Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Que 2021 seja o ano de mudança para um mundo mais justo e sustentável! Voltar

Sendo certo que a maioria dos portugueses e portuguesas estavam ansiosos por ver o ano de 2020 chegar ao fim, mais expectantes ainda estamos  para ver o que nos reserva este novo ano, atenta a crise sanitária sem precedentes que marcou - e marca ainda - o nosso tempo. Certo é que, numa semana em que Portugal regista o maior número de novos casos de infecção pelo novo coronavírus, acima da barreira dos 10.000 novos infectados, e mesmo com a chegada da tão desejada vacina, temos ainda um longo caminho a percorrer, em que não podemos deixar de lado as demais medidas.

A crise sanitária trouxe uma sobrecarga para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), de si há muito debilitado na sua capacidade de resposta devido a anos de crónico subinvestimento. Nesta crise, têm-nos valido os profissionais de saúde que, de forma altruísta, não baixam os braços. Mas a propagação da COVID-19 trouxe-nos também uma crise social e económica cujas consequências ainda não conhecemos na sua total dimensão.

Segundo um inquérito sobre as condições de vida e rendimento em Portugal, levado a cabo pelo INE, 17,2% das pessoas encontravam-se em risco de pobreza em 2018. A taxa de risco de pobreza correspondia, nesse ano, à proporção de habitantes com rendimentos monetários líquidos (por adulto equivalente) inferiores a 501 euros/mês. Ainda de acordo com o indicador que conjuga as condições de risco de pobreza, de privação material severa e de intensidade laboral per capita muito reduzida, 2.215 milhares de pessoas estavam em risco de pobreza ou de exclusão social em 2019 (numa taxa de pobreza ou exclusão social de 21,6%).

Face a estes dados e ao que esta crise sanitária nos trouxe, não podemos deixar de nos perguntar  que actualidade sobre a evolução das condições de vida da população no país, a par da identificação dos principais factores de vulnerabilidade social, nos trarão os dados referentes à situação socioeconómica do país que se viu agravada pelo impacto da Covid-19?

Esta crise que a todos afecta, directa ou indirectamente, veio contribuir,no caso da Covilhã, para elevar para o dobro o número de famílias apoiadas pela autarquia, por força de se terem visto a braços com o desemprego, o lay-off ou por se tratarem de pessoas idosas com rendimentos insuficientes. Ver surgir iniciativas como a plataforma social de ajuda alimentar que foi criada e que permite o rastreio dos bens doados e a sua posterior distribuição - é um sinal evidente do espírito solidário que todos devemos adotar.

Mas é preciso ir mais longe. É preciso que, por um lado, as/os decisoras/es políticos, a nível nacional e local, por um lado, tudo façam para que ninguém fique para trás e, por outro, assumir de uma vez que a forma insustentável como temos vivido até aqui não pode ser de todo o caminho a prosseguir. Para além dos apoios sociais e económicos que são fundamentais para ultrapassar esta crise, precisamos de apostar urgentemente na transição para um modelo mais justo e sustentável de crescimento, assente numa cultura de respeito e consciência da finitude dos recursos naturais, ao invés do actual paradigma extractivista e invasivo que nos trouxe zoonoses como a COVID-19. Mais do que questionar o que nos espera em 2021, é tempo de perguntar o que queremos de 2021 e, por aí em diante e, acima de tudo  o que podemos fazer para lá chegar.

 

 

 

- 13 jan, 2021
- Inês Sousa Real