Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

“Temos ainda capacidade de endividamento e crédito nos mercados” Voltar

BELMONTE. O presidente da Câmara Municipal, António Rocha, falou do impacto que a Covid-19 teve no concelho, onde o turismo tem um peso estrutural na economia. O edil belmontense garante que a autarquia “tudo fará” para retomar a dinâmica turística que foi conseguida e que a “pandemia” travou. Em entrevista ao Jornal Fórum Covilhã considerou que a distribuição de pelouros pelos vereadores da oposição “foi uma decisão acertada”, falou nas obras que pretende lançar e disse que a recandidatura nas eleições de 2021 “não está na lista de prioridades”

Jornal Fórum Covilhã (JFC) – Qual o balanço que faz do trabalho já realizado neste mandato?

António Rocha (AR) – O balanço terá de ser feito pelos cidadãos do concelho. Por mim tenho a consciência de ter feito o possível para o concelho de Belmonte viver tempos de acalmia política e assim poder haver uma frente comum para o desenvolvimento da nossa terra. Cientes das dificuldades económicas que vivemos, e das fragilidades da região, conseguimos manter o nosso concelho a crescer na captação turística, o que muito alavanca a nossa economia. Infelizmente, esta pandemia da Covid-19 veio travar toda uma estratégia de crescimento e consolidação de políticas que estavam a ser implementadas. Ainda assim, Belmonte ganhou um capital político na região, estruturou as suas ligações ao Brasil. Os resultados vão chegar em breve. Sou um otimista.

JFC – O que pode a autarquia fazer para minimizar os danos provocados pela Covid-19 no turismo?

AR – É um setor estratégico para Belmonte, mas que sofreu um rude golpe com esta «travagem» global. Os museus tiveram de fechar, as empresas de turismo, os hotéis, os restaurantes, encerraram portas, mas Belmonte afirmou-se como um destino cultural e de bem-estar dentro do país, atraímos cada vez mais estrangeiros, sobretudo da diáspora judaica e brasileira. Tenho a certeza que vamos continuar atrativos e, muito em breve, poderemos recuperar as nossas dinâmicas. No contexto europeu, Portugal apresenta-se com um dos destinos mais seguros, vai certamente ter a atenção das grandes agências de turismo internacional e começar uma retoma rápida. Poderemos beneficiar disso.

JFC - E que estratégia vai adotar o município de Belmonte para retomar a atividade turística e conseguir números atrativos como os que vinha apresentando de ano para ano?

AR – Para já, será uma estratégia de mitigação de danos, uma vez que temos ainda a nossa atividade limitada. Cancelámos as festividades de Abril, o grande concerto com o brasileiro Martinho da Vila, em julho e teremos de, infelizmente, cancelar a Feira Medieval, de agosto. Não estão reunidas condições de segurança para um evento que junta milhares de pessoas. Não queremos que uma ousadia nossa, possa colocar em perigo as populações de Belmonte, recebendo visitantes de todos os lados de uma forma descontrolada. Mas estou confiante de que seremos capazes de dinamizar o setor do turismo no nosso concelho e que retomaremos a nossa programação após o verão. A empresa municipal vai trabalhar com as agências, hotéis, alojamento local, comerciantes, restauração, para que possamos recuperar a dinâmica de sempre.

JFC – Tomou há dois anos, a decisão de redistribuir pelouros pelos vereadores da oposição. Passado este tempo considera que foi uma posição acertada e qual a avaliação que faz do trabalho realizado pelos vereadores, Amândio Melo e Luís António?

AR – Hoje, mais do que há dois anos, tenho a certeza de ter tomado uma decisão ajustada. Possibilitou uma pacificação política e um trabalho de coesão para resolução dos problemas do concelho. Fui muito criticado, mas a minha confiança nestas duas pessoas resultou ser acertada. Estão a fazer um trabalho sério e empenhado, com a lealdade ao presidente, ainda que tenham as suas próprias ideias e o seu sentido crítico em relação ao trabalho que desenvolvo. Também eles foram muito censurados quando aceitaram este meu desafio, e deixem-me sublinhar que foi de uma enorme coragem da parte deles terem assumido este compromisso, mostrando que o interesse do concelho de Belmonte estava acima das questões meramente partidárias. Respondendo claramente à sua questão: sim, foi uma posição acertada.

JFC - A Covid-19 obrigou à paragem de determinados projetos e também à redução do número de trabalhadores nas empresas e instituições, não sendo os municípios exceção. Quais os projetos/obras que a autarquia de Belmonte tenciona concretizar a curto e médio prazo?

AR - Ultrapassado o pico da pandemia, o que está em causa são os eventos públicos por causa das aglomerações de pessoas. Agora, os outros projetos podem e devem continuar. Felizmente não temos, até hoje, qualquer contaminação do Coronavírus e assim pretendemos continuar, se tal for possível. Continuamos empenhados em concretizar o Centro Interpretativo de Centum Cellas no Colmeal da Torre; a musealização e iluminação do Castelo de Belmonte e zona adjacente; na criação de uma nova área de Acolhimento Empresarial; na continuação da remodelação da Rua Pedro Álvares Cabral em Belmonte; na melhoria de arruamento da zona Histórica de Belmonte; na criação do parque de lazer e Jardim Público de Caria; na criação do Consulado Honorário do Brasil em Belmonte; no alcatroamento de estradas municipais e na repavimentação de ruas nas diferentes Freguesias; na melhoria das condições existentes nos vários museus no concelho; na concretização de vários projetos privados. Como vêm há um conjunto alargado de projetos e obras que queremos concretizar ou, pelo menos, ter a certeza da sua concretização futura.

JFC – O que vai ser feito para ajudar as famílias e as empresas a mitigar os efeitos desta «crise mundial»?

AR – Disse bem, é uma crise mundial, é uma calamidade que tocou os cinco continentes, pelo que as soluções devem ser também globais. É importante que a União Europeia tenha uma gestão de crise com a dimensão solidária que se exige numa situação de emergência como esta. António Costa tem sido um líder ponderado e um excelente negociador. Estou certo que conseguirá os apoios internacionais necessários e uma posterior reorganização do Orçamento de Estado de forma a poder incrementar a economia nacional. Depois devemos exigir do Governo nacional, o mesmo que exigimos da Europa – uma política solidária com as regiões mais deprimidas do interior, que já tinham os seus próprios problemas e que agora os viram agravados.

JFC – Mas, quais os apoios que a Câmara Municipal a que preside pode implementar a nível local?

AR – Em termos locais, uma coisa é certa, a câmara Municipal de Belmonte tem estado em contactos com as instituições sociais, as empresas, as indústrias, o comércio, assim como, estivemos na linha da frente a apoiar as famílias carenciadas. Tivemos um trabalho de bastidores que se mostrou positivo e eficaz. Não precisei de andar a tirar fotografias com este ou aquele, as pessoas sabiam que quando precisavam de mim ou da câmara, eram atendidos e obtinham resposta. Vamos entrar agora numa segunda fase. Não há varinhas de condão, a autarquia tem recursos financeiros limitados. As soluções terão de ser encontradas num diálogo alargado entre o poder político e os agentes económicos do concelho. Veremos como podemos agir caso a caso, setor a setor, pois são realidades distintas e exigem respostas também diferenciadas. Temos um gabinete de apoio ao investimento, que está a fazer um levantamento do impacto financeiro que esta crise teve em Belmonte e vamos estruturar, com todos, um plano de ação. Uma coisa quero deixar presente a todos, a Câmara Municipal de Belmonte será uma parceira segura para encontrar o caminho certo e vamos vencer esta crise, como já vencemos outras. Somos resistentes, lutadores e acreditamos nas nossas capacidades.

JFC - Há pouco tempo, o presidente da Câmara Municipal da Covilhã falou na reorganização dos municípios nas Comunidades Intermunicipais e colocou em «cima da mesa» a hipótese dos três municípios da Cova da Beira passarem a integrar a Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa. Qual a sua opinião sobre a reorganização do território neste âmbito?

AR - Mais que a geometria das regiões, importa definir o papel das Comunidades Intermunicipais, o seu funcionamento, a sua ação, as suas estratégias. Creio que há um debate interno a fazer antes de tomar outras decisões. Agora, sim, tudo está «em cima da mesa» e tudo é possível.

JFC – A principal crítica que lhe é dirigida pela oposição prende-se com o “endividamento” da autarquia. Qual a situação financeira do município de Belmonte?

AR – Se essa é a principal crítica, então a oposição não tem mesmo nada para apresentar, pois a situação económica de Belmonte é equilibrada como demonstram as contas públicas que foram aprovadas em executivo por unanimidade. Contas que são conhecidas de todos, aprovadas pela Assembleia Municipal e pelas entidades oficiais. Temos ainda capacidade de endividamento e crédito nos mercados, por isso, temos de olhar com otimismo para o futuro. É sabido que não temos a folga financeira que gostaríamos, que temos um orçamento apertado, mas temos as contas perfeitamente equilibradas. As pessoas de Belmonte não precisam de se preocupar com isso e a oposição também não.

JFC – Falta cerca de um ano e meio para as eleições autárquicas. Já começou a pensar na recandidatura?

AR – Olhando para Belmonte, há uma lista de prioridades sobre a minha mesa de trabalho. A “recandidatura” não está nessa lista, não é uma prioridade. Agora é tempo de olhar para as famílias carenciadas, para os que ficaram sem emprego, para as empresas que sofreram estrangulamentos financeiros, para o comércio que precisa abrir portas. É preciso restaurar a confiança das pessoas e das empresas, é preciso colocar Belmonte com a confiança dos vencedores. Depois, só depois, se verá no plano político as opções a tomar.

JFC – Que mensagem quer dirigir aos munícipes do concelho de Belmonte?

AR – Uma mensagem de enorme confiança no futuro. Não vamos perder forças nem desarmar dos nossos projetos. Vamos ultrapassar esta crise com coragem e trabalho. Temos de estar todos unidos nesta batalha, e é preciso que cada um dê o seu contributo, nas associações, nas empresas, nos clubes de bairro. Nesta hora, é preciso que cada um se mostre empenhado nas escolas, nos lares, nas instituições de solidariedade, nos bombeiros, na saúde, no apoio aos mais necessitados, às famílias carenciadas. Como dizia José Saramago: «Creio no direito à solidariedade, mas também, no dever de ser solidário!» Por isso, todos nós devemos ser úteis de acordo com as nossas forças. Não vamos escamotear as nossas responsabilidades. Podem contar com a Câmara Municipal de Belmonte na linha da frente, assim como, contar com o meu empenho e total dedicação pessoal. Belmonte é e será, uma terra de progresso e bem-estar. Uma terra onde vale a pena viver.

 

- 12 mai, 2020
- Ricardo Tavares