Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Neno e Marco Correia, anti-heróis Voltar

Foi na Antiguidade Clássica que os grandes atletas alcançaram o reconhecimento celeste, digno de um verdadeiro representante de Deus na terra. A atribuição de simples ramos de oliveira correspondia a um conjunto de regalias e tributos. No século XXI a realidade não é distinta. Por exemplo, são muitas as marcas que pagam para que uma estrela mundial calce determinada sapatilha ou vista uma camisa específica.

Esquecemo-nos, porém, que o sucesso destas estrelas depende, muito, de muitas outras que brilham no silêncio. São elas que asseguram a competitividade nos treinos, a boa disposição no grupo, que retiram a pressão nas grandes competições. Veja-se o caso da seleção portuguesa. Estará concentrada durante um mês para obter o melhor desempenho desportivo num máximo de 5 a 6 jogos. É verdade que são bem pagos… Mas o dinheiro só ajuda, não traz felicidade…. É nestes contextos que jogadores como o Neno, a quem prestamos a nossa humilde homenagem, são muito importantes. Numa recente palestra esta figura ímpar afirmou que tinha problemas pessoais como qualquer ser humano… mas, perante as adversidades da vida limitava-se a sorrir. Mais sugeriu que se alguém tivesse um problema que o procurasse. Garantia que, passados 2 a 3 dias, tudo passava… Acredito que tenha tornado muitos estágios onde esteve presente mais leves… talvez por isso tenha tão poucos jogos em relação ao número de vezes em que foi convocado para a seleção portuguesa.

A nível local também temos muitas estrelas… são anónimas, discretas, de uma humanidade fora do comum… infelizmente nem sempre lhe damos o justo valor, nem as homenageamos como merecem… é o que sinto quando penso no meu amigo Marco Correia. Praticou hóquei nos tempos áureos da AD Fundão. Foi escuteiro na mesma localidade, lecionou na UBI e, nos últimos tempos, colaborou com a ADCRAJ – Aldeia de Joanes. Sempre disponível para viver e disfrutar a natureza, de forma discreta, mas intensa. Isso pôde ser atestado pelos seus amigos, mas também pelos amigos do seu filho que o olhavam com respeito e admiração. Infelizmente a maldita doença levou-o de nós, mas principalmente da sua flor (Margarida) e do seu fruto (Duarte). Resta-nos a memória de tantos momentos em que dinamizou grupos e ajudou a dar vida a tantos heróis em diferentes planos das suas vidas. No dia 29 de maio o seu herói, o Duarte, esteve a dar um espetáculo de solidariedade com os seus colegas da turma do 6B da Escola Serra da Gardunha. Pretendiam angariar fundos para a UNICEF. Nesse dia o Marco esteve mais uma vez presente, apesar de já não estar fisicamente entre nós. Fê-lo porque alguém de quem gosta muito fez questão de lhe comprar um bilhete. Sabia que gostaria de estar presente, mesmo de uma forma discreta como esteve em tantas outras… e como estará sempre!

- 16 jun, 2021
- Sérgio Mendes