O racismo e a falta de uma “mão de ferro”
Voltar
Nos últimos anos têm-se multiplicado o número e a tipologia de ações de cariz cívico ou político no mundo do desporto. Na mais recente, os atletas têm-se ajoelhado para se manifestarem, de forma simbólica, que estão contra o racismo.
Infelizmente a adesão, ou não, a este tipo de manifestação tem provocado alguma celeuma. A federação norte-americana de futebol proíbe que qualquer atleta se ajoelhe durante o hino nacional, ao mesmo tempo surgem relatos da falta de consenso coletivo nestes atos públicos como é bem visível no alinhamento das equipas. Ora, uma má comunicação é bem pior que a inexistência de uma comunicação.
São incidentes como estes que relegam para segundo plano o verdadeiro problema: o racismo. Esta é uma realidade visível que começa a surgir cada vez mais como arma de arremesso entre nações com a agravante de ser promovida através dos mais altos dirigentes políticos.
Um dos muitos jogos de apuramento de equipas europeias para o Mundial do Qatar foi marcado por vários insultos racistas e antissemitas direcionados aos jogadores da equipa visitante. Na sequência o primeiro-ministro da equipa insultada solicitou uma forte intervenção por parte da FIFA. Como resposta, o líder político visitado mostrou um exemplo de um comportamento indevido por parte dos adeptos da equipa insultada. Estes responsáveis políticos (se é que assim se podem definir) estão a comportar-se como uns típicos meninos da primária que debatem a sua masculinidade medindo os seus órgãos sexuais. Estas declarações podem contribuir para a afirmação de um nacionalismo outrora perdido e até dar bons resultados eleitorais a curto prazo. Mas este não pode ser o caminho uma vez que, a longo prazo, contribuirá para matar os valores do desporto, da partilha e da competição e, mais grave, ameaçar sã convivência e solidariedade entre povos que garante a paz mundial.
Esta atitude paternalista, marcada por declarações públicas e sem quaisquer ações concretas, marcou a relação de Margareth Thatcher com futebol durante quase toda a década de 80. Até um dia… no Estádio de Hillsborough, em abril de 1989 morreu uma centena de adeptos antes de uma meia-final da Taça de Inglaterra. Nada surpreendente. Este episódio foi mais um, depois das mortes nos estádios de Bradford ou do Heysel em meados da mesma década. Nesse instante, quando compreendeu a dimensão do problema, a líder inglesa acordou para a realidade que marcava o futebol inglês. Foi o início de uma verdadeira revolução no combate à violência, ao hooliganismo e na promoção do futebol industrial com tudo o que isso trouxe de bom e nefasto.
Sérgio Mendes, Professor e Árbitro