Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Covid-19 no futebol Voltar

Confesso que não tenho acompanhado a evolução da pandemia nos últimos dias da mesma forma que acompanhei quando atingiu os primeiros países da Europa. Apesar da relativa vantagem por termos tido mais tempo e mais informação sobre o impacto deste vírus noutros países, é inegável que se avizinha uma crise profunda falando-se já de uma recessão igual (pior?!) que a de 2008. A grande diferença desta recessão para a anterior é que agora estamos no mesmo barco que os restantes países da União Europeia e isso pode e deve fazer com que de facto se verifique uma europa unida e solidária. A acontecer, o desporto (e mais concretamente o futebol) será confrontado também com vários desafios.

Diz-se que nos momentos de crise surgem as oportunidades. Quais serão as reais mudanças que vão surgir no desporto? E no futebol? Haverá algum interesse em mudar profundamente o desporto após a pandemia? O que urge mudar?

Nos últimos tempos ficou claro que quem toma decisões no futebol profissional adiou até ser possível a suspensão das competições desportivas. Motivos? Questões económicas e financeiras e o imbróglio que seria não terminarem as competições. Para segundo plano ficou a saúde dos intervenientes diretos e indiretos.

Realizaram-se jogos de Liga dos Campeões (sabe-se que o jogo da Liga dos Campeões Atalanta – Valência potenciou a propagação do vírus e resultou nos números dramáticos que assistimos recentemente). Vimos clubes a quererem regressar aos treinos em pleno estado de emergência. Está também em cima da mesa a hipótese de se terminar o campeonato com jogos á porta fechada em Maio e já há clubes profissionais em lay-off.

Nenhuma decisão será consensual mas quando se coloca o dinheiro e a saúde na mesma balança o que pesa mais para quem decide? Quem vai avaliar os riscos de um regresso prematuro são os mesmos que autorizaram os jogos em Itália?

É inegável que o futebol sofrerá uma restruturação, e certamente, como em qualquer crise, muitas resistências serão desencadeadas. A decisão de como deve terminar esta época é uma tarefa árdua e nunca será consensual. E é imperativo decidir o que fazer. No entanto, mais importante do que propor a anulação dos campeonatos sem subidas nem descidas, ajustes nos quadros competitivos ou prolongar o campeonato para a próxima época, devemos questionar que futebol teremos e que futebol queremos num futuro próximo.

O futebol é das pessoas e deve ser promovido para as pessoas. A saúde é o nosso bem mais precioso. Fique em casa.  

- 08 abr, 2020
- Vasco Guerra