DEMOCRACIA DUAS SEMANAS DEPOIS
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1.
Não foi num país da África subsariana. Não foi em nenhum principado árabe. Não foi em nenhuma nacionalidade com queridos lideres, reis perpétuos, eleitos quase totalitários nos votos e um povo a tunir que se manifesta nas ruas. América. A grande América que quer sempre ser grande outra vez. A América primeiro.
2.
Eis que duas semanas depois, Trump, com a normal soturnidade, falta de princípios, narcisismo e arrogância - que nem tenta disfarças como à sua careca - comunica por escrito – dar a cara é próprio dos grandes e ele não é – que se devem começar os procedimentos para transição do poder.
3.
Aqui está um democrata que o não é. O povo falou mas ele não quis ouvir, agarrando-se à cadeira do poder usando todos os estratagemas que conseguiu. Primeiro o pedido de suspensão de contagens de votos antecipados nos estados que sabia determinantes para a sua derrota. Depois a negação dos resultados, a acusação de fraudes, os advogados que o dinheiro pode pagar, como aquele triste eis - mayor de New Yorq, com bafiento discurso pérfido a condizer com a tinta de cabelo que largou em suor, ou a imagem decadente perante uma entrevistadora que o seduziu para o ridicularizar em filme. Por fim, já servia qualquer manifestação de uns quantos americanos junto à casa Branca para Trump logo se achar presidente de novo outra vez. Foi preciso que as maiores entidades garantes da lei e da ordem afirmarem qual a sua função e que, não deviam fidelidade a um homem mas a uma nação.
4.
Duas semanas depois, a América continuou a morrer com os mais altos níveis de contaminação Covid e o seu maior cidadão entretinha-se com tacadas de golf.
Eis aqui a prova que no dinheiro não reside nada de especial a não ser tê-lo e poder usá-lo. Eis um ser podre de dinheiro. podre de poder, podre. Não tem carácter, moral, capacidade e o mínimo de escrúpulos. Ei-lo a sair pela porta pequena, sem país, sem família, numa idade em que deveria saber, que tudo o que tem, o deixará e que a porta de saída está já ali.
5.
Aqui pela nossa pátria, pela nossa cidade, este grande senhor teve sempre uns quantos seguidores, alguns com uma abertura e clareza quase pornográfica, outros com uma matreira argumentação que escondia o apoio ao homem mas não à politica por este seguida. A direita é assim…aprecia sempre sobremaneira um jactante capitalista.
DEIEM-ME MAIS UMA CHICOTADA QUE HOJE ACORDEI UM POUCO MOLE.
1.
Ventura, só enganou ignorantes, ou quem, por mazelas da vida miserável que foi vivendo, por alter-egos de G.I.JOE justiceiro, ou por odientos perfis de vingativo carácter contra tudo o que demonstre algum bem estar, se quis enganar.
2.
Ventura não presta. Não tem um sonho a não ser próprio. Não tem uma estratégia a nãos ser somar guerrilheiros. Não tem um projecto a não ser apoiar todas as medidas que circunstancialmente gerem revolta e com esta militância. Está preparado, para dizer a maior das barbaridades, colar-se a qualquer causa que mexa mesmo penalizando a própria luta justa de quem se manifesta, fazer o pino para agradar um palhaço de circo ou de vida real.
3.
Ventura pega no mais irracional e animalesco de cada um para o atiçar, o fazer-se sentir injustiçado, e o conduzir à guerra. Não há pois neste partido uma ideia de sociedade justa e democrática, não há uma moral de conduta, não há cuidado pela dignidade humana, não há respeito pelo direito, vê num pobre um agressor ao rico, um culpado da própria desgraça, vê num cigano um delinquente, uma espécie de ser não humano que portanto deveríamos de guardar em Guetos, quiçá em jaulas.
4.
Aí estão os da universidade da vida que repelem um livro com igual intensidade à que vomitam teorias nos facebooks, aí estão alguns agentes da autoridade – poucos mas maus - que se sobreelevam tanto em fardarem que gostariam de poder usar a 7 mm como nos filmes que os deleitam, e imaginam-se a gerar um mundo justo por si medido: este é bom, este é mau. Aí estão os de vida delinquente, mal amados, prontos a apaziguar os seus fantasmas de ódio lutando num mundo mais agressivo, onde prolifera a lei de talião, a subjugação a um grupo organizado, que não lhe garantindo melhor vida, faça sentir a todos que ninguém a terá.
5.
Depois restam os outros. Os desiludidos por um país que julgaram que os apoiaria enquanto cidadãos e os levava para o caminho de uma vida normal e digna; os que nada têm de bens e já nem a esperança lhes resta. Estes acham que já não têm nada a perder. Tanto faz.
6.
O chega, que promete acabar com a saúde publica, com o sistema social, com a justiça como a conhecemos, favorecer os ricos, e gerar milhões de pobres, tem esta particularidade sinistra, sádica: consegue captar votos dos que, pelas razões acima evocadas mais serão prejudicados se este partido vingasse.
É que ver um rico votar no chega compreende-se: ficará mais rico. Agora ver um pobre votar no chega é tão degradante como ver um judeu dar vivas a Hitler.
“ O chega recusa ser um Robin dos bosques que rouba aos ricos para dar aos pobres. Prefere fazer exatamente o oposto.”
João Silvestre in Expresso.
UM RIO DE AGUA FRIA
1.
Disse numa das minhas crónicas neste Jornal, que Rio era um dos estadistas que Portugal mantinha. Enganei-me; e de que maneira. O acordo com o chega só prova que Rio, afinal era um aparente homem de estado; um simulador dessa categoria. Não é, e – pior - usa amiúde a auto proclamada moralidade para fingir que se guia por princípios.
2.
Quando se torce assim o tronco, já não se vai ao sitio por muitas cambalhotas que dê. Ouvir Rio dizer que “só estou a servir de advogado do PSD açores” é caricato ou então cuida esta que consegue com isto o truque de iludir. Já a mim, apenas me ocorre que o PSD tinha razão: O diabo chegou e trouxe advogado consigo.
- 24 nov, 2020
- Pedro Leitão