(Des)informação alimentar em tempos de pandemia
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Atualmente todos os temas estão em torno da pandemia covid-19 e a alimentação não é exceção.
O tempo livre aliado às pesquisas no Dr. Google (internet) por milagres para escapar a esta doença são o desafio dos profissionais de saúde que se fundamentam pela evidência científica.
O coronavírus (SARS-CoV2) é um vírus novo e por isso é de salientar que ainda não existe total certeza em vários assuntos.
Ocorre transmissão do vírus através dos alimentos?
A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) referem que, até à data, não existe evidência de qualquer tipo de contaminação através do consumo de alimentos cozinhados ou crus.
O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) indica que apesar de se suspeitar que o coronavírus é de origem animal, a sua transmissão ocorre entre pessoas por contacto próximo com pessoas infetadas pelo vírus, ou objetos ou superfícies contaminadas.
Assim, é fundamental manter e reforçar as boas práticas de higiene e segurança alimentar desde a manipulação à preparação e confeção dos alimentos.
- Lavar as mãos depois de arrumar as compras;
- Higienizar todas as áreas (mesa, bancada...) e utensílios antes de preparar as refeições;
- Lavar várias vezes aos mãos durante a preparação e confeção dos alimentos;
- Lavar muito bem os alimentos crus em água corrente;
- Evitar o contacto entre alimentos crus e cozinhados, de forma a evitar a contaminação cruzada;
- Não partilhar, entre pessoas, comida e objetos durante a preparação, confeção e consumo dos alimentos;
- E, não esquecer as medidas de etiqueta respiratória.
Há um superalimento milagroso? É melhor tomar suplementos?
A preocupação em obter informação sobre “terapêuticas milagrosas” em torno da alimentação, desde o alimento x ao suplemento alimentar y, é evidente.
Reforço que (até hoje) existe pouca evidência científica sobre a relação entre a covid-19 e a alimentação. Por isso, não acredite em alimentos específicos ou suplementos alimentares que possam prevenir ou tratar esta doença. Lembre-se, as medidas mais importantes para prevenir a propagação do novo coronavírus são: lavagem das mãos, medidas de etiqueta respiratória e isolamento social - “fique em casa”.
Porém, sabe-se que um bom funcionamento do sistema imunitário e uma melhor recuperação dos indivíduos infetados dependem de um estado nutricional e hidratação adequados. Para tal é necessária a prática de uma alimentação saudável, seguindo as recomendações da Roda dos Alimentos, sem necessidade de suplementos alimentares.
E as mezinhas milagrosas? Pois é, todos temos um familiar ou amigo com receitas de misturas caseiras de ervas e plantas “incríveis”, alho, gengibre, chás, álcool e afins... Esqueça. Não vale a pena!
E vitamina D?
A vitamina D pode ser obtida em alguns alimentos, mas a melhor fonte de produção é através da exposição solar. Com a chegada da primavera seria expetável que os níveis de vitamina D subissem ao haver uma maior exposição solar. No entanto, a pandemia covid-19 obriga-nos ao confinamento em casa e consequente menor exposição solar.
Existem alguns grupos, especialmente adultos e idosos com patologia óssea, que têm necessidades acrescidas desta vitamina e provavelmente necessitar de suplementação sob recomendação de um profissional de saúde.
Na geral e com o objetivo de minimizar o défice de vitamina D, apanhe sol na janela, na varanda, na horta ou no jardim (15 a 20 minutos nas horas de maior exposição solar é suficiente), apanhe ar puro e diminua a sensação de enclausuramento.
Perder peso para corpo esbelto de verão...
Provavelmente o erro mais frequente que a maioria das pessoas faz entre os meses março a junho. Necessidade abrupta e pouco duradoura de emagrecer para ter um corpo (quase) perfeito durante o verão.
Nesta fase atual em que vivemos não deve dar prioridade a perdas de peso rápidas através de dietas milagrosas que possam comprometer o estado nutricional e a saúde.
Se está num processo de emagrecimento supervisionado mantenha as indicações que o seu Nutricionista lhe indicou. Se conseguir manter o peso já é muito bom – esse é o grande desafio!
A necessidade de isolamento para evitar a propagação do vírus pode condicionar diminuição do gasto energético pelo sedentarismo ou menor atividade física diária e, o aumento da ingestão calórica através do consumo descontrolado de produtos alimentares hipercalóricos, ricos em açúcar, gorduras e sal (bolos, bolachas, chocolates, aperitivos, refrigerantes...).
O que fazer?
Criar rotinas de atividade física em casa para minimizar o sedentarismo: subir e descer escadas, vídeos de exercícios na internet, jardinagem e tarefas domésticas.
Evitar comprar biscoitos, bolachas, bolos, batatas fritas de pacote, rebuçados, frutos gordos fritos ou salgados (como amendoins), chocolates e outras coisas boas só em sabor. Para petiscar prefira fruta, iogurtes magros, gelatinas light, palitos de cenoura, tremoços (lave-os para retirar o excesso de sal), pipocas sem gordura..., mas tudo em q.b.
Pânico de arroz, massas, batatas e pão? Estes são os principais alimentos fornecedores de energia e, de facto, se estamos em casa e gastamos menos energia também não precisamos de abusar na quantidade deles no prato. Contudo, o mais importante é a quantidade de gordura que lhes adiciona. Evite os fritos e a maionese, reduza os molhos, a manteiga, os enchidos e o azeite (sim, mesmo o caseiro!).
As necessidades hídricas mantêm-se (1,5 a 2 litros diariamente). Infusões, chás e águas aromatizadas são boas alternativas à água. Evite refrigerantes, bebidas açucaradas e álcool.
Com mais ou menos um quilo a prioridade é terminar esta quarentena ileso, com saúde.
Fontes:
www.ordemdosnutricionistas.pt
www.dgs.pt
www.who.int
www.efsa.europa.eu
www.ecdc.europa.eu
Tatiana Fernandes
Nutricionista, CP 2458N
- 08 abr, 2020
- Tatiana Fernandes