Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

A Carta da Terra Voltar

Hoje, quando escrevo este texto, não é o Dia Mundial do Ambiente, nem sequer o dia em que se celebra a ratificação da chamada “Carta da Terra”. Não, não é. Mas pode e deve dizer-se que todos os dias, todas as horas e minutos, são momentos, não para celebrar, mas para ler e meditar na “Carta da Terra”. E, sobretudo, para nos comprometermos ativamente, individualmente, com o conteúdo dos apelos que nesse Documento Histórico, ratificado por mais de quatro mil e quinhentas organizações de todo o Mundo, em Haia, na Holanda, em 2000, se encontram consagrados. A “Carta da Terra” é um Documento com a mesma gravidade e a mesma importância de outros documentos igualmente históricos como sejam, nomeadamente, a “Magna Carta” inglesa de 1215 ou as várias versões da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada esta em 1948, mas que foi precedida por outras semelhantes. A “Carta da Terra” é de todos os dias, porque nós, esta família humana vastíssima, fazemos nossa esta “Casa” não só útil mas também bela e – muito importante! – Que, transcendendo a utilidade, os outros seres vivos que nela habitam possuem um fim próprio em si mesmos, uma dignidade essencial. Por todo o Mundo, em dezenas de cidades, incluindo Portugal, milhares ou mesmo milhões de pessoas saem à rua para chamar a atenção de todos nós e dos políticos para a urgente, cada vez mais urgente, necessidade de defender o Planeta, a nossa Casa Comum, dos efeitos nefastos e destrutivos das alterações climáticas, das crescentes agressões à riqueza da biodiversidade, do esgotamento galopante dos recursos naturais que, generosamente proporcionados pela Terra, tornam possível a vida e a habitabilidade do Planeta. Assim sendo, é justo e oportuno trazer aqui, à memória de todos, a “Carta da Terra”, mesmo daqueles que esgotam o seu tempo perdidos nas redes sociais, onde debitam banalidades e até estupidezes, para não falar de linguagem agressiva e ofensiva, com a agravante de, alguns desses, até ostentarem títulos de «doutor» - que confundem com um ridículo «Dr.»… Mas se é necessário e bom recordar o essencial da “Carta da Terra” e se é gratificante saber que milhões se envolvem na luta por esta causa comum, também não deixa de ser preocupante saber que, aqui e ali, mesmo em centros da inteligência mundial, vão tendo lugar Conferências onde alguns cientistas vão defender que afinal essa coisa das Alterações Climáticas e do Antropoceno, não é bem assim e, tese fundamental ali exposta, defendida e a reter, essas ditas alterações climáticas, dizem eles movidos pelo sub-reptício intuito de nos esconjurar os receios e, acima de tudo, movidos e motivados pelos interesses ligados ao extrativismo fóssil, afinal não são fruto de uma ação humana! Pois claro! Negar o que tem sido abundantemente dito pela Ciência, para nos “descansar” a todos e dar satisfação aos tais interesses. O Negacionismo convém! Tal como já convinha quando, para alguns, foi preciso «negar» o Holocausto. Agora, estamos a correr para um outro tipo de Holocausto, mas, enquanto os muitos (alguns doutores!) vão inconscientemente debitando imbecilidades nas redes sociais com o intuito de manter a “ralé” presa ao curto e ao seguidismo acrítico, enquanto isso, outros, mais bem avisados e movimentando-se perto dos círculos dos grandes interesses, vão debitando nas cátedras teses que contrariam a própria Ciência. Não tardará muito que, a exemplo, de Joseph Goebbels, apareça por aí algum aprendiz de feiticeiro a proclamar, em jeito de ameaça, que quando ouve falar em alterações climáticas lhe dá vontade de puxar pela pistola... Sim, se puderem – e se tiverem tempo e pachorra para deixarem de pisar os «gostos» e os «likes» das banalidades que vos escrevem os “líderes” que vos tentam desviar dos verdadeiros problemas, se puderem e quiserem leiam com amor e atenção essa “Carta” que a nossa Terra nos escreveu em 1987. Claro que essa “Carta” não a encontram nas redes sociais. É preciso procurar um pouco melhor. Que ela existe e está ao nosso dispor.

- 14 jul, 2021
- António Assunção