Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

A RELEVÂNCIA DA GEOECONOMIA Voltar

A geoeconomia está cada vez mais a ganhar posição à geopolítica. Existe uma visão instalada deste desígnio levando os estados a despertar para esta perceção, apesar de ainda estarmos presos a ideias antigas.

É notória a mudança da política internacional de poder, deixa de existir o mundo composto por dois blocos isolados, e surgem vários atores económicos nas redes globais que obtém posição e exercem poder na dependência económica, o mundo mostra sinais de mudança a este nível.

O termo não é recente, mas ultimamente a chamada geoeconomia ficou claramente mais forte às custas da geopolítica, embora não exatamente como se imaginava. Podemos ver mais recentemente formas de exerce políticas de poder através da economia, são conhecidas as sanções ocidentais contra o Irão e a Rússia, onde a pressão exercida assenta nos meios económicos envolvidos e com isso os estados exercem poder. Fica bem visível nas leituras realizadas que os meios militares deixaram de ser os mais relevantes nas disputas entre estados. A mudança na política de poder é envolta pelo termo geoeconomia, que entendemos como uma abordagem analítica e, ao mesmo tempo, uma prática de política externa.

A geoeconomia poderá ser entendida como uma forma de utilizar meios, para fins estratégicos, em oposição à geopolítica, onde se marca áreas e exerce poder com meios militares. Ao longo dos anos desenvolveu-se uma ideia em que as relações comerciais recíprocas projetavam subordinações e cauções mútuas de estabilidade social, exemplo disso o projeto de paz da UE que realmente não aconteceu. Foi um pouco de pensamento idealista.

Existem exemplos claros e objetivos destas estratégias geoeconómicas para conexão, exemplificando, a China através do caminho da seda, foi desenvolvendo infraestruturas (Ásia Central, África) para consolidação da sua estratégia geoeconómica, onde existem atores locais que desenvolvem uma atividade de pressão a grupos, cujo objetivo é interferir nas suas decisões para convergência nas estratégias desse País, neste caso da China.

 

Outra potência mundial a Rússia usa a política energética para quebrar uma barreira no bloco da União Europeia, pese embora a Guerra da Crimeia e a Guerra da Ucrânia tenham causado na União Europeia a imposição de sanções à Rússia, sendo que alguns Países da União Europeia não concordam com a forma como são exercidas essas mesmas sanções. Esta forma, diria dividida como o problema é debatido torna a Rússia mais forte.

Outro exemplo desta exerção de poder económico vem dos Estados Unidos da América, onde o presidente Donald Trump apregoa que aqueles que não aceitam a política desenvolvida pelo Estados Unidos da América em Jerusalém irá sofrer economicamente, pois irá obter piores condições nos acordos comerciais.

Neste caminho ascensional da geoeconomia, não podemos dizer que a geopolítica tenha desaparecido, os poderes militares estão disponíveis e podem ser usados, até mesmo em complementaridade aos económicos. A conjugação de ambos pode ser vista como junção de forças. Importa relevar que nem sempre funcionam. Exemplo disto é o caso da Rússia contra a Ucrânia, onde o instrumento elétrico (política energética) foi fragilizado pelo uso de instrumentos geopolíticos. A Europa percebeu a ascensão da Rússia e a geoestratégia de intromissão em espaço europeu e desenvolveu ações de vigilância.

A nível mundial cada vez mais será exercido o poder geoeconómico, as políticas de sanções e as ameaças da guerra comercial têm consequências para a economia mundial liberal. Vamos assistir de forma reiterada a acordos comerciais internacionais e regionais, em vez de o comércio mundial seguir as regras comuns sob instituições globais. A título de exemplo se a Europa optar por desenvolver sanções atrás de sanções à Rússia na vertente bancaria, poderão os Russos juntar-se à China para desenvolvimento de sistemas bancários.

Os Países ditos pequenos, olham cada vez mais para a geoeconomia como o motor de projeção, pois é relevante para eles criar parcerias e possuir parceiros com poderio comercial, a fim de conseguirem entrar nas rotas de comercio de importação e exportação, evitando o risco de bloqueios e de rotas comerciais fechadas. Torna-se importante que os estados não sejam muito dependentes da Rússia na questão energética e evitem desenvolver relações comerciais unilaterais.

A grande maioria dos Países está a despertar para esta conclusão, embora por um lado ainda se pense em termos de geopolítica e poder militar e, por outro, que a economia e o comércio são bons, dando relevo as relações comerciais que também podem e devem ser utilizadas para interesses estratégicos. É notório que a visão assenta no intuito de usar o poder económico para fins estratégicos.

Em suma, para o mundo é melhor que o jogo do poder político global seja orientado por meios económicos que militares, pois torna a luta pelo poder menos agressiva e arriscada. Em outra visão do assunto, o mundo irá sofrer um revés para a livre concorrência, fazendo com que a economia fique mais deficitária. Se os estados fizerem uso a longo prazo do poder geoeconómico, onde privilegiem a utilização de sanções, inibições ou proibições é claro que a geopolítica e os meios militares podem voltar.

 

- 02 jun, 2020
- André Morais