Manel Cruz arrebatou Multiusos no regresso dos Sons à Sexta
Voltar
MÚSICA: Festival intimista de música portuguesa do Fundão trouxe, em espaço renovado e adaptado às novas normas, o mítico Manel Cruz dos Ornatos Violeta para um concerto que conquistou de imediato a plateia e que esteve completamente esgotado
O Sons à Sexta, festival de música contemporânea e alternativa portuguesa fundanense, sempre se realizou em moldes intimistas, na pequena sala da Moagem, algo que se tornou impossível ou menos viável nos tempos que vivemos e que levou o festival a mudar-se para o Pavilhão Multiusos do Fundão. Maior, mais espaçoso, mais arejado e com capacidade para levar mais pessoas distanciadas numa fase como estas.
Manel Cruz foi o escolhido para o regresso do evento depois da paragem forçada e foi também o primeiro concerto do músico no pós-quarentena, sendo que apenas havia dado concertos via online, mas não presencialmente e com o calor do público como aconteceu na última sexta-feira, em que embora de máscara e distanciados, não faltaram as palmas e a interação entre público e artista. Manel Cruz dispensa apresentações. Irreverente, nostálgico e com um travo vintage em cada palavra que canta ou diz, entrou como Manel Cruz sempre gostaria de entrar no concerto. Por um local inesperado, pelas costas do público e logo a cantar à capela de forma a sentirmos toda a melancolia que carrega na sua voz. Um momento soberbo logo a começar que arrebatou toda a plateia. Depois, foi também Manel Cruz na sua plenitude. Cantou alguns clássicos a solo seus, estreou músicas novas, mostrou músicas que criou durante a quarentena e ainda brincou com a plateia com músicas de improviso ou a terminarem de forma inesperada, arrancando muitos risos e criando um ótimo ambiente na enorme sala do Multiusos fundanense.
Não se escusou a essa interação, mesmo no fim. É um músico que sabe receber o público da mesma forma como é recebido nos sítios por onde passa. Já não se fazem muitos músicos assim, mas Manel Cruz também certamente não se considera deste tempo. Manel Cruz não tem tempo, é tão intemporal que se mistura e dilui na música portuguesa e fará sempre parte dela.
Já o Sons à Sexta, voltou em força e com casa cheia e promete continuar desta forma nos próximos meses e com um cartaz sempre forte e pouco usual na nossa região, trazendo artistas que por cá nunca passaram. Afinal, os Sons à Sexta já não são apenas um festival de música do Fundão, mas sim de toda a região, trazendo pessoas de todos os cantos das Beiras para verem artistas que provavelmente só por cá passarão uma vez, esta!
- 29 set, 2020
- Fernando Gil Teixeira