Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Dia Mundial do Ambiente - promover a consciência e a acção ambiental a nível mundial ou reflexões de uma botânica – wake up call Voltar

 

As questões ambientais não são só de agora; as alterações climáticas ou climate change não foi inventado pelos chineses nem é nenhum trend. Que digam os produtores/agricultores, e não só, desta nossa região, depois do fim de semana passado!

E foi assim que, neste dia 5 de Junho, em 1974, a Organização das Nações Unidas (ONU) reuniu na Suécia, dando origem á primeira conferência sobre o meio ambiente – Conferência de Estocolmo, com o objetivo de alertar as populações e os governos para a necessidade de protecção e preservação do ambiente que nos rodeia. Devido á necessidade de um plano de acção e coordenação internacional de protecção e de promoção do desenvolvimento sustentável, foi criada, durante esta conferência, a PNUA (Programa das Nações Unidas para o Ambiente) e onde se apresentou também a Declaração da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente, elecando uma série de princípios (dezanove) que direccionam a política ambiental em todo o planeta.

Este evento foi um marco na história, um ponto de viragem e de evidência de que, as nossas acções têm consequências, e em relação ao ambiente, profusamente negativas. 

Assim, todos os anos, a ONU apresenta um tema e um país de forma a comemorar e celebrar este dia, sensibilizando os povos de todo o mundo, elevando a consciência ambiental individual e colectiva, através do desenvolvimento de diversas acções como actividades, eventos, workshops, etc. Estas acções têm como objectivo transferir conhecimento, novas formas e métodos de preservação do futuro da Humanidade.

Neste ano, o tema abordado é a Biodiversidade – uma preocupação que é urgente e existencial;  e o país acolhedor é a Colômbia, o segundo país com maior biodiversidade do mundo, a seguir ao Brasil. Com cerca de 10% da biodiversidade de todo o planeta, particularmente em espécies de aves e orquídeas, mas também de outras plantas, borboletas, peixes de água doce e anfíbios, integra 2 dos 36 hotspots de biodiversidade reconhecidos (Tumbes-Chocó-Magdalena e Tropical Andes), de acordo com a Conservation International. Um hotspot é uma região biogeográfica que deve conter pelo menos 1.500 espécies de plantas vasculares encontradas em nenhum outro lugar da Terra (endemismo) e que tenha perdido pelo menos 70% de sua vegetação nativa primária, ou seja, uma região de identidade única e rica em diversidade e altamente ameaçada. O hotspot Tropical dos Andes, por exemplo, excede estes valores, onde possui cerca de 15.000 espécies endémicas de plantas e a perda de vegetação em alguns pontos atingiu 95%!

Durante a COP25 (Conferência das Partes) da Convenção da ONU para o painel das Alterações Climáticas, em dezembro de 2019, em Madrid, o ministro colombiano do Ambiente salientou que, com um milhão de espécies de plantas e de animais em perigo de extinção em todo o mundo, nunca houve momento mais importante para nos dedicarmos à protecção da biodiversidade. E mais, eventos recentes, de incêndios florestais no Brasil, Estados Unidos e Austrália, infestações por gafanhotos em África e agora uma pandemia global de doenças que demonstram a interdependência dos seres humanos e as redes de vida em que elas existem, como afirma a ONU.

A biodiversidade é cada vez mais valorizada e, no entanto, cada vez mais ameaçada!

Se 2020 é um ano de urgência, mais serão os próximos se não criarmos as oportunidades e acções para abordar a crise que enfrentam os nossos ecossitemas e consequentemente, o ser humano.

Deste modo, há que tomar acções eficazes e urgentes a fim de deter a perda da biodiversidade, de forma a garantir a resiliência dos ecossistemas e que continuem a fornecer serviços essenciais, garantindo assim a variedade de vida no planeta, e contribuindo para o bem-estar humano até á erradicação da pobreza.

Uma vez que o mundo vai avaliar o estado actual deste tema, renovando compromissos e implementando novas acções, durante a 15ª reunião da Conferência das partes (COP15) da Convenção sobre a Diversidade Biológica, em Kunming (China) (marcada para outubro embora em processo de reagendamento para 2021), e uma vez que se estabelece a Década das Nações Unidas para o Restauro dos Ecossistemas (2021-2030), uma iniciativa para ampliar a recuperação dos ecossistemas degradados e destruídos, como parte do combate à crise climática, como afirma a revista Wilder, não há melhor momento do que o agora para nos unirmos pelo planeta e pela nossa sobrevivência. Além disso, no primeiro semestre de 2021, Portugal terá a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, esperando que seja uma liderança sábia, refletida e com objectivos bem definidos.

 

“Defender e melhorar o meio ambiente para as actuais e futuras gerações tornou-se uma meta fundamental para a humanidade.”

Retirado da Declaração da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente (Estocolmo, 1972)

Tal como há 46 anos atrás, os maiores problemas já estão identificados, precisamos de soluções e que passam por todos nós agindo com grandes ou pequenos gestos que ajudam a preservar o meio ambiente, e assim podemos afirmar que já estamos a contribuir para que a Terra seja um melhor planeta para as futuras gerações. No entanto há algo de errado!! O discurso mantém-se hoje...

Deixemo-nos de teorias da conspiração, de comodismos, de virar a cara para o outro lado porque não é nada conosco e de desculpas por falta de coragem em confrontar os verdadeiros problemas!

Já chega de indiferença que causa danos irreversíveis e cujo nosso bem-estar e sobrevivência dependem! Necessitamos de uma mudança de consciência, um novo mindset individual e colectivo!

Se não sabem qual o primeiro passo, agir localmente é importante – existem diversas organizações, associações, entidades, etc, com uma consciência ambiental primordial em que todos podemos contribuir. Sejam mais activos e menos egoístas! Em vez de descrever uma série de accções possíveis, procurem saber que tipo de actividades estão a acontecer á vossa volta, que propostas de alternativas com vista à construção de uma agenda de compromisso local que possa contribuir para um concelho mais sustentável e mais resiliente face às alterações climáticas e aos impactos negativos das actividades humanas no meio ambiente, estejam a acontecer. De nada nos vale queixar sem agirmos!

Sozinhos não conseguimos salvar o planeta, mas é necessário mudar de paradigma – não podemos mais tentar dominar a Natureza e sim, percebê-la, trabalhar em função dela e encontrar soluções próximas dela. Apesar de todos os benefícios que a natureza nos oferece, ainda a maltratamos. É por isso que precisamos trabalhar nisso. É por isso que precisamos desta observância. Agora reflictam...

 

- 05 jun, 2020
- Celina Barroca