Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

À Conversa Com... Rafael Pinto, jurista vegan e dedicado à causa ambiental e animal Voltar

VEGANISMO. Rafael Pinto é jurista, mas cedo canalizou a sua atenção e área de estudos para a causa ambiental e animal, tema no qual focou aliás a sua tese de mestrado. Nesta conversa, explica-nos mais sobre os conceitos à volta destes temas, esclarece dúvidas e fala ainda da sua ligação atual ao PAN.

 

Jornal Fórum Covilhã (JFC): Qual a diferença entre vegetarianismo e veganismo? Há quanto tempo és e quais os motivos que te levaram a optar por essa opção?

Rafael Pinto (RP): Hoje em dia, o termo vegetarianismo é utilizado para descrever os ovolactovegetarianos, ou seja, aqueles que não consomem carne nem peixe, mas ainda comem derivados como ovos e laticínios. O veganismo é a filosofia de vida que exclui, dentro do possível, todas as formas de exploração animal, e como tal, aqueles que seguem esta filosofia não consomem carne, peixe ou derivados. Para além disto, também não utilizam peças de roupa de pele, pelo ou produtos de higiene e cosméticos testados em animais. Quanto à minha história, sou vegan há 5 anos. Sempre tive muito interesse pela alimentação saudável e desporto e há 7 anos comecei a praticar musculação. Fiquei viciado no estilo de vida e passava os meus tempos livres a pesquisar sobre treino e alimentação. Comecei a seguir a tradicional dieta do culturismo, com enormes quantidades de produtos de origem animal, mas ao mesmo tempo muitos vegetais, frutas e cereais integrais. Eliminei da minha dieta todos os doces e fritos e segui tudo à letra durante 3 anos. Pensava que era impossível ser mais saudável, até que um dia, por mero acaso, abri o Youtube e comecei a ver vídeos de treino e nutrição. Nos recomendados surgiu um vídeo de uma palestra de um tal Dr. Michael Greger. Nesta palestra ele mostra o impacto que a alimentação pode ter na nossa saúde, a evidência científica que prova que o consumo de grandes quantidades de produtos de origem animal pode contribuir para quase todas as 15 principais causas de morte e como uma dieta integral à base de plantas pode ajudar a prevenir e até reverter muitas destas doenças. A palestra tem um caráter extremamente científico, com a exposição dos estudos que comprovam o que é dito. Assisti a palestra do início ao fim e fiquei em choque! Estava a consumir quantidades enormes de produtos de origem animal e achava que era a pessoa mais saudável que conhecia! A partir daqui, tive aquela a que chamo a única epifania da minha vida. Comecei a questionar o porquê de comermos carne. Porque é que eu comi carne toda a minha vida? Se comer carne não é obrigatório para ser saudável, porque o fazemos? Porque estamos a matar todos estes animais, se não temos necessidade? Porque é que me considero um amante de animais, mas estou a comê-los? Porque defendemos tanto os cães e gatos e ao mesmo tempo comemos vacas, porcos e galinhas? Porque estamos a causar um impacto ambiental tão grande com a produção de carne, se não é preciso? Porque é que nunca questionei isto? E nesta altura, tornou-se claro. Teria de me tornar vegan, mesmo sem nunca ter pensado nisso antes. Mesmo sem conhecer ninguém que o fosse. Praticamente de um dia para o outro, passei de um amante fervoroso de carne para uma dieta 100% vegan e nunca mais olhei para trás.   

 

JFC: Além disso, és também conhecido por aliar uma dieta vegan ao fitness, garantindo que ser vegan em nada impede a pessoa de ser bem sucedida no fitness. Explica-nos melhor.

RP: A ciência diz-nos que não há qualquer desvantagem na adoção de uma dieta vegan para atletas. Isso é bem claro. A verdade, é que não há grandes segredos. Os básicos da alimentação são os mesmos para qualquer dieta. No caso do veganismo, é apenas necessário substituir as fontes de proteína animais, por vegetais como tofu, seitan, soja, lentilhas, feijão ou grão-de-bico. Essa é a base da minha alimentação, para além do tradicional arroz, massa, batata, batata-doce, frutas, vegetais, frutos secos e sementes.

 

JFC: Lançaste entretanto um livro sobre estes temas. Como está a ser a adesão ao mesmo?

RP: O interesse inicial pelo livro surpreendeu-nos. É um livro com muita ciência, mais de 1200 referências científicas e a maioria das editoras não acreditou nele por ser “demasiado desenvolvido para o público português”. Mas após 5 meses do lançamento já vamos na 3ª edição.

 

JFC: És ainda membro do partido PAN, partido que tem crescido consideravelmente. Como avalias a necessidade de um partido ambientalista numa altura como esta?

RP: Juntei-me ao PAN por ser o único partido que representa os meus ideais, tanto na causa ambiental como animal, mas também na luta pela adoção de medidas para a reforma do nosso sistema de saúde, que tem de ser baseado na prevenção, na luta pela reforma do sistema de ensino e luta contra a corrupção. A causa ambientalista é a maior bandeira do PAN porque é a base de tudo! Os políticos ao nível mundial em geral e ao nível nacional em particular, continuam a olhar para o ambiente como algo secundário. Ao mesmo tempo, sabemos que temos menos de 10 anos para prevenir danos irreversíveis ao meio-ambiente. Mas ainda não adotamos as medidas necessárias. O PAN já conseguiu por o ambiente na agenda, mas precisamos de mais força antes que seja tarde demais.

 

JFC: André Silva deixará de ser o porta-voz do PAN? Como avalias o seu mandato e o legado que deixa no partido para quem o vier substituir?

RP: O André ficará para a história como uma das pessoas mais importantes da história política do nosso país. É possivelmente a pessoa que mais fez pela causa ambiental e animal na história de Portugal. Tendo em conta os princípios do PAN, de que a política é para servir os cidadãos e o planeta e não a nós mesmos, a saída é apenas natural ao fim destes anos. Também é preciso perceber o enorme esforço que foi exigido dele ao longo destes 7 anos como porta-voz do PAN. Uma coisa é ser deputado de um partido com dezenas de deputados, outra é ser deputado e ainda porta-voz de um partido que está cheio de ideias e de vontade de trabalhar para mudar o mundo. Não consigo sequer imaginar todo o esforço e sacrifícios que teve de fazer por um bem maior.

 

JFC: Sendo licenciado em Direito, consideras que uma maior regulamentação ambiental e mais apertada é necessária para resolver problemas estruturais? Ou é preciso investir mais antes na garantia da aplicação das medidas vigentes?

RP: Sim, sem dúvida. Claro que temos um problema enorme da não-aplicação da legislação atual, que já teve os seus avanços. Mas falta muita vontade política. Vontade política para adotar medidas mais fortes, e baseadas na ciência. Isto só vai acontecer quanto tivermos ambientalistas à frente do governo.

 

 

PERFIL

Fundo Ambiental tem de ser reestruturado? Sim! Na forma de arrecadar receitas e na aplicação das mesmas

Estado a cofinanciar projetos LIFE? Sim! São essenciais para melhorar a biodiversidade.

Proteção ao lobo-ibérico em Espanha? Sim! Temos de garantir a manutenção de todas as espécies. Ainda agora foi chumbada uma proposta nossa para a criação de um programa internacional para a proteção do lobo-ibérico.

Esquerda ou direita? Nem esquerda, nem direita, para a frente. Esta dicotomia já está ultrapassada e não define todas as ideologias.

Estado social ou estado liberal? Um equilíbrio entre os dois

           

Um livro – Para além do meu (risos), Sapiens do Yuval Noha Harari

Um filme -  The Big Short

Um prato – Burrito de tofu com feijão e vegetais

Um artista - Illenium

 

- 23 mar, 2021
- Fernando Gil Teixeira