Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

A Voz das Bancadas: Miguel Mata, adepto do Sertanense Voltar

“Muitos dos jovens nem sequer vão ao Estádio, aparecendo apenas nos jogos grandes para a fotografia”

ADEPTO. Miguel Mata, adepto confesso e apaixonado pelo seu Sertanense, membro da claque Peste Negra, segue o clube sempre que pode e onde quer que seja, e falou sobre esta paixão e sobre o clube em entrevista ao Jornal Fórum Covilhã

Jornal Fórum Covilhã (JFC) - O Miguel é sem dúvida um dos adeptos mais apaixonados que vemos nas bancadas do Sertanense. De onde vem esta paixão pelo clube?

Miguel Mata (MM) - A minha paixão pelo clube, surgiu por intermédio do meu avô. Desde muito pequeno que ele me leva aos jogos, juntamente com o meu pai, e a paixão foi crescendo com o passar dos anos. Apesar de ter nascido em Lisboa, e ainda lá viver, tentávamos sempre vir à nossa terra, no fim de semana em que o Sertanense jogava em casa.

JFC - Qual o momento que mais o marcou até agora enquanto adepto do Sertanense?

MM - O momento que mais me marcou enquanto adepto, foi a deslocação ao Estádio do Dragão em 2009. Tinha 12 anos na altura, e os meus pais, não tinham disponibilidade para vir ao jogo. Um primo meu que vive na Sertã, ligou-me e disse para eu ir de camioneta, e eu como queria muito ir ao jogo, lá me aventurei.  Nunca tinha andando de camioneta, e então fui sozinho de Lisboa para a Sertã, na sexta-feira, para depois ir na excursão, com a família, ao sábado. O jogo de Penafiel em 2007 para a Taça, também me marcou muito, foi a maior deslocação de adeptos, tirando o jogo com o Porto, e mesmo sendo o Penafiel da divisão acima, conseguimos carimbar o passaporte, para os oitavos da Taça de Portugal.

JFC - Qual o jogador que passou no clube que mais admira e porquê? E o treinador?

MM - Como jogador tenho de referir dois. O Salgueiro que foi nosso capitão, durante muitos anos e era um líder no clube. E o Idris por ser um jogador, que joga na Primeira Liga, e por nunca ter esquecido, o clube que o lançou, vindo à Sertã algumas vezes. Como treinador, o mister Hugo Martins, pois salvou o clube de uma descida quase certa, vindo só a meio da época. Além disso na época passada, colocou o Sertanense a jogar o melhor futebol que já vi no clube. Não tenho dúvidas que, ficando até ao fim da época, seríamos sérios candidatos à subida e estaríamos no playoff certamente. Foi alguém, que se adaptou rapidamente à vila, gostava muito de viver cá, e convivia regularmente connosco (adeptos).

JFC - A que soube ver o Sertanense vencer o Farense para a Taça de Portugal com três jogadores a menos? É como vencer um campeonato num jogo só?

MM - Sim, foi sem dúvida o jogo da vida do nosso clube, e o dia mais importante da nossa história. Na verdade, jogámos com menos dois jogadores e chegámos ao empate, mas o 2-1 fizemos já com menos três jogadores em campo. Uma arbitragem vergonhosa, e só mesmo a união enorme, que havia entre jogadores, fez com que conseguíssemos eliminar, o na altura primeiro classificado da Segunda Liga, e chegar pela segunda vez na história aos oitavos da Taça. A união entre adeptos e equipa foi fundamental.

JFC - A Peste Negra acompanha o Sertanense para todo o lado, uma vez com mais uma vez com menos adeptos, mas estão sempre presentes. Como é ser claque de um clube do Campeonato de Portugal e ter de fazer deslocações constantes quase todas as semanas?

MM - É muito complicado, porque infelizmente somos poucos. Apesar de a vila ter muita gente jovem, falta muita mentalidade «ultra» por aqui, sendo que muitos dos jovens nem sequer vão aos jogos, aparecendo apenas nos jogos grandes para a fotografia, como se verificou o ano passado, contra o Benfica. Depois todas as deslocações que fazemos, as despesas são pagas do nosso próprio bolso, sendo que 90% dos elementos da claque ainda estudam e não é fácil ter dinheiro para tudo.

JFC - O Sertanense tem ou não capacidade para subir à Segunda Liga no futuro? É esse o sonho?

MM - Sinceramente não acredito que tenha. O Sertanense é um clube cumpridor, que nunca tem ordenados em atraso, por não se meter em loucuras, e não gastar mais do que aquilo que tem. Uma subida à Segunda Liga, iria originar um grande investimento, incluindo no estádio com obras e não sei até que ponto haveria retorno e condições para manter por lá. Mais vale com os pés assentes na terra, ir fazendo o nosso caminho, mas obviamente gostaria de ver o clube nos campeonatos profissionais.

- 04 ago, 2020
- Fernando Gil Teixeira