Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Pode existir desporto jovem para lá do COVID-19!!! Voltar

 

O COVID-19 veio para ficar!

No decorrer do confinamento, foram muitas as tentativas de se criarem meios de produção cultural, musical, desportiva e muitas outras. Especificamente, no âmbito do desporto, foram criados imensos grupos de prática em casa, oportunidades de negócio com a criação do PT on-line, competições on-line através de simuladores e até treinos on-line de desportos coletivos e trabalho individualizado existiram para equipas de jovens ou profissionais.

No entanto, o mais importante de toda esta envolvência, não foi o que fizeram ou como o fizeram, mas sim a certeza de que praticaram atividade física ou desportiva, continuando, assim, a manter o seu estilo de vida ativa!

Tal como advoga a Organização Mundial de Saúde, o desporto assegura uma grande fatia da saúde das populações.

 

A este propósito, nos últimos anos, temos assistido, e bem, a campanhas sucessivas da Direção Geral de Saúde (DGS) para a promoção do desporto e atividade física e ações específicas, tais como a criação do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física (PNPAF), que visam a diminuição do sedentarismo e dos níveis de obesidade entre jovens. Repare-se que o PNPAF se encontra, no site da DGS, no mesmo nível de prioridade das doenças oncológicas ou do tabagismo… o que não será por acaso…

 

Após um período de confinamento, de alteração completa dos hábitos das crianças e de diminuição brusca nos níveis de atividade física destes, com toda a certeza que os hábitos de prática desportiva estão a diminuir e os níveis de obesidade estão a aumentar dia após dia com inúmeras consequências para o futuro e que apenas daqui a uns anos iremos perceber! (o meu filho preocupado por não poder treinar dizia-me que tínhamos que ir andar de bicicleta… senão a barriguinha começava a aumentar…).

 

Deste modo, sabendo dos riscos inerentes e das medidas de segurança necessárias, a reabertura das instalações desportivas municipais e dos clubes, nomeadamente, para a prática de desporto de formação é crucial, desde que garantidas as medidas que salvaguardem a segurança de todos face à pandemia existente.

 

Apesar disso, eis que, até ao dia de hoje, pouco ou nada se sabe sobre quais as orientações e recomendações para a prática desportiva entre os jovens. Já sabemos que, nas escolas, até aos 10 anos não é necessário o uso de máscaras, a educação física deverá assegurar os 3 m de distanciamento, mas, ao mesmo tempo, são propostos jogos reduzidos como forma de manter essa mesma distância num rácio de cerca de 23 alunos em espaços 40x20 metros ou menores… Mas desporto de formação até aos 10 anos ainda não é possível… Algo não faz sentido!!!!

 

O problema não está apenas nos 3 metros, mas na relação entre a distância e o tempo de exposição a essa distância. De acordo com estudos realizados, de modo a diminuir o perigo de contágio, deverá diminuir-se a exposição a gotículas respiratórias de terceiros. Quanto maior o tempo numa zona inferior a cerca de 2 metros, maior a probabilidade de gotículas de terceiros serem transmitidas. No desporto é considerado como espaço de segurança um espaço de 3 metros devido ao aumento da frequência respiratória e um tempo de exposição de cerca de 2s como fatores de aumento de risco de contágio.

 

No que diz respeito à prática de futebol e futsal, modalidades que acompanho mais de perto e que constituem uma grande fatia da prática desportiva federada em Portugal, as mesmas foram consideradas como atividades de nível de risco médio, estando já definidas as condições para a sua prática entre adultos. No que diz respeito aos jovens nada se sabe…. A não ser pelas declarações do sr. Secretário de Estado do Desporto que está muito satisfeito porque nenhum clube ainda fechou…

 

Perante toda esta situação, consideramos que a retoma da prática desportiva nos escalões de formação deve ser imediata. Como tal, deixamos algumas recomendações para o retorno à prática de atividades desportivas coletivas na formação. Estas recomendações têm por base investigação recente sobre o risco em que ocorrem os jogadores na prática de jogos de futebol, bem como na prática de jogos reduzidos desde 3x3 a 7x7 (portanto futsal também poderá ser incluído nestes jogos reduzidos analisados).

 

Com exceção dos momentos de marcação de pontapés de canto e das celebrações de golo, verificou-se que um jogador apenas se encontra na zona de risco de transmissão de outro jogador cerca de 33s, por jogo. Outro dos momentos de aumento de risco de contágio diz respeito aos momentos em que a bola está fora e o jogo parado. No entanto, se considerarmos apenas 2 m como a zona de risco este valor diminui para cerca de 15s por jogo.

 

Já em relação à prática dos jogos reduzidos (3x3 a 7x7), verificaram-se valores 3x menores de risco de contágio em relação aos verificados no jogo. Cerca de 80% das entradas na zona de risco ocorrem em momentos de duração inferior a 2s. Na manipulação do espaço de jogo verificou-se que quanto maior o espaço por jogador menor o risco de transmissão. Em relação ao número de jogadores, de forma interessante, quanto menor o número de jogadores, maior o número de contactos entre jogadores e tempo passado na zona de risco. Ao invés quantos mais jogadores, menor o tempo passado em zona de risco e número de contactos, mas maior o número de contactos entre jogadores, caso um jogador esteja infetado.

 

Em suma, o perigo de transmissão é semelhante entre os jogos reduzidos 3x3 e 7x7 e cerca de 3x menor em relação à prática de jogo formal. Deste modo, a prática de jogos reduzidos de futebol ou futsal parece ser segura, tendo por base a dinâmica do jogo. Para além disso, o recurso a circuitos competitivos, ou divisão dos jogos reduzidos em corredores e setores podem ser estratégias a utilizar para aumentar a distância de segurança e diminuir o tempo em zona de risco.

 

Não recomendamos de todo a realização de situações de 1x1 ou mesmo 2x2 em espaço muito reduzido pois aumenta de forma substancial o tempo passado em zona de risco.

Recomendamos especial atenção aos momentos de alongamento, trabalho de força, instrução ou feedback no decorrer dos treinos de modo a garantir, aqui sim, a permanência em distância social prolongada. Face à diferença entre os valores obtidos entre jogo e jogos reduzidos, consideramos, que, não existindo condições para assegurar a prática formal competitiva, o retorno ao treino deve ser assegurado no imediato desde considerados alguns destes pressupostos.

 

Na prática, onde está, então, o problema?

O problema está, do nosso ponto de vista, nos transportes e nas instalações desportivas que asseguram esta prática e que em muitos casos não apresentam quaisquer condições para tal com ou sem COVID-19.

Perdeu o sr. Secretário de Estado do Desporto uma boa oportunidade para contribuir para a modernização das instalações desportivas do nosso país e de forma indireta para o programa nacional de atividade física.

 

Já agora, uma vez que apenas houve programas extraordinários para a cultura e para o apoio dos agentes culturais, e em momento algum foram considerados os milhares de profissionais de desporto que atuam na base do sistema desportivo português a recibos verdes, e que ainda hoje continuam sem receber um tostão, que rapidamente também estes possam voltar a exercer as suas profissões!

 

Aproveitar os momentos de crise para inovar é garantir o futuro!

- 29 set, 2020
- Bruno Travassos