Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

A Covilhã nas comemorações do centenário Voltar

 

“O centenário de uma cidade não é um ponto de chegada, mas de partida para outras metas”.

            Vicente Borges Terenas, Presidente da C.M. Covilhã, 11/07/1970

 

Há 50 anos, em 1970, comemorava-se o centenário da elevação da Covilhã à categoria de cidade e porque cem anos são cem anos… a data foi celebrada com tudo aquilo a que tinha direito.

As comemorações iniciaram-se na simbólica data de 21 de março. Nesse dia a Covilhã recebeu a visita do Secretário de Estado da Informação e Turismo, Dr. César Moreira Baptista que veio presidir ao colóquio “Turismo da Serra da Estrela”.

Desde logo se deixa adivinhar que as comemorações extravasariam a efemeridade de uma data, deixando sementes para um futuro que a partir desse momento se começava a planear. No colóquio foram oradores o Dr. Carlos Coelho, então presidente da Comissão Regional de Turismo da Serra da Estrela, e o Dr. José Nunes Barata.

A segunda iniciativa constante do programa teve lugar entre os dias 23 e 26 de março e visava tornar a Covilhã na capital portuguesa da música, foi o concurso nacional de piano “Cidade Covilhã”. A comissão executiva que levou esta iniciativa a bom porto foi constituída pelos maestros Campos Costa, Mateus Ramos, Pinto Rojão e António Quintela, para o júri foram convidados alguns dos maiores nomes da música em Portugal, sendo seu presidente João Freitas Branco. Escusado será dizer que esta iniciativa foi um êxito, a atestá-lo está a sua realização nos anos seguintes.

Não foi, aliás, esta a única atividade que se veio repetir no futuro, o mesmo aconteceu com a “Rampa da Torre – Rali do Centenário”. Esta última iniciativa do desporto automóvel foi organizada pelo Automóvel Clube de Portugal e a sua realização chegou até aos nossos dias.

Coincidindo com a tradicional Feira de Santiago, realizou-se a FAEC, Feira de Actividades Económicas da Covilhã. Para o efeito foram edificados 4 stands com uma área coberta de 2300m2, destinados a albergar os pavilhões das Atividades Económicas, da Indústria de Lanifícios e das Actividades Municipais. Várias empresas como a Bayer, Sonap, Banco Borges & Irmão, F. Ramada e B.P. construíram pavilhões próprios que, juntamente com as tendas ambulantes, preencheram o espaço que era destinado ao evento, na zona baixa da cidade. Teve especial destaque o stand da Beralt, Tim & Wolfram lda. consistindo num túnel subterrâneo com 1000m2. Durante o período da feira, 11 a 30 de julho, decorreram outras atividades paralelas que mobilizaram milhares de pessoas. Foi o caso do Cortejo do Trabalho, com inúmeros carros alegóricos realizado a 18 de julho e do Festival Internacional de Folclore no dia 26. No dia 24 realizou-se ainda uma passagem de modelos na sede da Gitlã, que mostrou os ditames da moda para o outono-inverno de 70-71. Esta teve a presença da modelo Ana Maria Lucas, então recentemente eleita Miss Portugal. A feira foi comissariada por Jorge Craveiro e Luís Antunes.

 A maior parte das iniciativas culturais estiveram a cargo de Luís Carvalho Dias, um dos maiores investigadores da história local. Este planeou duas exposições de carácter histórico: uma bibliográfica, outra documental. Na primeira tiveram lugar obras de autores covilhanenses, onde se deu especial destaque a Frei Heitor Pinto. Estiveram ainda aí expostos cerca de cem títulos de jornais publicados na Covilhã. Na exposição documental reuniram-se alguns documentos sobre a Covilhã, como por exemplo, documentos relativos a Misericórdia. Estiveram ainda patentes ao público, uma exposição com obras do artista plástico Eduardo Malta e outra de filatelia dinamizada por Humberto Correia Mourão.

Também a fundação Calouste Gulbenkian se associou às comemorações proporcionando um espetáculo de bailado e apoiando a execução do Festival de Teatro Amador.

Organizaram-se várias conferências de cariz histórico, como “Os Jesuítas e a Covilhã” proferida pelo Pe. António Fazenda; “Hipólito Raposo” proferida pelo Professor Doutor Borges de Macedo ou “D. Rodrigo de Castro, Poeta do Cancioneiro Geral” proferida pelo Dr. Pedro de Sousa Leite.

O ponto alto das comemorações, como não podia ser de outra forma, teve lugar no dia 20 de outubro. Nesse dia a cidade recebeu a visita do Chefe de Estado, Américo Tomás e do bispo da Guarda, D. Policarpo da Costa Vaz.

A visita de Américo Tomás teve o seu primeiro momento, como aliás era recorrente, no Souto Alto, onde recebeu os cumprimentos da Câmara através do seu presidente, Eng. Borges Terenas. Dirigiu-se depois à cidade pela Avenida Salazar (hoje 25 de Abril) até ao largo de S. João de Malta, onde passou para um carro aberto.

Foi recebido pelas entidades oficiais no largo 5 de Outubro e daí deslocou-se aos Paços do Concelho, onde teve lugar a sessão solene e onde recebeu a medalha de ouro das comemorações. Seguiu-se um almoço na casa da serra, dos Condes da Covilhã. Após o almoço, Américo Tomás inaugurou o Liceu Nacional Heitor Pinto e a subestação eléctrica da Várzea. Seguiu-se um solene Te Deum cantado na Igreja de Santa Maria e, à noite, a ópera Fausto.

Muitos outros aspectos dignos de nota havia para referir nestas escassas linhas, caso das exposições fotográficas, da emissão de medalhas e selos comemorativos, ou dos documentários cinematográficos. Fica, porém, demonstrado que os covilhanenses foram capazes, durante as comemorações do centenário, de executar o que é solicitado nestas ocasiões – reviver o passado e planear o futuro.

 

Carlos Madaleno

 

- 02 jun, 2020
- Carlos Madaleno