Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Uma análise simples e clara sobre a evolução da CoViD-19 em Portugal Voltar

Segundo a Direção Geral da Saúde (DGS), o primeiro caso de CoViD-19 em Portugal foi confirmado dia 2 de março de 2020. Desde então têm surgido centenas de previsões sobre o número de casos infetados, número de mortos, número de pessoas internadas e internadas em Cuidados Intensivos (UCI), entre outros. Muitas têm sido as especulações acerca dos dados divulgados, que são, alegadamente, ocultados de todos nós e também as especulações sobre quando será o pico da pandemia. Aqui vou mostrar como se tem comportado esta pandemia no nosso país e fazer uma breve comparação com alguns países.

 

 

O número total de casos confirmados pela DGS tem, até à data (7 de abril), um registo de 12.442 pessoas infetadas. Desde dia 2 de março que não para de crescer. Mas como está a crescer? A Figura 1 mostra a evolução do aumento percentual de casos confirmados. Aparentemente existe uma tendência decrescente no aumento percentual de casos confirmados. A linha cinzenta apresenta claramente um declive de valor negativo. Apesar da média do aumento percentual ser de ≈22%, temos conseguido contribuir para a descida desse valor desde sensivelmente dia 25/26 de março. Reparem que antes o aumento percentual de casos estava acima da média atual e desde aí sempre abaixo. A média foi calculada apenas a partir de dia 13 de março uma vez que nos primeiros dias o aumento percentual é extremamente elevado e não faz sentido contabilizar esses números para a média. Imaginemos que nos três primeiros dias da pandemia tínhamos tido 3, 6 e 12 casos. Por dois dias consecutivos que o aumento percentual seria de 100% e iria influenciar a média induzindo-nos em erro.

 

 

Antes de tecer alguma conclusão acerca do número de pessoas infetadas (NPI), convém darmos uma vista de olhos ao número de novos casos por dia e à sua variação percentual diária. Para isso observemos a Figura 2. Pela imagem podemos verificar que no dia em que houve 1035 novos casos, houve um aumento percentual de cerca de 132%. No entanto, desde esse dia, a tendência parece ser decrescente, apesar da inconstante variação de novos casos.

 

Muito se tem relacionado o número total de casos confirmados e novos casos com o número de testes feitos e que então não podemos tirar conclusões acerca de um possível controlo da situação. O argumento por norma é sempre no mesmo sentido - as pessoas alegam que só temos este NPI confirmadas porque fazemos poucos testes relativamente ao resto dos países da UE. De acordo com o site https://www.worldometers.info, somos até à data (7 de abril, 17h13) o 26º no mundo que mais testes faz por milhão de habitantes. Estamos à frente de países como, por exemplo, a Dinamarca, Canadá, Espanha, Bélgica, Holanda, Estados Unidos da América e França. Houve inclusivamente dias em que se fizeram pelo menos o mesmo número de testes e o resultado do número de pessoas infetadas foi inferior ao dia anterior, que, seguindo a mesma linha de pensamento das pessoas com essas opiniões, sugere um decréscimo. Para além disso a evolução do número de pessoas internadas nas UCI e do número de mortos parecem suportar a ideia em que estamos a conseguir controlar o vírus. Mas já lá vamos. Então, relativamente ao NPI, mesmo admitindo que há mais pessoas infetadas do que o número confirmado (porque há!), também não posso deixar de verificar que as medidas de contenção estão a ter impacto.

 

 

Outro forte indicador de que as coisas parecem estar a ser controladas é o NPI nas UCI. A Figura 3 revela um claro atenuar no que a este número diz respeito. É percetível que, de 1 a 7 de abril, a curva do número de internados nas UCI começou a aproximar-se de uma linha horizontal contrariando o que se vinha sentindo entre 26 e 31 de março. O valor do aumento percentual deste número tem sido cada vez menor e extremamente baixo. Desde 2 de abril que este valor não ultrapassa ≈6%, tendo mesmo havido apenas mais 1 pessoa internada nas UCI relativamente a 6 de abril (270 e 271).

 

 

Na Figura 4, relativamente ao assunto que mais toca a todos, podemos ver que o número de “novos óbitos” por dia tem oscilado entre os 20 e os 30 mortos. Apenas em 2 dias houve mais que 30 mortos: 3 e 7 de abril com 37 e 34 mortos, respetivamente. Como o crescimento do número não tem tido grandes variações, então o aumento percentual, consequentemente, tem apresentado uma tendência decrescente, o que é também um excelente indicador e um sinal fantástico para todos nós. Pelo menos, na comparação com a Itália e Espanha a previsão é mais animadora, na minha modesta opinião.

 

 

Na Figura 5 podemos comparar a evolução no número de mortos (imagem de cima) e o número de mortos por milhão de habitantes (imagem de baixo) no mesmo dia do surto no respetivo país. Claramente não estamos a seguir a mesma linha aterrorizadora de Itália e Espanha. Vamos ver como nos comportamos daqui para a frente em relação à Alemanha.

 

Em jeito de conclusão, penso que estamos todos, no geral, a saber lidar com a situação. Penso que temos, até ao momento, razões para ter esperança que este inferno passe rápido. Contudo é importante (muito importante!) referir que qualquer deslize, relaxamento por parte de uma pequena comunidade ou foco pode desencadear uma “explosão” e vir a ser fatal no nosso sistema nacional de saúde. Este controlo e aumento de forma lenta tem permitido aos profissionais de saúde trabalharem com discernimento, controlo emocional e de forma racional. Quando as coisas são feitas desta forma é mais fácil obter bons resultados.

 

Despeço-me com um apelo a todos: ajudem os mais idosos que precisam muito de nós. Um forte abraço a todos os familiares das vítimas. Força a todos!

- 08 abr, 2020
- João P. S. Maurício de Carvalho