Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

À medida da moda Voltar

Para o artigo deste mês trago um tópico pertinente na minha opinião e amplamente discutido atualmente na indústria da moda que são as medidas. Com medidas, refiro-me aos tamanhos que vemos ser publicitados ou expostos nas redes sociais e aqueles que se encontram disponíveis para compra, pois roupa feita à medida é algo invulgar nos dias correntes. Esses tamanhos escondem problemas existentes como, a intolerância por outros tipos de corpos o que por sua vez leva à criação de preconceitos e standards irreais e inalcançáveis, distúrbios alimentares, perturbações psicológicas, body shaming, entre outros problemas.

À medida que a moda avança, os padrões de beleza alteram-se e os desejos mudam. Com a moda feminina em maior destaque ao longo destas alterações, podemos realçar a notória diferença na valorização de certas características físicas e sobretudo como eram destacadas. Por exemplo, uma burguesa do séc. XVIII realçava a finura da sua cintura com o auxílio de espartilhos e corpetes, enquanto essa mesma valorização existe na mesma medida nos dias de hoje, mas através de muito menos camadas de roupa, procedimentos estéticos, treino físico e bons ângulos de luz. Para não falar que a promoção destas mesmas características não ocorrem em bailes temáticos como podemos testemunhar através de séries como Bridgerton ou Reign, mas sim em plataformas digitais.

Apesar dos padrões de beleza e as suas mutações serem um tópico interessante, neste artigo quero focar-me no body shaming e body positivity. O body shaming acontece quando um corpo não corresponde aos tamanhos standard de um 36 feminino ou de um 44 masculino e é criticado. Acontece também quando os corpos reais são comparados aos visíveis nas redes sociais e em campanhas, editoriais, desfiles e outros momentos de exposição. A comparação com esse ideal popularizado nas redes sociais onde as imagens são fortemente editadas, leva a que haja uma comparação dessa realidade deturpada com a nossa realidade de corpos normais com estrias, marcas e de diversos tamanhos. Contudo, a indústria da moda tem contribuído para a mudança deste pensamento em pequenos feitos e o body positivity está em vigor e a ser defendido por muitos. Um exemplo muito bom foi o lançamento da Savage X Fenty: Volume II onde durante a apresentação vemos a inclusão tanto de modelos de todos os tamanhos como a disponibilidade de produtos nesses tamanhos, algo que já se começa a ver no mercado com mais frequência. Outro exemplo e mais recente foi o da modelo Sara Sampaio que na passada sexta-feira, dia 12 deste mês, publicou um vídeo nas suas redes sociais a mostrar as diferentes diferenças corporais que um corpo atravessa através de poses e movimentos. Este vídeo foi resposta a comentários negativos em relação ao seu corpo e que viralizou, assim como a mensagem implícita de normalizar as transformações que os corpos sofrem devido ao movimento, ao tempo, aos ângulos menos bons que certamente todos temos e de marcas existentes. Estas mensagens de diversidade e positividade são de extrema importância para se mudarem mentalidades e espero que se continue a fazer a diferença. A moda é universal e dentro dessa universalidade existe espaço para cada medida, falha e inseguranças pessoais, pois a moda serve para nos sentirmos mais confortáveis connosco, seguros e expressivos e não o contrário.

- 23 fev, 2021
- Tiago Matos