Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

A interioridade está na pequenez que vemos em nós próprios Voltar

Até ao dia de hoje, apenas 3 das 18 associações nacionais de futebol decidiram não recomeçar as suas provas de futebol distrital. Pela lógica, deveriam ser aquelas que têm mais jogadores, mais atletas, mais risco de transmissão, mais jogos por jogar. Aquelas que já não tivessem tempo de terminar as provas até Junho/Julho. Sabendo nós que a época desportiva seguinte só começa em Agosto e no caso dos distritais em finais de Setembro, poucas seriam as associações sem condições para finalizar as provas (já a decorrer até à paragem) a tempo do final do campeonato. Talvez Porto, Lisboa e Braga fossem as únicas que se pudessem queixar de falta de timings suficientes para o fazer. Mas não… Essas 3 associações foram Castelo Branco, Évora e Portalegre. O verdadeiro rosto da interioridade. Faça-se honrada exceção à AF Guarda, que decidiu que a sua interioridade não seria desculpa para não prosseguir o caminho definido. Ou seja, três das associações em Portugal que mais se queixam da: falta de clubes participantes, falta de atletas participantes e falta de apoios (tudo isto é verdade diga-se de passagem), são exatamente aquelas que menos fazem por mudar o paradigma. É verdade que sofremos de interioridade. É verdade que somos esquecidos nas instâncias centrais na altura de tomar decisões importantes. Mas é verdade que uma grande quota-parte disso é culpa nossa e da nossa interioridade mental que criamos e alimentamos nas nossas cabecinhas. Porque apenas isso justifica a decisão tomada nestes três distritos. As provas com menos clubes, com mais facilidade em serem terminadas pela falta de jornadas, que mais facilmente podiam ser reformuladas e encurtadas, foram exatamente as que cruzaram primeiro os braços. Dizer que se ama o desporto, que se faz isto por carolice e que é uma vergonha o futebol ter parado tanto tempo é um discurso válido, mas que tem de ser demonstrado em atos de coragem e não em palavras de fé. Somos nós que estamos a criar uma interioridade desculpável em nós próprios para não fazermos as coisas acontecer. Mais se refira que é muito estranho dizer-se da AFCB que todos os clubes concordaram com a decisão unanimemente e depois clubes virem dizer que queriam continuar e terminar a prova. Parece o tentar justificar uma decisão que seguiu o caminho mais “facilitista” sem gerar ondas de protesto. Um campeonato com centenas de equipas vai recomeçar, outro com dez equipas e algumas delas já com sete jornadas realizadas não. Isso é o que fica. Somos nós que estamos a desenhar a fronteira do Interior à nossa volta. Gostamos demasiado de ser marginalizados.

- 13 abr, 2021
- Fernando Gil Teixeira