Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

“Temos como objetivo ser a melhor banda do país” Voltar

COMEMORAÇÕES. No ano em que a Banda da Covilhã celebra os 150 anos, o Jornal Fórum Covilhã esteve à conversa com Eduardo Cavaco, presidente desde 2005. Na entrevista, falou-se das comemorações, a «chave do sucesso» da instituição, e os objetivos para 2021

 Jornal Fórum Covilhã (JFC) - A Banda da Covilhã celebra este ano os 150 anos. Como foi não puderem realizar as atividades previstas, devido à pandemia?

Eduardo Cavaco (EC) - Foi de facto triste. Quando há três anos começámos a planificar estas grandes comemorações, projetámos um plano ambicioso e que ainda se mantém. Delineámos uma estratégia que passou pela Comissão de Honra, que tem mais de 40 elementos, dos quais fazem parte o Presidente da República, que preside esta comissão, assim como dois ministros, políticos, personalidades ligadas à religião e à cidade da Covilhã, como maestros e sócios honorários, tentando envolver toda a comunidade ligada à Banda, à cidade, à região e ao país num espectro que vai desde o sócio, o músico, até ao Presidente da República, passando também por maestros e compositores. Mas de facto o ponto alto das comemorações teriam sido, o que não acontece, a Sessão Solene, concerto e jantar de Gala. Programámos comemorações à altura desta data histórica porque estamos a comemorar 150 anos da história da Banda da Covilhã. Gostaria de clarificar que a Banda existe desde 1870, depois extinguia-se e voltava a reabrir, mas de uma forma ininterrupta está ativa há 76 anos, que também está a ser celebrada porque foi no dia 1 de dezembro de 1944 que um grupo de músicos saiu à rua a tocar. A Banda da Covilhã foi uma das músicas que saiu no final de outubro durante três dias para a Comemoração da Elevação da Covilhã a Cidade, o que é um motivo de orgulho para esta casa. Infelizmente esta banda sofreu uma tragédia, dia 5 de maio de 1992 ardeu tudo, o nosso espólio e outros de bandas da cidade porque nós éramos detentores de todo o arquivo musical da Banda do Regimento. Havia cá um quartel, onde é agora a nossa Universidade, e nós tínhamos todo esse arquivo. Um dos nossos objetivos das comemorações é também recuperar essa história através do lançamento de um livro, lançar um CD e obras originais, o lançamento do nosso Hino escrito pelo maestro Carlos Almeida, tal como a Marcha dos 150 anos. A projeção desta marcha estava prevista para um grande evento com 600 músicos aqui na cidade da Covilhã. Outro evento que ia ser realizado era a gravação do CD que estava agendado para janeiro, para ser lançado no concerto de primavera e que também teve de ser adiado. Todos nós percebemos os constrangimentos, a segurança, a limitação, o que condiciona bastante o nosso plano de ação. Resumindo, as comemorações vão ser simples, mas vão assinalar uma data histórica que é importante para esta casa, para aqueles que estiveram antes de nós e para aqueles que virão.

JFC - Como considera que tem sido o percurso da Banda da Covilhã até agora?

EC - O percurso da Banda da Covilhã tem sido como outro qualquer, com altos e baixos. Há alturas em que as bandas têm muitos músicos e muitas atividades e há alturas em que estão quase no esquecimento. Depois, lá aparece um diretor e um maestro com carolice e gosto para começar a desenvolver projetos. Eu, enquanto presidente, o que posso dizer é que desde a minha chegada há 15 anos, temos trabalhado com diversas equipas diretivas e temos pautado por dignificar a música filarmónica e desenvolver e aumentar o projeto Banda da Covilhã, o que penso termos sido bem-sucedidos porque começámos numa academia praticamente do zero e hoje temos 80 músicos. Na primeira reunião fui contratado como maestro, em 2005, eram apenas sete músicos e no final ficou só um. Hoje temos 50 músicos e 15 novos para entrar. Claro que há algumas pessoas que saem porque vão estudar para fora e nem sempre se apresenta com os 50 músicos. Para manter uma Banda é necessário estarmos sempre a trabalhar na formação, que é um pilar muito importante. Na Banda da Covilhã, desde que cá entrei, temos dois objetivos: a academia de música e ser a melhor banda do país. Para além disto, o nosso projeto é de cariz social, pedagógico, artístico, cultural e musical. Temos bolsas de estudos para crianças que têm mais dificuldades e emprestamos todos os instrumentos de forma gratuita e por isso é que trabalhamos todos os dias para obter apoios e ofertas.

 

JFC - O que considera que leva as crianças a querer aprender um instrumento musical?

EC - Existem várias situações. A situação mais tradicional é a banda ser uma família e foi o pai que cá andou, o tio, o irmão. Por esse motivo, acabam por influenciar as crianças a querer aprender. A criatividade, originalidade e pedagogia são também características que chamam à atenção das pessoas. O facto de trabalharmos com estas bases, que envolvem a família, fazem com que as pessoas venham com gosto para a banda. A criança, que pode entrar a partir dos 4 anos, quando chega à banda faz um rodízio instrumental para puder experimentar os instrumentos. Temos turmas de crianças e de adultos e há pessoas que não pertencem à banda, estão na formação musical porque se querem enriquecer a elas próprias, por exemplo, há uma turma com senhoras nos 60 anos e outra turma onde se aprende a tocar piano. A valência das bandas são os instrumentos de sopro e percussão, mas a nossa banda foi mais além porque há pedidos e mercado que nos pede para ter aulas de piano, aulas de canto e guitarra. Pode-se também dizer que a Banda da Covilhã é uma das mais jovens do país, com uma média de idades de 16 anos.

JFC - Como presidente, quais os projetos que considera que tiveram mais sucesso?

EC - O maior sucesso é a estratégia de várias equipas que tem trabalhado comigo. A estratégia está assente em valorizar os músicos, os instrumentos, o fardamento e depois a sede. Depois, temos como objetivo ser a melhor banda do país, termos uma orquestra profissional e pudermos almejar e chegar ainda mais longe, ou seja, tornarmo-nos num projeto internacional. Estamos a trabalhar nesse objetivo, a dar os primeiros passos, na internacionalização. A Banda da Covilhã vai lançar um projeto em 2021, onde vai ser pioneira a internacionalizar-se ao nível da música.

 

JFC - E quais as maiores conquistas?

EC - As maiores conquistas foi ver as crianças chegarem, primeiro, duas, depois dez, dezassete… Chegámos a ter mais de 100 alunos e hoje estão 80. Vê-los aprender a tocar, evoluir, esta casa estar cheia de vida, música, isso é maravilhoso. Ver as salas cheias, os aplausos. É certo que podíamos ter mais apoios e é possível fazer esse donativo, porque com pouco já fizemos esse percurso considerável então, com mais ajudas, seria mais facilitador para chegar mais longe.

 

JFC - Quais os objetivos da Banda da Covilhã para 2021?

EC - Para 2021, temos como objetivo dar os primeiros passos na internacionalização e realizar as comemorações dos 150 anos. Independentemente de já não ser o ano do aniversário, nós vamos fazer tudo aquilo que tínhamos planeado. Vamos ter a Covilhã a Capital da Filarmonia, vamos comemorar os 150 anos com um bolo gigante no pelourinho. Vão também ser realizados um leque de atividades que se mantém, como a Academia de Música, os Concertos pedagógicos, temáticos e solidários, as férias Dó-Ré-Mi, que é um projeto já de há 14 anos com bastante sucesso. Temos também outras grandes atividades, em parceria com a Associação Cultural Desertuna, como «Até os Santos Dançam» e o «Festival da Cherovia», que já vai para a 14ª edição, ainda com mais qualidade e oxalá já no terreno. Outra das nossas aspirações é querermos um coreto no jardim, que seria um bom palco não só para a banda, mas também para todos os artistas e dinamização do centro histórico.

- 02 dez, 2020
- Helena Esteves