Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Descartável Voltar

Com as novas medidas de segurança causadas pela pandemia como o uso obrigatório de máscara (mesmo que só em sítios fechados), afeta a sustentabilidade diretamente, implicando que o ato de ser-se descartável seja quase que obrigatório, oscilando apenas entre a máscara descartável de utilização única e a máscara reutilizável, que eventualmente terá de ser descartada. Tanto uma como outra são soluções necessárias que acarretam problemas. Problemas como o gasto de recursos naturais na sua produção como a água, a poluição seja de emissões de gases, descargas poluindo rios ou outros tipos derivados da produção e o exemplo que quero destacar hoje que é o de descartar indevidamente, neste caso as máscaras.

Moda, como se pode verificar no dicionário, é algo mais abrangente e que vai além das peças de roupa. A palavra por si só, acarreta comportamentos sociais, culturais e políticos que fazem parte dela, pois é um fenómeno que marca um determinado espaço de tempo e não propriamente curto, por norma associado à década. Pois como moda está ligada intrinsecamente à forma de se viver e aos costumes e maneiras, eu acho crucial esta minha abordagem de alerta para com este comportamento de deitar fora irresponsavelmente. Não se deve tornar rotina ou tendência e nem sequer um simples modismo (algo tão passageiro que nem se pode chamar tendência ou uma moda), embora seja o que mais parece que está a acontecer. A quantidade crescente de notícias derivadas desta prática de descartar sem olhar e dos impactos ambientais é visível tanto a olho nu como a microscópico. Cientistas já demonstraram preocupação ao revelar que máscaras e luvas são constantemente encontradas nas margens e praias de sete rios europeus e nada garante se estas não chegaram já ao mar, como já deve ter acontecido. O polipropileno utilizado nas máscaras de utilização única é fino e desfaz-se rapidamente (o que já não acontece nas mascaras reutilizáveis) porém a enorme quantidade abandonada é um problema a acrescentar aos já anteriormente preocupantes níveis de microplásticos presentes nas águas.

Moda que é moda não é prender a máscara personalizada às bolinhas a uma árvore como adorno ou atirá-la da janela do carro. O tão querido passeio higiénico que todos ansiavam na usufruir durante a quarentena, era já então complementado com máscaras na berma da estrada e isto só se agravou. É comum, irracional e tem que acabar. Ilógico até, visto que nos estamos a proteger e abandonar irresponsavelmente pode ser uma fonte de contaminação. Com o aumento de contentores de lixo, deixa de haver desculpa e só prova que o desleixo, a má formação e fraco amor pelo próxima e pelo ambiente existe e reina. A mudança começa em nós, nas nossas escolhas e ações assim como no aconselhamento/alerta de quem nos é próximo, no mínimo. A mudança tem de ser feita agora, já não há tempo para amanhã.

Para acabar, queria relembrar que Black Lives Matter ainda existe, vai existir e é cada vez mais importante embora menos falado. Ainda no passado dia 25, o ator Bruno Candé foi assassinado num crime de ódio. O mundo é racista e Portugal faz parte dele. Esta é mais uma mudança para ser feita hoje e não amanhã!

 Tiago Matos, finalista em Design de Moda na Universidade da Beira Interior

- 04 ago, 2020
- Tiago Matos