Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

D. Manuel I Voltar

Passei o fim-de-semana a gravar obras da Renascença e cujo trabalho final tem como objetivo assinalar a morte de D. Manuel I que no próximo dia 13 de dezembro fará 500 anos que ocorreu. E convém não deixar passar em claro estas coisas até porque só se tem futuro quando se perceber a história e quando se refuta esta, por norma o amanhã não irá ser grande coisa. E D. Manuel I foi um homem de grande importância e no que respeita às artes, um rei com uma visão enorme da importância destas. Não é preciso ser muito letrado para pelo menos já se ter ouvido falar no estilo manuelino. Ouvir falar, porque saber já é outro assunto e não me admirava, que devido ao facilitismo escolar, obrigatório, que alguns jovens pensem que tal estilo seja da autoria de algum empreiteiro chamado Manel. Mas voltando ao monarca, saliento a reforma dos Estudos Gerais com planos novos educativos e incrivelmente com a atribuição de bolsas de estudo. Não li o documento, mas não me cheira que aconselhasse o favorecimento dos ignorantes e incumpridores. Quase que me apetece renascer. E também foi no seu tempo que surge Gil Vicente e cujo talento foi reconhecido pelo monarca ao ponto de lhe conceder “serviço da corte” dando assim cobertura ao seu talento. E relembro que Gil Vicente era enormemente satírico para com aqueles que habitavam a corte principalmente quando estes não cumpriam as regras tidas como conduta correta. Passados cinco séculos, eu próprio já tive problemas com políticos pelo facto de ser irónico. Agora imagine-se essa malta mesmo assim a darem-me guarida lá na mansão deles. Só se fosse uma caminha nos calabouços e uma côdea ao pequeno-almoço. E até podia desenvolver o tema das grandes navegações, mas é o melhor não o fazer pois posso fomentar algum movimento para vandalizar estátuas de D. Manuel I pelo facto de ele ir chatear a malta de outras bandas e exigirem que se devolva a pimenta, a noz-moscada ou o cravinho. Voltando á gravação, ela contém obras dos principais compositores renascentistas e que na sua maioria tinham guarida nas cortes europeias, quero dizer com isto que eram reconhecidos e pagos por quem detinha o poder. Acho que me fiz entender. Misturando assuntos ou talvez não, e como tive ausente algum tempo deste espaço de ideias por motivos profissionais só agora o posso fazer, soube que um professor de música, com resultados palpáveis, se demitiu de uma escola que deveria ser de música, por pressão dum conjunto de pessoas chamado Associação de Pais e decerto sábios musicais. Devem ser os “Novos Estudos Gerais” a brotar. Já agora, e pela minha longa experiência e salvo raras exceções, este tipo de associações não passam de grupos de pais preocupados com os seus filhos a fingir que se preocupam com os filhos dos outros e que são escolhidos de entre os dez milhões de professores que este país tem. Posso estar errado. Assisti à final da Taça de Portugal, onde o meu Benfica, ou o de alguém, foi derrotado. Valeu o Hino Nacional cantando por um coro de crianças, com uma afinação extraordinário e um desempenho excelente. Coitados dos professores que não escolheram determinados alunos para este momento mediático. Possivelmente já foram pressionados para dar à sola. Não sou monárquico, não sou de direita nem de esquerda, mas essencialmente pretendo não ser idiota e por isso mesmo assimilo os ensinamentos da história.

- 02 jun, 2021
- Luis Cipriano