Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Mundo perfeito Voltar

O país parou por 35 horas. Passou pela cabeça de todos os desaparecimentos do Rui Pedro ou da Maddie. Temia-se o pior. Felizmente esta história terminou bem e trouxe-nos tantos ensinamentos: a esperança que nunca morreu nos nossos corações, a união entre tantas pessoas que deixaram as suas vidas pendentes para participarem no resgate, a busca interior por uma fé mais ou menos adormecida em cada um de nós. Mas existe um ensinamento maior. Como uma criança de dois anos sobrevive tantas horas sem comer, nem beber ou dormir, aparecendo apenas com algumas escoriações? O ser humano vai buscar forças onde nem sabe existirem, e não existem limites físicos, quando a força mental é mais forte. E aí lembro-me dos atletas com deficiência e lembro-me de Lenine Cunha. Lenine era uma criança saudável quando aos quatro anos, devido a uma meningite, perdeu a memória, a capacidade de falar e andar, deixando outras sequelas permanentes, como problemas auditivos e de visão. O desporto acabou por constituir mais que uma terapia e apesar de todas as limitações físicas e intelectuais, rapidamente começou a conseguir resultados extraordinários. Este atleta paralímpico de 38 anos, ganhou no início deste mês na Polónia, mais 7 medalhas nos Mundiais para Atletas com Deficiência Intelectual totalizando 266 (87 ouros, 73 pratas e 66 bronzes), sendo o atleta mais medalhado do mundo. Impressionante! E que valor damos a este atleta e a tantos outros que obtiveram resultados similares? Apenas este ano os valores das bolsas de preparação e os prémios atribuídos a atletas olímpicos e paralímpicos foram equiparados, pois até aqui aos atletas olímpicos eram atribuídos valores mais elevados, como se o esforço e dedicação com que treinam ou a superação que atingem fosse maior. Existe ainda um caminho longo a percorrer: a profissionalização do desporto paralímpico português, a necessidade premente de mais investimento, a integração dos atletas com deficiência nas respetivas federações de modalidades rentabilizando recursos, uma maior sensibilização para o desporto adaptado através dos media, a valorização na escola do aluno-atleta com deficiência procurando uma integração saudável na aula de Educação Física e o estímulo à participação em atividades do Desporto Escolar, entre outras. Num mundo perfeito somos todos iguais e temos direitos iguais. Num mundo perfeito todas as crianças nascem e crescem saudáveis. Num mundo perfeito as crianças nunca se separam dos pais.

Prof. Vanessa Nunes Gil

Professora de Educação Física

 

- 22 jun, 2021
- Vanessa Nunes Gil