Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Vamos descobrir a Beira baixa? Voltar

A começar por Oleiros e a terminar em Penamacor, a blogger de viagens Catarina Leonardo, dá-lhe a conhecer a experiência da passagem por seis municípios que têm tanto para oferecer

 

Oleiros

Aldeia de Xisto de Álvaro

Quando pesquisei por locais interessantes para conhecer em Oleiros, descobri várias referências muito positivas a Álvaro, uma das Aldeias de Xisto desta região, que me convenceram totalmente. Decidi então ir e não me desiludiu mesmo nada! Diria até que é um ponto obrigatório de visitar do município.

Confesso que o casario não é o mais interessante que já vi, quando comparado com várias outras Aldeias de Xisto que conheço na região, dado que o seu aspeto exterior não tem a pedra que normalmente as caracteriza. Aqui em Álvaro as fachadas encontram-se na sua esmagadora maioria rebocadas com cal, por isso esta aldeia é até conhecida como “branca”, não se encontrando associada à imagem a que normalmente nos remetem as palavras “Aldeias de Xisto”. No entanto continua sempre a valer a pena percorrer a povoação e tomar contacto com a população, com todo o património religioso e com os vestígios deixados pela Ordem de Malta que andou por aqui há vários séculos, numa época próxima da constituição de Portugal. Vale a pena reparar por exemplo no exterior de uma casa localizada junto à Igreja Matriz onde se encontra a Cruz de Malta ou conhecer a Casa dos Hospitalários, um turismo rural que já foi a Casa do Comendador da Ordem de Malta. Optei por não ficar alojada aqui pelo distanciamento geográfico do meu percurso mas fiquei mesmo curiosa em ter a experiência de ficar a dormir num local com tanto para contar.

Além de toda esta história, o que torna mesmo impressionante a aldeia de Álvaro é a sua localização. Encontra-se no alto de uma escarpa junto ao rio Zêzere, tendo um formato que parece acompanhar na perfeição o seu serpentear, tudo isto inserido num cenário montanhoso de cor verde a perder de vista. Lá em baixo, no rio, existe uma praia fluvial com o mesmo nome da Aldeia e que parece ter tudo para ser um local ideal para uns bons mergulhos. Não conheci esta praia, observei apenas do centro de Álvaro mas deu para perceber que é tranquila e que possui uma envolvência interessante, convidativa a bons momentos de lazer.

 

Proença-a-Nova

Praia fluvial de Alvito da Beira (Freguesia de Sobreira Formosa e Alvito da Beira)

Esta é a minha praia preferida de Proença-a-Nova! Fica a uns dez minutos (de carro) do centro da vila, a 30 minutos da praia fluvial de Fróia e um pouco menos do que isso da Praia fluvial da Cerejeira. A distância entre elas é relativamente pequena por isso é totalmente possível conhecê-las a todas se assim for o desejo do visitante. Eu coloquei a mim mesma o objetivo de conhecer as cinco praias, para perceber as suas diferenças, mas sabia que tinha de optar por apenas uma delas para ficar mais tempo, para a Maria ter o tempo dela e explorar tudo ao seu ritmo. Logo que cheguei à Praia fluvial de Alvito da Beira percebi que só podia ser esta. Há aqui por este vale uma beleza e envolvência natural que rapidamente me fascinaram.  Até é engraçado pensar no nome da Rota que sai deste local: Recantos e Encantos. Imagino que sejam 11 quilómetros mesmo encantadores, tal como refere o nome. Foi aqui que estendemos as toalhas na relva e entrámos na água. Bem na verdade, foi apenas o Ricardo e a Maria. Eu não consigo entrar em água fria, quer seja de rio ou de mar. Mas não faz mal, a minha parte preferida são os banhos do sol. Água só mesmo quentinha! Existe um desnível muito pequeno entre a zona relvada e a superfície da água, pelo que uma criança consegue estar facilmente sentada na berma e molhar os pés, tal como a Maria fez, e eu própria. Para entrar na água podem ser utilizadas umas escadas tais como as que encontramos muitas vezes em piscinas ou então em alternativa, para entrar de forma mais suave podem ser usadas umas escadinhas de pedra que lentamente se dirigem para dentro da ribeira. A Maria gostava de brincar sentada no muro mas depois para entrar realmente na água ia sempre pelas escadas mais acessíveis. Muito próximo da praia existe um café com esplanada onde é possível comer comida rápida ao estilo de hambúrgueres e cachorros. Nós queríamos algo mais e por isso fomos de carro até ao centro de Proença-a-Nova.

 

Vila Velha de Ródão

Portas de Ródão (Freguesia de Vila Velha de Ródão)

A 20 quilómetros das Portas do Almourão encontramos um outro geomonumento classificado pela UNESCO e considerado Monumento Natural. Chegámos às incríveis Portas de Ródão. Depois de almoçar junto ao cais de Vila Velha de Ródão e já ter combinado um passeio de barco que me possibilitaria passar por entre os dois lados das Portas de Ródão, subi até ao Castelo do Rei Wamba. Além de querer conhecer este local queria muito ter um primeiro vislumbre deste ponto mais elevado localizado na margem de Vila Velha de Ródão. A “porta” do lado oposto já pertence a Nisa, ou seja, Alentejo. Tenho a certeza de que estar desse lado do rio Tejo será igualmente impressionante. Uma belíssima forma de explorar deve ser percorrendo os 11 quilómetros do Trilho do Conhal PR4 de Nisa. Há quem diga que é o percurso pedestre mais bonito de Portugal. Fiquei muito curiosa. O castelo do Rei Wamba está sensivelmente alinhado com as portas de Ródão e relativamente próximo desta ocorrência geológica natural. É possível então ter uma perspetiva muito interessante do curso do rio Tejo mais largo e perceber que nas portas há uma aproximação de ambas as margens. Nessa zona de estrangulamento de “apenas” 45 metros de largura encontra-se a maior comunidade de grifos de Portugal. Estas aves são os maiores abutres que podemos encontrar na Europa e é aqui nestas escarpas que encontram uma zona segura para colocarem os seus ninhos, longe de eventuais predadores ou outro tipo de ameaças. Os grifos podem ter entre um e três metros de envergadura, têm um voo majestoso e altivo (pelo menos para mim), aproveitando as correntes de ar para planar. A sua existência e atividade conferem um carácter ainda mais incrível a este cenário. Descendo da torre do Castelo do Rei Wamba é uma boa ideia deslocarmo-nos até ao miradouro de base metálica que se encontra uns metros mais à frente, em direção às portas de Ródão. Aqui é uma boa oportunidade para sentar um bom bocado, apreciar o espetáculo criado pela mãe natureza e observar o voo silencioso dos grifos. Foi com uma tranquilidade profunda que me desloquei do miradouro onde estava até ao carro para apanhar o barco que me levaria a atravessar o espetáculo que tinha visto lá de cima. Era já quase final de dia quando entrei no barco do Sr. Eduardo e deslizei pelo rio Tejo. Minutos depois de partir do cais de Vila Velha de Ródão o barco aproximou-se da zona “apertada” do rio e senti um vento um pouco mais forte que veio serenar o calor do dia. O barco abrandou para permitir observar em detalhe e usufruir de mais tempo nas Portas e o que me chamou mais à atenção, além da óbvia imponência das escarpas, foram os grifos bebês nos ninhos a uns metros da superfície da água. Depois das Portas a largura do curso do rio alarga novamente e nosso olhar deixa por instantes de estar virado para cima e passa para um plano inferior, para os braços serpenteantes do rio, para a “ilha” mesmo ao nosso lado e também para algumas cegonhas aqui e ali. O barco deu a volta e passei novamente pelas Portas de Ródão. Bolas, como isto é bonito.

 

Castelo Branco

Museu Cargaleiro

Pertíssimo do Centro de Interpretação do Bordado, a uns curtos cem metros de distância, encontra-se um outro local incontornável da Cidade de Castelo Branco. É o Museu Cargaleiro que eu também ainda não conhecia. O mestre Manuel Cargaleiro é um pintor e ceramista português que nasceu em Vila Velha de Ródão há 94 anos. Em 1990 criou a Fundação Manuel Cargaleiro com o objetivo de abrir um museu e expor tanto o seu acervo artístico como também o que foi adquirindo ao longo dos anos. Ele pretendia que a comunidade local e todos os outros visitantes que visitassem o espaço tivessem contacto com este espólio. O Museu encontra-se dividido em dois núcleos, um antigo palacete conhecido como o “Solar dos Cavaleiros” e um edifício moderno deste século. É interessante começar pelo mais antigo, conhecer a cerâmica de Coimbra ou a que era conhecida como Ratinha (a expressão “ratinho” está ligada aos camponeses beirões) e seguir cronologicamente no tempo até obras muito mais recentes feitas pelo mestre ou por outros artistas como Pablo Picasso. Quando sair do edifício mais recente e chegar ao largo suba as escadas. Lá no topo vai ver uma obra muito bonita no pavimento em calçada portuguesa a fazer lembrar os motivos do Bordado de Castelo Branco

 

O Parque do Barrocal

O Parque do Barrocal já ganhou vários prémios, entre eles o de Geoconservação e vários de arquitetura (entre eles um dos mais prestigiados a nível internacional), alguns deles mesmo antes de abrir. Saber deste “pormenor” foi logo das coisas mais interessantes que li e que rapidamente me cativou. Na visita percebi que é ainda muito mais do que isso. Não tenho dúvidas de que é um dos parques mais incríveis que temos em Portugal. Até porque além de tudo mais, está em pleno Geopark Naturtejo e Reserva da Biosfera do Tejo Internacional. Este parque localiza-se muito perto da zona mais central de Castelo Branco, sendo por isso de fácil acesso mesmo para quem circula a pé pela cidade. Tem 40 hectares, é lindíssimo, muito interessante de vários pontos de vista, por isso é mesmo preciso reservar pelo menos duas ou três horas para lhe dar o tempo que ele merece. Se não for muito muito fã de calor e se a sua visita for num dia quente, o melhor é reservar um período do dia mais fresco, não vai encontrar muitas sombras no percurso. se só tiver disponível mesmo as horas de maior calor, demore mais e pare nos bancos que há aqui e ali. Não deixe é de ir. Entrar no Parque do Barrocal é fazer uma viagem no tempo e ter contacto com a paisagem que tem vindo a ser “moldada” na região há 310 milhões de anos. Os barrocos, ou seja, os grandes “blocos” de granito, que caracterizam a região, nasceram no interior da terra e ao longo dos anos têm sofrido movimentos de deslocação e erosão por ação das placas tectónicas e do clima, respetivamente. Embora Castelo Branco esteja integrado nesta paisagem quase que é algo que nos passa despercebido, dada a densidade de casas e outros edifícios que por aqui existem. Mas claro que isso não acontece apenas aqui, mas sim em todas as cidades. Demasiado “ruído” distrai-nos da natureza. Felizmente há locais como este Parque, que nos permitem voltar às origens, compreender o contexto onde estamos e isso na minha opinião é fantástico. O percurso é simples, claro de identificar e possibilita visitar vários mirantes com paisagens lindíssimas, conhecer estruturas tais como como o Túnel do Lagarto ou o Observatório dos Abelharucos e tomar contacto com algumas formações geológicas com grande interesse.

 

Idanha-a-Nova

Monsanto

E chegámos a Monsanto, eleita no ano de 1938, como a Aldeia Mais Portuguesa de Portugal num concurso promovido pelo Estado Novo. Ela ergue-se imponente e majestosa no alto de um monte que se destaca na paisagem maioritariamente plana ao seu redor. É um monte-ilha, ou seja, uma estrutura de granito que se "impõe" na paisagem e que vem sendo trabalhada pela erosão ao longo dos últimos 250 milhões de anos. Não me lembro de ter reparado neste contraste tão grande de paisagem. Que bom que já percebi agora. No topo da elevação escarpada encontra-se o castelo que noutros tempos já teve uma enorme importância na defesa do país que era Portugal na época dos Templários. A vista a partir daí é incrível pelo que é obrigatório ir até lá, percorrendo a pé toda a subida, acompanhando o ligeiro serpentear das ruelas empedradas. É preciso subir com tempo, para que seja possível ir conhecendo alguns locais relevantes e para descansar...

No caminho há várias igrejas e capelas para conhecer, solares, a casa do carrasco, um ou outro chafariz, uma gruta e as antigas casas onde permaneciam algumas temporadas os conhecidos Zeca Afonso e Fernando Namora. Mais próximo do castelo, já afastados da zona habitacional, mesmo quase a chegar aos últimos metros de declive, encontramos as furdas, que eram os locais onde os habitantes guardavam os porcos. Hoje em dia estão vazias, mas pelo que percebi ainda são utilizadas de forma pontual.

Desde estas estruturas em pedra onde permaneciam os porcos até ao topo é um instante, sendo necessário um último esforço para contrariar a inclinação que parece cada vez maior. Chegado ao Castelo é hora de sentar e contemplar a monumentalidade da mãe natureza. Estamos a um pouco mais de 750 metros de altitude que parece imenso tal é contraste com o planalto que nos envolve.

 

Penamacor

Praia fluvial da Meimoa

Dez minutos apenas separam o centro da Vila de Penamacor de uma freguesia muito simpática de nome Meimoa. A primeira impressão correu logo muito bem com um almoço no Restaurante “O Tear” do qual eu já tinha ouvido e lido bons comentários. Não desiludiu mesmo nada. Tanto que já voltei. A apenas 200 metros da Estrada Nacional onde o restaurante se localiza, logo a seguir a uma ponte romana por onde passam carros, existe uma praia com o mesmo nome da terra onde se encontra. Eis a praia fluvial da Meimoa. A ribeira da Meimoa passa serena por baixo da ponte e atravessa uma paisagem verde muito bonita, de ambos os lados. Tem uma boa área relvada que convida a estender a toalha, um parque de merendas, um parque infantil que a Maria utilizou durante um bom bocado da nossa estadia e ainda um café com uma esplanada que quase que permite molhar os pés. Para chegar à água da ribeira é preciso descer um pequeno muro que o ladeia de ambas as margens ou em alternativa descer umas escadinhas com uns quatro ou cinco degraus que nos conduzem até ao seu interior. Se tiver “medo” de água um pouco fria como eu pode sempre sentar-se aqui, tal como eu fiz, e ser “picada” por pequenos peixinhos que vão adorar os seus pés. O ambiente estava ótimo, mas era hora de conhecer uma outra praia fluvial mesmo aqui ao lado (uma viagem de 15 minutos), com um nome muito parecido, Meimão.

- 23 ago, 2021