Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Entre Vírus e Bacilos Voltar

Sendo que nada no mundo me leva a considerar um especialista em vírus,  seja ele virologista ou da estirpe de treinador de bancadas, mesmo assim, fiquei em pânico quando o porta voz do Governo de sua Majestade Britânica, um senhor de discurso muito articulado e assertivo, creio um jovem e entusiasta Ministro dos Transportes.me fustigou a tranquilidade com o anuncio da chegada da estirpe nepaleses da variante Indiana do Covid 19  Portugal.

O assunto caiu que nem uma bomba; a SIC, modesta e contida, identificou a existência de um caso nepalês. Mais lesto e espigadote, o CM identificou 9 casos. Já o Sapo 24 anunciava com fúnebre amplitude, a possibilidade de haver 12 a 64 casos daquela estirpe. Finalmente, a notícias ao minuto revelando elevada especialização científica agravou as minhas preocupações com as informações seguintes; “A variante do Nepal parece apresentar as mesmas mutações da Delta, o que sugere que pode comportar-se do mesmo modo.

Sendo que a Delta é uma variante que se dissemina rapidamente - até 50% mais do que a Alpha, também conhecida por variante britânica ou de Kent - e já provou conseguir eludir alguma da proteção conferida pelas vacinas existentes contra a Covid-19. Adicionalmente, a variante do Nepal incorpora ainda a mutação K417N, refere Jeff Barrett, Diretor da Iniciativa Genómica COVID-19 no Wellcome Sanger Institute, que monitoriza as diferentes variantes presentes no Reino Unido.” Não pude deixar de pensar que havia no notícias ao minuto um antigo frequentador da minha Unidade Curricular de Jornalismos Especializados.

Perante estas observações, não posso deixar de concluir que o assunto é sério. Logo, devo lamentar apernas o seguinte. a) Se a variante era conhecida, devia ter sido identificada antes da Champions, b) logo, a final da Champions não devia ter sido realizada; c) o governo português devia ter sido avisado; o governo britânico devia ter impedido os entusiastas do sol e da cerveja portuguesa de demandarem tão perigoso destino. Concenda-.se que não sabia. Senão sabia, compreende-se a sua atitude. Portugal, aos olhos dos britânicos, deve ser um excelente destino para aturar desconfinados embriagados que vêm na ida a Champions algo de tão importante como a descida de Cristo `a terra, uma única experiência telúrica que exige descontração desmascarada, partilha de longos e afetivos abraços coletivos.

O turismo é uma faca de dois gumes, especialmente quando estamos dependentes dele. A semana cultural do Pais está marcada pela publicação entre nós de um livro muitíssimo divertido sobre o turismo de massas: Grande Hotel Europa mostra o que há de complexo na atividade turística, mesmo em países onde esta indústria atingiu um grau de desenvolvimento superior à nossa, como é o caso da Itália. Recomendo a todos.

Finalmente, não posso deixar de registar que fui brindado com elevada multa por não pagamento de portagens. Quando dei aulas no Instituto Politécnico de Lisboa, tive como aluno Carlos Andrade, moderador da Circulatura do Quadrado, antiga Quadratura do Círculo. Adivinhavam-se já os primeiros sinais da Crise de 2008. Os Governos do PS esgotavam a sua margem de manobra nos famosos PECs – Planos de Estabilidade e Crescimento. Carlos Andrade que, apesar de aluno, sabia mais do que eu, comentava nos pequenos auxílios que ia dando `a minha charla : “as SCUTS serão as últimas a cair. São as Joias Coroa.” São mesmo. Foram única vez que Lisboa deu alguma coisa. É pena que a tenha tirado de seguida,

Quem vive na Covilhã ou no Interior, sabe que as autoestradas não são um instrumento de lazer para aceleras. Ir ao Fundão e a Castelo Branco é percorrer uma região espartilhada entre troços de estradas regionais classificadas de nacionais e autoestradas que fazem o lugar de nacionais. Mesmo com descontos de 50 %, sinto-me a comprar algo que seria justo que fosse gratuito. Não vale a pena deixar á CDU o protagonismo na defesa da gratuitidade das portagens e ao PS, o papel de, com o coração em sangue, continuar a cobrar metade do que não devia ser pago. Acho que este é um assunto de Estado que deve ser ponderado, considerando especificidade das regiões que se chamam hoje de “baixa densidade”. Nunca gostei do termo: parece uma fórmula tecnocrática para designar desertos: O novo Reitor da UBI também não gosta. Espero que Mário Raposo, como um académico preocupado com o Desenvolvimento Regional do Interior dinamize ou ajude ou favoreça, agora nas suas funções públicas, na sua agenda de ligação à comunidade (a única que comentarei em foro público) um Fórum ou uma agenda que mobilize a sociedade civil; política e não politica. Alem dos partidos, os empresários, os sindicatos, os especialistas. Neste interior encravado, os transportes são estratégicos.

- 15 jun, 2021
- João Carlos Correia