Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Retenção saudável Voltar

Confinamento e desconfinamento são as palavras mais ouvidas nos últimos tempos com opiniões que se dividem entre os entendidos e os desentendidos. E quando oiço falar em desconfinamento está sempre direcionado em primeiro lugar para as escolas e nem uma simples palavra em relação à cultura. Portanto esta última não é considerada uma forma de educação embora talvez a que permita uma maior evolução de raciocínio até pelo facto de, contrariamente à educação, não viver de forçadas estatísticas, mas sim de resultados efetivos justificados em cima de palcos e não promovidos em reuniões.  E esta minha forma de encarar a realidade faz-me defender que neste presente ano o sistema educativo devia bloquear qualquer tipo de transição de ano e isto para bem dos alunos. A escola é um local onde se pretende uma aprendizagem e quando ela não acontece, neste caso por não ser possível, a repetição de ano escolar só trará benefícios para qualquer criança ou adolescente. O importante é mesmo a instrução, o conhecimento ou a preparação para o futuro. Que interesse tem para a formação de uma criança e para o seu futuro a sua transição efetiva, mas alicerçada na ficção? É que o seu futuro profissional não será um fingimento nem se vai compadecer com a misericórdia da transição. Na música, naquela que vive de resultados, não na outra, se dois ou três ensaios não chegam têm de se fazer quatro ou cinco porque depois em palco temos de estar à altura do que é exigido. Não é estranho, pois, nessa tal forma de ensino musical, haver alunos que pedem para reprovar pelo facto de se quererem sentir melhor preparados para o que aí vem. É que depois, para a vida

futura, vem o célebre “toca ou não toca” que é mais ou menos o “tens emprego ou vais-te inscrever naquele Centro que o tenta promover”. Têm consciência e é alicerçada em encarregados de educação com a lucidez suficiente que estão, aqui sim, a promover o sucesso do seu educando. Foram dois anos em que as interrupções na aprendizagem dos alunos irão de certo fazer mossa nos alunos a nível cognitivo e isto não se remenda como os furos nos pneus, mas resolve-se com um pneu novo e entenda-se um novo ano escolar. Nunca entendi a reprovação como um castigo, mas sim uma nova oportunidade de adquirir conhecimentos. Aliás, a atribuição de um nível negativo ou positivo é simplesmente a mesma coisa pois trata-se de informar o nível de conhecimentos adquiridos. Assim, quando se inflacionam notas para forçar transições estamos a enganar o beneficiado. É uma espécie de publicidade enganosa que até é penalizada por lei embora no sistema educativo é elogiada e carimbada como sucesso, e só isso mesmo isso porque sucesso escolar é outra coisa, mas agora tão banalizado que aqueles que o conquistam meritoriamente até já não lhe dão grande importância. Mas para essa retenção geral acontecer seria preciso coragem política o que significa que nunca irá acontecer até porque os profissionais desta área vivem do imediatismo e raros são aqueles com capacidade visionária e aqueles que têm esse atributo estão ou são isolados ou atualizando, estão eternamente confinados. Repetir até saber nunca poderá ser pejorativo. Afinal o que é um ensaio? Repetir, repetir, repetir… até estar pronto. É uma vergonha?

- 02 mar, 2021
- Luis Cipriano