Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Do desnecessário distanciamento social ao necessário distanciamento físico Voltar

Com o início da nova época desportiva têm-se levantado as maiores dúvidas relativamente ao recomeço das provas nos escalões de formação e à presença de público nas provas seniores. Na equação está o enorme risco de contágio decorrente do período que se aproxima e o galopante aumento do número de casos de contaminados e de mortos.

É um facto inegável que a prática desportiva em jogos que promovem o contato físico, assim como a presença massiva no interior ou junto a recintos desportivos acarreta enormes riscos. Mas quantos de nós não nos arriscamos diariamente? Em casa, na escola, no trabalho… a diferença está na responsabilidade com que os assumimos.

Passados cerca de 9 meses desde o fim dos campeonatos de formação, pensamos que é o momento apropriado para refletir se valerá a pena continuar a exigir o distanciamento social entre jovens através da proibição da prática de desportos coletivos. Na perspetiva dos jovens penso que não. O desporto desempenha um papel importante no desenvolvimento de valores como a cooperação, a partilha, o respeito ou na promoção de uma vida saudável. Quantas não foram as crianças que aprenderam a cuidar devidamente da sua higiene pessoal devido à intervenção / pressão dos seus treinadores e colegas de equipa? Quantos não elevaram a sua autoestima, autoconfiança e desenvolveram competências ao nível da liderança?

Do ponto de vista de algumas modalidades corremos o risco, com esta suspensão, de colocar em causa o trabalho de alguns técnicos e dirigentes. Nomes como Katia Castanheira (Covilhã), Esmeralda Tavares (Fundão), Cátia Castanheira (Covilhã), Ricardo Machado (Fundão), António Mata (Castelo Branco), António Silva (Covilhã) não podem ser recordados como heróis que lutaram estoicamente, em vão, pela sobrevivência de modalidades como o basquetebol ou o andebol como outros tantos já o fizeram em modalidades que agora somente fazem parte da memória coletiva da região, como é o caso do hóquei em patins.

Infelizmente, da forma em que o panorama desportivo se encontra, é para aí que caminhamos. Neste momento estamos a convidar os jovens a abdicar do prazer do jogo, da sociabilização e da amizade e, por conseguinte, estamos a pregar mais um prego no caixão de algumas modalidades. Ora tudo o que menos se deseja neste momento é o isolamento e a solidão, causas preditivas da depressão e do suicídio. Ao invés, o caminho que deveríamos seguir deveria ser o oposto, o da emulação e do convívio social, sempre com responsabilidade, com distanciamento físico...

Bem sabemos que este não um percurso fácil, embora seja possível… Isto foi demonstrado aquando da recente realização do Encontro Nacional do Árbitro Jovem realizado nas localidades da Covilhã e do Fundão. Para tal bastou que mais de uma centena de participantes, com a irreverência própria de quem tem entre 14 e os 17 anos, mantivesse a proximidade social, mantendo o distanciamento físico e cumprindo todas as regras de segurança.

 

- 20 out, 2020
- Sérgio Mendes