Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

À conversa com José Carvalhais Lopes, aspirante a gestor de marcas de luxo Voltar

Comecemos pelo início. Escolhe Economia como licenciatura e depois envereda por Gestão no mestrado. Qual o motivo destas escolhas no seu percurso académico?

Economia foi a difícil escolha de um rapaz de 18 anos que tinha o sonho de fazer uma carreira diplomática. Candidatei-me porque sabia que, para bem representar o meu país internacionalmente, tinha primeiro de perceber como é que ele funcionava e, daí, querer estudar Economia. Sem dúvida que a licenciatura que estava a fazer me dava bastantes conhecimentos técnicos para uma formação sólida em economia, mas, ao mesmo tempo, sentia que a falta de aplicabilidade prática do curso e a elevada componente analítica não correspondiam ao que tinha idealizado. Assim, durante a minha licenciatura, houve todo um despertar de interesse por outras áreas que fizeram com que, três anos depois, optasse pelo mestrado em Gestão.

Passa então um verão a estudar em Milão, na Università Bocconi e liga finalmente o mundo da economia e empresarial ao mundo da moda e das marcas de luxo. Este ramo empresarial surgiu naturalmente na sua vida?

Foi um interesse que foi surgindo gradualmente. Lembro-me claramente de que a primeira vez que entrei numa loja de luxo foi na Louis Vuitton, na Avenida da Liberdade, e de ter ficado maravilhado com o que vi. Desde o ambiente da loja à perfeição do produto, nada era descurado e foi aí que percebi que eu tinha que fazer parte deste mundo. Ao longo dos anos fui depois tendo oportunidade de lidar com vários segmentos de luxo, mas, no final, acabou por ser a paixão por joalharia que se destacou.

De que maneira estudar este tema, na cidade da moda, influenciou o rumo que decidiu dar ao seu começo de carreira?

Foi ainda durante a minha licenciatura que percebi que o que tinha perspetivado para mim não estava a correr como planeado. Assim, quando no meu segundo ano, descobri que existiam cursos específicos para gestão de marcas de luxo, entendi que esta seria a maneira perfeita para complementar a formação que estava a fazer em Economia com esta área, que já me tinha vindo a despertar interesse, mas que, do ponto de vista académico, me era desconhecida até então. Fiz alguma pesquisa e, apesar de haver oferta de formação académica voltada para a gestão de marcas de luxo em várias cidades, nenhuma delas me dava aquilo que Milão oferecia e que, para mim, foi critério decisivo: uma complementaridade da teoria da sala da aula com a possibilidade de poder experienciar, em primeira mão, o que estudava. Desde cedo que entendi que, para se perceber o que é luxo, o primeiro passo é vivenciar as marcas.  Sendo o Norte de Itália região de nascimento de muitas delas, tanto de moda, como automóvel ou de bebidas, sabia que ao estudar na Universidade Bocconi ia ter uma formação de excelência e, ao mesmo tempo, a oportunidade de explorar em profundidade cada um dos setores do luxo.  Ao ter tido a oportunidade de visitar as lojas originais e os arquivos de grandes estilistas milaneses ou as secretíssimas fábricas de alguns fabricantes de carros, vivi a tradição de cada uma das marcas, o que me permitiu compreendê-las melhor. Esta possibilidade de passar por várias empresas de vários setores foi que me possibilitou, alguns anos mais tarde, perceber qual a área o que, a nível profissional, mais me interessava.

Está a estagiar na Boutique dos Relógios há nove meses, tendo já ocupado dois cargos diferentes ligados à área da joalharia. Como tem sido a experiência?

Incrível, sem dúvida! A oportunidade surgiu na altura em que estava a terminar a parte académica do meu mestrado e começava à procura de oportunidades para pôr em prática o conhecimento que tinha adquirido tanto na Nova como na Bocconi. Na altura a Boutique dos Relógios estava a lançar uma marca própria de joalharia dirigido ao segmento de luxo, nas lojas Plus, e o meu objetivo era fazer uma exaustiva pesquisa de mercado, junto dos vendedores e dos clientes, para perceber o que é que seria comercial lançar no mercado. Contudo, ao mesmo tempo, também outras decisões iam tendo que ser tomadas, porque a marca estava a nascer então havia imensos aspetos a serem decididos, pelo que também tive oportunidade de vivenciar muito do marketing e do branding que estão na génese de uma marca de luxo. Portanto, apesar de ter sido contratado para fazer esta pesquisa, senti desde cedo que me eram pedidos trabalhos noutras áreas o que também fez com que me sentisse bastante valorizado. No final do ano, deixei de estar a trabalhar exclusivamente com esta marca para passar também a ajudar na gestão das outras marcas de joalharia vendidas nas Boutique dos Relógios Plus. Agora, desde organização de sessões fotográficas, a gestão de stock ou a apresentação de coleções, os meus dias são sempre diferentes e isso, aliado à grande paixão que tenho pelo produto com que trabalho, faz com que me sinta verdadeiramente realizado a nível profissional.

 

Quais são os seus maiores planos e objetivos para o futuro?

A curto-prazo, os meus objetivos passam por aprofundar o meu conhecimento técnico em joalharia e gemologia para melhor poder compreender o produto com que trabalho e assim poder suceder no mundo na alta joalharia. A longo prazo já me é mais difícil dizer porque não sou uma pessoa que goste de planear muito as coisas. Claro que tenho grandes planos de vida, mas, como disse, neste momento, a nível profissional, sinto-me realizado. Por ter oportunidade de poder começar a trabalhar área que estudei, com a categoria de produtos que gosto e no meu país, não prevejo grandes mudanças. Claro que houve uma altura em que queria muito sair e trabalhar diretamente com as marcas em Paris ou Milão, mas, como neste momento as perspetivas para o crescimento do comércio de luxo em Portugal são positivas, creio que ainda não será o momento para dar esse passo.

 

PERGUNTAS DIRETAS

Fast-fashion ou alta-costura?

Alta-costura

Funcionalidade ou estética?

Estética

Trabalhar sozinho ou em conjunto?

Conjunto

Minimalista ou elaborado?

Elaborado. “More is more, less is a bore”

Trabalhar em Portugal ou estrangeiro?

Estrangeiro.

Poupar ou usufruir?

Poupar para usufruir, só se vive uma vez.

Um livro

«Gods and Kings: The rise and fall of Alexander McQueen and John Galliano»

Um filme

«The Prestige»

Uma marca

Cartier

Um designer

Alexander McQueen

- 16 fev, 2021
- Fernando Gil Teixeira