes não atingem o sucesso escolar pretendido. Noutros casos, são os jovens que, com a complacência dos seus progenitores, encaram a prática desportiva (treinos e jogos) como um passatempo que realizam quando lhes apetece. Estas atitudes displicentes acabam por condicionar o crescimento do jovem e também de todo um grupo. Na realidade, autorizando que um filho vá ao treino quando lhe apetece, estamos a transmitir uma mensagem errada, segundo a qual o único compromisso que um indivíduo deve ter é com a sua vontade.
Como se depreende, a literatura tem vindo a demostrar quão erradas são estas ideias preconcebidas e estereotipadas. Na realidade, a prática desportiva, quando realizada num contexto favorável, é fundamental para o desenvolvimento de competências essenciais transferíveis para vários domínios.
Sérgio Mendes, Professor e Árbitro