Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

"Os Novos Dias" com Daúto Faquirá Voltar

Fim de época atribulado                                                               

Uma época inteira ceifada, esventrada, adulterada da verdade desportiva por imperativos de saúde. Um campeonato para todos, carregado de expectativas, ilusões, mas chegando ao momento das grandes decisões - subidas, descidas - estas definiram-se na secretaria, deixando uns frustrados, outros eufóricos e a maior parte dos clubes sem saberem com que linhas se coser, mergulhados num mar de dúvidas, desconhecendo o futuro, pejado de incertezas. Para nós, Sporting da Covilhã – depois de Dezembro – e depois de uma entrada positiva - 6 jogos invictos – os últimos trouxeram-nos dificuldades reconhecidas e ultrapassáveis, mas que infelizmente não tivemos oportunidade de retificar. Gostávamos de terminar a época com uma imagem mais bonita, mas o desenlace repentino não permitiu que tal acontecesse. Compreendendo as razões por trás de tão drástica decisão, mas sentimo-nos na legitimidade de lamentar a decisão de findar a II Liga e deixar que a I Liga tenha o seu epílogo normal, dentro das quatro linhas (lugar onde se devem decidir as promoções, e descidas). Estes tempos novos trouxeram – nos problemas desconhecidos, para os quais não estávamos minimamente preparados. Abalo coletivo, alarme geral, estado de emergência social.

Drasticamente tivemos que fazer as malas e abalar – era o jogo do Mafra que iríamos realizar a porta fechada – recolhermo-nos nos nossos refúgios e parar de fazer aquilo que mais gostamos. Interrompemos os nossos hábitos, alterámos comportamentos e ajustar os ritmos biológicos dos jogadores a outros estímulos.

Toda a gente foi apanhada desprevenida, mas logo que percebemos que a paragem dos treinos iria ser longa, iniciámos um planeamento de treino para cada jogador, tendo em conta a especificidade da modalidade de Futebol, para que esse trabalho fosse de encontro à melhoria ou manutenção do rendimento, mesmo estando privado de trabalho com bola.

Esse trabalho foi diferenciado por dias, tendo em conta tipos de esforços que cada atleta necessitava para manter a performance para a competição. Para monitorizar o treino e a qualidade do trabalho individual, utilizámos três estratégias; vídeo da realização do treino pelo jogador, vídeo esse que serviu para avaliarmos se os gestos efetuados, iam de encontro com o objetivo do exercício e para a individualidade de cada jogador, usufruímos também de duas aplicações ativas, que serviam para controlo da carga interna de cada um e por fim por vídeos conferencias diárias, que serviam como formações diárias para os profissionais e foram de extrema importância para apoiar os jogadores a nível da manutenção e melhoria de hábitos de vida, ente outros aspetos.

A alimentação e a suplementação dos jogadores, representaram uma boa fatia na nossa monitorização, visto que nós somos o que comemos, apresentámos estratégias para que eles perdessem a menor massa magra possível e que os ganhos de massa gorda fossem muito reduzidos.

Tudo ruiu num ápice. O tempo que esperávamos ser breve, para rápido retorno aos treinos, estendeu - se, e perpetuou-se, para nosso infortúnio.

Hoje o cenário para a Segunda Liga, é o de um campeonato abortado, os dois clubes que estavam na cauda da tabela, desceram de divisão e os dois que à data do aparecimento do Vírus lideravam a classificação, ascenderam à Primeira Liga.

Qual o futuro imediato? Quando se iniciará a nova época? Quantos meses de paragem? Que impacto um período tão prolongado de inatividade, terá, não só na dimensão fisiológica, mas também na psico-emocional dos jogadores? Que futuro? Que medos nos perseguirão no futuro? Os tempos mudaram. Os ventos novos trazem novidades também no panorama económico-financeiro do futebol nacional. Como resistirão os Clubes ao grande arrombo que sofreram? Em relação ao Sporting Clube da Covilhã por ser um Clube estável e sólido acredito que o impacto será mitigado…

Acredito que sim. Novos tempos trarão consigo uma triagem entre os clubes cumpridores, os que fazem promessas realistas e aqueles que vendem sonhos e criam cenários desenquadrados com a verdade e navegam em incertezas contratuais, arrastando jogadores e famílias inteiras a viver em sobressaltos. Esta quimera cria uma competição muitas vezes sem verdade desportiva. Será assim ou tudo voltará ao que era dantes? Ninguém poderá dizer nada neste momento. Vamos esperar para ver o que os novos tempos nos reservam…

Não sei se o que o futuro nos reserva…caso continuemos no Covilhã, esperamos construir um plantel mais equilibrado e fazer um campeonato bonito e ambicioso, que traga mais adeptos ao Estádio Santos Pinto. Vamos aguardar e ver o que os novos tempos nos trazem.

- 31 mai, 2020
- Daúto Faquirá