Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Lula Pena foi uma brisa de ar fresco nos Sons à Sexta Voltar

MÚSICA: Compositora e intérprete portuguesa é um corpo estranho no panorama nacional. Um estilo único, uma forma de fazer música que a nada se assemelha, mas que rapidamente conquista. No Fundão, foi igual a si mesma. Mais de uma hora de música sem parar, com direito a enorme aplauso no fim.

O Sons à Sexta continuou na última sexta-feira a trilhar o seu caminho de sucesso no mundo dos festivais de música em Portugal. Desta vez, a convidada recebida no Multiusos fundanense foi Lula Pena. A compositora e intérprete portuguesa é estranha, no bom sentido da palavra, e não há que ter medo de o dizer. Num mundo musical tão comercial e em que tudo acontece tão rápido, em Lula Pena há sempre tempo para respirar e aproveitar. Sem pressas, sem acelerações inesperadas e fins épicos. E ainda assim, tudo faz sentido…

Com uma carreira de mais de 20 anos, Lula lançou apenas três álbuns. Mas coloque-se agora esse “apenas” entre aspas. É que estes três álbuns têm tanto em si mesmos que se equivalem a vários álbuns que poderiam ter sido feitos de forma apressada para responder ao que os mercados exigem. Lula parece de facto, e como dizia a organização do evento, “situar-se num tempo e espaço realmente seus”, imune ao que os outros vão fazendo à sua volta, mas absorvendo tudo para incorporar nos seus trabalhos. Cantou em inglês, em espanhol, em francês, em português do Brasil… Informou logo de início que tocaria apenas uma música, mas uma música que duraria 1 hora. E durou, até mais do que essa hora prometida. Sem parar, Lula viajou entre temas que se encaixaram na perfeição uns nos outros, como que contando uma história ininterrupta que prendeu todos os espetadores presentes. Não há um estilo que a define, porque é no seu estilo próprio e único que cria, utilizando um pouco de todos os estilos que foi ouvindo e aceitando em si ao longo dos tempos. E que bem que sabe essa junção sem nome e sem definições perfeitas e que se possam retirar da internet e usar quando necessário. É algo que só a ela lhe pertence, mas que vai partilhando a espaços connosco para que tenhamos também nós o tempo e o espaço certos para absorver.

No fim, aplauso enorme de uma sala que viajou com Lula Pena nas suas palavras e nas sua forma de as contar cantando. Uma brisa de ar fresco a um evento que se renova a cada novo artista e a cada novo mês, que terminou com uma versão especial de Estranha Forma de Vida de Amália Rodrigues, no concelho que viu nascer a fadista. Especial!

- 20 out, 2020
- Fernando Gil Teixeira