Quando as comunidades se unem e são cuidadoras formais de cães de rua
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O problema da existência de cães abandonados é uma constante, principalmente em zonas mais rurais como o caso das aldeias e cidades do Interior do país, com muitos cães a surgirem em zonas perto de quintas, muitas vezes pela existência comum de cães soltos e não esterilizados. Situações deste género criam canis sobrelotados e com falta de capacidade dar resposta a todos os casos e ocorrências, mas existem outras formas bem criativas e que exigem bons corações para resolver situações assim.
No Fundão, são já conhecidos dois casos em que a comunidade, impossibilitada de ajudar de outra forma ou pelo tamanho do cão abandonado ou pelo facto de o próprio preferir e ser mais feliz na rua, se juntou para poder garantir que estes cães têm boas condições de vida nos bairros que escolhem como sua casa, não sendo problemas de saúde pública, mas antes vizinhos de quatro patas, com sítio próprio para viverem e se alimentarem, com todos os cuidados e amor.
O primeiro caso conhecido é mesmo o do Pedrinhas, também chamado de Pintas, que habita no Bairro de S. Marcos há 7 anos. Começou a aparecer desde então e nunca mais saiu, conquistando os vizinhos pela sua simpatia e constante vontade de brincar e participar nas longas caminhadas de todos os vizinhos. Os vizinhos ainda tentaram levá-lo para casa, mas as tentativas nunca resultaram e ele voltava sempre para o seu lugar, a rua daquele bairro. Assim sendo, a comunidade juntou-se e começou a colocar-lhe comida e uma manta, tendo agora até uma casota só para ele no centro do bairro. Entretanto, foi castrado e tem todos os cuidados veterinários que precisa, incluindo a sua desparatização, assim como água e comida sempre disponível. É agora um cão feliz, com a sua própria casa, com uma comunidade que o apoia e que lhe dá tudo o que precisa. Nunca foi um problema.
Novo caso ocorre agora na Urbanização Fagundes, na Aldeia de Joanes. Há 2 anos que um cão e uma cadela vagueavam pelo bairro, claramente debilitados e a precisar de auxílio. Uma moradora, sensibilizada com a situação, procurou solução para ambos e não desistiu até a encontrar. Recolheu a cadela mais pequena, deu-lhe todos os cuidados médicos e de alimentação e está agora a garantir que nada lhe falta para depois a disponibilizar para adopção. Já o macho, cão de grande porte, Serra da Estrela, não tendo nenhum vizinho com capacidade para o albergar, pediu-se ajuda à União de Freguesias que acedeu ao pedido. Foi criado um pequeno pátio no jardim envolvente à urbanização, em cimento, onde foi colocada uma casota e um comedouro para que o cão pudesse ter todas as condições para habitar naquele local. Foram ainda prestados todos os cuidados médicos ao animal e está agora a ser alimentado todos os dias, além de o seu espaço também ser limpo constantemente, estando cada vez mais habituado e feliz na sua nova casa. Uma história incrível de como cidadãos individuais podem fazer a diferença e aliar-se ao poder local para boas ações!
Esta solução parece cada vez mais o caminho certo para locais em que os canis não tenham mais capacidades de resposta e situações em que os cães não representem nenhum risco nem sejam agressivos com a comunidade em que estão inseridos. Existindo cuidadores formais dentro dos moradores nestes locais, que se responsabilizem pelo bem-estar e condições destes animais e não constituindo eles nenhum problema para as comunidades, se estas quiserem ajudar e dar-lhes melhores condições e cuidados deve ser dada essa possibilidade. São apenas dois exemplos de como se pode fazer o bem em coisas tão pequenas, mas que tanto representam, às vezes nas nossas próprias ruas.
- 23 mai, 2021
- Fernando Gil Teixeira