Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

“No ano de 2020 vamos reduzir o passivo em 50%” Voltar

ENTREVISTA. Presidente da AAUBI, Ricardo Nora em entrevista ao Jornal Fórum Covilhã falou sobre a situação atual que marca o ensino superior e a UBI e os seus estudantes em particular, sobre os projetos atuais e futuros da associação e ainda sobre as suas reivindicações

Jornal Fórum Covilhã (JFC): Face às queixas que têm surgido dos estudantes internacionais pela descida das propinas apenas para alunos nacionais, qual é a posição da AAUBI nesta matéria?

Ricardo Nora (RN): A AAUBI, já no dia 24 de março, no Dia Nacional do Estudante, lançou uma série de iniciativas e posições, entre elas o ser favor da existência de uma redução da propina face à pandemia que vivemos e às competências e conhecimentos que não estão a ser adquiridos da mesma forma (e veio-se a comprovar que os conhecimentos não foram de facto adquiridos da mesma forma no ensino online do  que seriam no ensino-aprendizagem), uma resposta em tempo útil e até muito rápida que a AAUBI tomou. Os estudantes mereciam já nessa altura uma redução na propina porque não estavam a pagar para o que tinha sido inicialmente previsto, e porque os rendimentos das famílias e dos próprios estudantes diminuíram. Relativamente a esta descida, a UBI reforçou em demasia a redução do valor da propina, quando o que acontece é que esta redução da propina do estudante nacional é algo que vai acontecer em todas as instituições do país por imposição do governo, que vai dar às universidades o diferencial dessa redução e a UBI não sai prejudicada por este valor. Relativamente aos estudantes internacionais e à descida generalizada das propinas nós somos a favor, mas não podemos entrar num subfinanciamento crónico que a instituição até já tem neste momento. Se baixamos o valor da propina internacional de onde vem esse diferencial? O que nós defendemos é uma diferenciação do valor conforme as áreas de estudo, o que já acontece noutras instituições e noutros ciclos de estudo da própria UBI. Um estudante das ciências sociais e humanas não tem de pagar o mesmo de que um aluno de saúde. A solução que defendemos é criar uma diferenciação por áreas, até porque nos parece que a universidade não tem uma regra uniforme nestes casos, devendo aplicar a diferenciação a todos os ciclos de estudos, para além de baixar as propinas dos mestrados que continua nos 1037 euros, uma diferença muito grande relativamente aos 697 do mestrado integrado.

 

JFC: Relativamente à hipótese ainda em aberto do próximo ano letivo ser presencial ou online, qual é o vosso entendimento neste momento?

RN: Neste momento na UBI já devíamos estar a planear vários cenários para o próximo ano letivo, porque ainda não sabemos como estará tudo daqui a dois meses, falta-nos preparação para isso. Neste momento, o ministro desta área fala no ensino presencial como solução mais provável, mas levantam-se vários desafios. Não podemos dizer que daqui a dois meses vamos ter aqui os oito mil estudantes à vontade com 900 camas de alojamento disponíveis, quando as diretrizes podem referir que numa residência, num quarto onde estejam três pessoas pode passar a poder estar apenas uma, e passamos a ter apenas 300 camas disponíveis. Há serviços de ação social de outras universidades que já falam nisto e já estão a arranjar soluções. Temos uma sobrelotação tanto em alojamentos e em salas de aula, para além da falta de docência, e com regras mais apertadas podemos não ter capacidade de resposta para as novas necessidades. Devíamos também discutir já se todas as unidades curriculares têm de decorrer presencialmente ou não, se é necessário. Fomos apanhados de surpresa este ano, mas não temos de o ser no próximo. Os estudantes nesta fase estão à procura de casa por norma, praticamente cinco mil estudantes que vêm de fora e precisam de casa e neste momento não sabem em que mês voltam nem como voltam. O que for decidido agora para o ensino superior é o que vai ditar o funcionamento futuro do país. Só na nossa região são oito mil estudantes que não vão ficar em casa se voltarem para cá, é estar a dizer que já voltámos praticamente ao normal. Têm de se tomar decisões, erradas ou certas, mas têm de se tomar decisões.

 

JFC: Relativamente ao «Movimento Académicas» e à participação da UBI nele, quais é que são os seus objetivos e o seu âmbito de ação?

RN: O Movimento Académica tem sete associações académicas envolvidas, incluindo a UBI e surgiu para ajudar o próprio governo e o ministério a passar das recomendações que têm sido dadas a decisões efetivas que são urgentes e necessárias para esta nova realidade. Queremos ajudar e temos feito sessões relativamente às novas problemáticas que surgiram e que precisam de respostas rápidas. Já tivemos duas sessões de discussão, uma sobre o ensino-aprendizagem e o ensino online e a respetiva avaliação e outra sobre ação social e financiamento, onde contámos com a presença da vice-reitora da Universidade de Coimbra responsável por este dossier, Cristina Albuquerque, assim como o vice-reitor da UBI, João Canavilhas, e ainda teremos mais algumas depois, para conseguirmos ter uma série de conclusões e podermos entrega-las ao primeiro-ministro e ao Presidente da República, para além dos partidos com assento parlamentar, com os quais já temos encontros marcados. Além disso vamos ter uma reunião parlamentar com os reitores destas sete universidades para lhes podermos apresentar também estes resultados e conclusões a que chegarmos e para sabermos o que está afinal a ser preparado efetivamente para o próximo ano letivo. Temos tido muitos contributos positivos e um bom feedback do que já foi realizado e certamente vai continuar com outras atividades e pelo menos até esta pandemia passar vai ser preciso continuar a agir de forma concertada entre todas estas associações académicas. E mesmo depois de a mesma passar, este é certamente um movimento para continuar e para continuar a manter os estudantes como parte ativa do futuro do ensino superior

 

JFC: Na fase de pandemia muitos foram os estudantes que não conseguiram regressar a casa e que passaram dificuldades e necessitaram de ajuda. Qual foi o papel da AAUBI nesse processo de auxílio?

RN: Muitos casos chegam diretamente aos serviços de ação social ou ao provedor e nós apenas com muito contacto direto chegámos a esses estudantes. Aconselhamos e continuamos a aconselhar que sempre que surgem esses problemas venham ter connosco porque nós queremos ajudar nesses casos, seja por falta de equipamentos, seja por ajuda financeira ou até mesmo por problemas que surgiram neste novo modelo de ensino. Trabalhámos junto da UBI e sugerimos à universidade a criação de um fundo social de emergência para responder a estas situação. A UBI reforçou o fundo de ação social que já tinha em 50 mil euros e que serviu para ajudar com bolsas os estudantes que tiveram diminuição de rendimentos eles próprios ou as suas famílias. Além disso foram cedidos vários computadores, câmaras e internet móvel a quem não tinha como aceder a esses equipamentos. As ajudas alimentares foram feitas caso a caso conforme foram aparecendo e deram-nos muito trabalho mas foram feitas com muito sucesso e conseguimos dar resposta ao que nos surgiu. Convém referir que a UBI no pico da pandemia tinha cerca de 330 estudantes nas residências que não voltaram para casa, éramos uma das instituições com um número maior de alunos nesta situação. Sempre que algum estudante tiver algum problema de qualquer tipo pode falar connosco porque já estamos habituados a resolvê-los, e podemos conseguir respostas mais rápidas.

 

JFC: A Semana Académica não aconteceu, assim como a Bênção das Pastas. Quais foram os efeitos desta situação que cancelou/adiou estes eventos tão em cima hora e quais são os planos para eles no futuro próximo?

RN: Estávamos a cerca de dez dias da realização da Semana Académica quando a pandemia chegou a Portugal e até já tínhamos bilhetes vendidos, que tiveram de ser reembolsados. Não fazer uma Semana Académica é sempre mau até para o estudante porque é para muitos um momento de despedida da universidade e da Covilhã da forma calorosa como estávamos habituados. Esperámos até onde foi possível para avaliar o evoluir da situação, mas a sua realização deixou mesmo de ser possível. Em termos de prejuízos, nós atempadamente preparámos e precavemo-nos, pelo que não existiu um grande prejuízo financeiro, tirando a não existência dos lucros que esperávamos conseguir com a reestruturação que tínhamos feito do evento. Aproveitámos para fazer outras coisas na estrutura que andávamos a adiar por falta de tempo e nas quais nos focámos agora. Relativamente à bênção, fizemos uma serenata online para despedida dos finalistas onde tivemos três mil pessoas a ver-nos. Não é a mesma coisa, mas era o possível. Previmos fazê-la em Setembro ou Outubro, mas atualmente não parece ser possível isso acontecer. Estamos a virar-nos mais para a recepção ao caloiro para ver em que moldes pode acontecer. Mas deixamos já certo que se não acontecer presencialmente, vamos encontrar alguma forma de o fazer online e de marcarmos essa fase. Não podemos deixar os piores cenários pelo caminho porque podem ser reais e a pandemia é muito volátil. Há a possibilidade de puxar alguns destes eventos para o segundo semestre se for necessário, nomeadamente até a latada vir a ser na semana académica por exemplo.

 

JFC: E relativamente à atual situação financeira da AAUBI  e aos seus projetos para o futuro, o que nos podes desde já adiantar?

RN: O mais importante era reestruturar a casa, e já posso anunciar que em 2020 já teremos cerca de 50% do passivo abatido só neste ano. É algo muito bom e que dá credibilidade à AAUBI perante os próprios fornecedores. Os fornecedores locais estão praticamente todos liquidados, porque foi algo que privilegiámos. Isto dá-nos uma estabilidade financeira que nos permite apostar noutros projetos e dá outra credibilidade para receber eventos nacionais e internacionais, como até já vinha acontecendo. Estamos a analisar muito bem ainda quais os eventos que serão presenciais ou não. Por exemplo a Feira de Emprego que já vínhamos realizando, já decidimos que vai ser de 6 a 9 de Novembro e vai ser online. Temos preparado muitos eventos online e até ser possível abrirmos vamos continuar a fazê-lo. Assim que seja possível queremos é que os nossos estudantes voltem a estar juntos e que os possamos receber, sendo que até lá vamos continuar a realizar este tipo de eventos para manter os laços criados.

 

JFC: A AAUBI quer certamente também que os estudantes permaneçam na região depois de terminados os estudos. De que forma é possível contribuir para isso?

RN: A nossa Feira de Emprego recebeu um prémio de boas práticas associativas atribuído pelo IPDJ no ano passado, ou seja já há algum reconhecimento a nível nacional do que vimos a fazer nesse âmbito. Temos essa preocupação. Trabalhando tanto para a região e para a cidade, queremos é que os estudantes fiquem cá, já que se formam cá. Que deixem o seu contributo para a região seja através de trabalho seja através de continuarem os seus estudos nos ciclos seguintes na Covilhã. Muitas das nossas empresas parceiras têm empregado muitos estudantes da UBI e nós temos feito essa ponte e é muito positivo ver isso resultar e felizmente temos tido resultados positivos dessa ligação que vimos fazendo entre empresas e estudantes.

 

JFC: Para terminar e num futuro próximo, quais são os planos para o Ricardo Nora enquanto presidente da AAUBI?

RN: Até há pouco tempo os estatutos da UBI não permitiam que o presidente da AAUBI se candidatasse ao Conselho Geral, algo que com as novas alterações já pode acontecer e portanto posso adiantar já que eu vou naturalmente avançar com uma lista e que vamos promover uma série de discussões, inclusivamente com os três candidatos já apresentados. Em princípio as eleições vão decorrer na mesma altura, vamos ver em que moldes mediante o evoluir da situação. Esta candidatura deve-se a querer que a AAUBI tenha um papel mais preponderante nas decisões em prole dos seus estudantes, já que acabamos por ser quem mais conhecimento tem sobre os problemas dos estudantes, daí querermos essa representação no Conselho Geral.

- 07 jul, 2020
- Fernando Gil Teixeira